Topo

Thiago Herdy

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Por razões de saúde e pouco entusiasmo com Doria, FHC se afasta das prévias

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se manteve afastado das prévias tucanas - Carine Wallauer/UOL
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se manteve afastado das prévias tucanas Imagem: Carine Wallauer/UOL

Colunista do UOL

21/11/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Presidente de honra do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou há três meses voto no governador de São Paulo, João Doria (PSDB), nas prévias para escolha do candidato do partido à Presidência da República no ano que vem. Mas, depois disso saiu de cena e optou por distanciar-se do debate interno do partido.

Nas conversas com seus interlocutores mais frequentes, o tucano demonstrou pouco entusiasmo com Doria e repetiu não ter certeza se o partido deverá lançar candidatura própria, em lugar de unir-se a outras forças que venham a se opor ao bolsonarismo e ao petismo.

Aos 90 anos e imunizado com as doses da vacina anti-covid-19, Fernando Henrique encarou recentemente uma internação hospitalar por conta de uma infecção do vírus da herpes, o que também debilitou sua saúde e o afastou ainda mais das prévias.

O tucano é um dos 44,7 mil cadastrados para votar mas deverá exercer o direito de casa - ele vota por aplicativo no telefone celular.

Até a manhã deste domingo, sua decisão era a de não viajar a Brasília, cidade onde estarão reunidos os principais dirigentes do PSDB. Ele deve se manifestar por meio das redes sociais sobre o resultado da disputa.

'Beija-mão' em Higienópolis

No fim de agosto, João Doria visitou Fernando Henrique em seu apartamento em Higienópolis, na central da capital.

Levou pra casa um presente: uma gravação em vídeo em que o ex-presidente afirma que apesar de faltarem três meses para as prévias, já tinha escolhido seu candidato: "é o João", disse, esparramado no sofá de couro bege da sala.

"Qual é o x da política? É a capacidade de juntar. Quem junta mais? É o Doria neste momento. Por quê? Não só porque é São Paulo e São Paulo tem força. Porque ele é Brasil", disse, para deleite do governador paulista.

Pouco mais de um mês depois, foi a vez do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) ir ao encontro do ex-presidente, levado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Ouviu do presidente de honra do partido um discurso muito parecido, mas sem declaração de voto a seu favor.

"Acho que o importante nessa eleição é ter capacidade de agregar partidos e pessoas. E dar um rumo ao Brasil. Se você fizer isso, ganha a eleição", disse FH, na ocasião.

Leite saiu do encontro decepcionado. Conforme disse a interlocutores, naquele momento percebeu que o ex-presidente não faria qualquer gesto por sua candidatura. Oficialmente ou extraoficialmente.

Segundo relatos de amigos de Fernando Henrique, ele elogiou o colega gaúcho pela iniciativa de entrar na disputa com Doria. Mas disse considerá-lo ainda muito jovem para a missão de governar o Brasil. Eduardo Leite tem 36 anos.

A falta de engajamento e entusiasmo de FH com a campanha de Doria, apesar da declaração de voto, não foi motivo de incômodo para a equipe do tucano. Eles atribuíram a postura ao que entendem ser um desejo de manutenção de certo grau de neutralidade na disputa.

Em busca de rumo

As prévias partidárias deste domingo simbolizam a tentativa do PSDB de se reerguer, depois de amargar 4% das intenções de voto na eleição presidencial de 2018, quando seu candidato foi o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

O percentual não é muito distante do que tem sido apurado para os dois pré-candidatos mais competitivos do partido para 2022, Doria e Leite, nas pesquisas de intenção de voto a um ano das eleições.

A ascensão de Bolsonaro agravou a situação do partido, que perdeu a bandeira do antipetismo e ainda parece em busca de rumo e identidade em meio à polarização que vem dividindo o país entre fãs de Lula e do ex-capitão.

Depois de Fernando Henrique, o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), foi o tucano a obter mais votos em uma eleição presidencial. No segundo turno da disputa de 2014, ele obteve 48.3% dos votos válidos, perdendo para Dilma Rousseff (PT).

Mas, seu capital eleitoral derreteu diante das revelações decorrentes das operações Patmos e Lava-Jato. Assessores de Aécio foram flagrados pela PF tentando ocultar um pagamento ilegal solicitado pelo político mineiro ao empresário Joesley Batista, da J&F. Na época, Batista colaborava com investigações.

Aécio também foi citado por empresários como beneficiário de valores desviados de obras públicas e contratos de estatais em gestões tucanas em Minas, o que ele nega.