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Brasil empacado. Alemanha vacina crianças sem efeito colateral
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Saiu a chancelar Angela Merkel e entrou no lugar Olaf Scholz. Nenhuma descontinuidade ocorreu na política de saúde pública e voltada à contrastar o vírus da Covid, agora entre a quarta e quinta ondas: variantes Delta e Omicron.
As crianças continuam sendo vacinadas a todo vapor. Cerca de 30% da população que não quis se vacinar sente o peso do lockdow. No momento, os vacinados e o governo comemoram o sucesso das restrições impostas aos negacionistas em face da redução da circulação do vírus da Covid e dos contágios.
Uma comparação se faz necessária para melhor entender as políticas dos governos da Alemanha e do Brasil. Também os comportamentos e as ações dos seus ministros da saúde, ambos médicos.
De um lado, temos o cardiologista Marcelo Queiroga. Do lado tedesco, o epidemiologista Karl Lauterbach.
O ministro Lauterbach está entre os maiores incentivadores europeu da imunização das crianças.
Lauterbach é professor-titular da universidade de Colônia. Desde 2008, é professor adjunto do Departamento de Política Sanitária e de Gestão da universidade de Boston.
Pelos seus sólidos conhecimentos e experiência em gestão sanitária, Lauterbach influenciou decisões tomadas no governo anterior, da então chancelar Angela Merkel.
Antes de ser ministro da saúde, Lauterbach sustentou na mídia que a quinta onda, — pela variante Omicron e com velocidade cinco vezes superior à cepa Delta — , era inevitável e iria se espalhar. No particular, Lauterbach acertou em cheio.
Como ministro, Lauterbach não mudou, ou melhor, continuou a trombar de frente com os negacionistas vacinais, apelidados de "NoVax".
A sua política de limitar e de afastar o não vacinado da vida social completou 30 dias. E já é exitosa. No domingo seguinte ao Natal, 26 de dezembro passado, constatou-se, em toda a Alemanha, fundamental redução do contágio diário. Saiu-se dos mais de 100 mil casos para 10.100.
Só para comparar, na França, na véspera do Natal, tivemos 104.611 contágios. E a França não adotou todas as restrições impostas pela Alemanha.
Depois de constatar os resultados obtidos pela Alemanha , o primeiro-ministro francês, -- Jean Custex -veio a público na última terça, 28 de dezembro, para anunciar endurecimentos de regras, com restrições bem semelhantes às da Alemanha.
O presidente Macron, por sua vez, cogita a substituição do 'passaporte sanitário' pelo 'passaporte vacinal', a significar que irá endurecer com os "NoVax" e poderá imitar o lockdow germânico.
É bom lembrar: na Alemanha, aquele que se recusa a tomar a vacina só pode sair de casa para ir ao trabalho, ao supermercado e à farmácia. Para usar transporte público precisa se submeter a testagem higiênica, idem para ingressar e permanecer no local de trabalho.
Na Alemanha, as proibições são inúmeras aos não possuidores do passaporte vacinal: bares, cinemas, teatros, academias de ginástica, hospedagens em hotéis, etc. Como na Itália, o uso de máscara voltou a ser obrigatório em locais abertos: em época de ruas lotadas, uma tossida pelas costas de alguém pode contaminar, observou um sanitarista peninsular, em entrevista ao sistema RAI- rádio e televisão italiana.
Como especialista de renome, Lauterbach deu a "cara para bater" ao preconizar a vacinação das crianças alemãs na faixa entre 5 e 11 anos de idade. E ainda que houvesse baixa probabilidade de efeito colateral. No caso, a miocardite.
Na véspera do Natal, Lauterbach usou as redes sociais para comunicar com euforia: - "São milhares de vacinações em crianças alemãs na faixa de 5 a 11 anos. E nenhum caso de miocardite".
No Brasil, o ministro Queiroga, — como sabe tanto um prato de feijoada carioca como um prato de chucrute com salsichas servido em Mônaco da Baviera ( Munique)—, é um sabujo de Bolsonaro.
Para não se emporcalhar com a imagem de negacionista, Queiroga vira camaleão. Não toca na recomendação técnica da Anvisa, -- baseada na ciência e na experiência de mais de 40 países que adotam a vacinação em crianças ---, mas agarra-se a empecilhos bolsonarianos.
Por exemplo, Queiroga convocou audiência pública para debater a adoção da vacinação de crianças, conforme autorizada pela Anvisa. Como se percebe, trocou o critério médico-científico pelo político.
Queiroga também se mostrou contraditório ao informar o início da imunização das crianças em janeiro, mas que ouvirá a sociedade civil no dia 5 para então decidir sobre a vacinação..
Em entrevista, ressaltou que as doses adequadas para a vacinação das crianças foram compradas e chegarão n próximo dia 10. Pelo jeito, comprou antes de decidir se irá aplicar.
Não bastasse, Queiroga colocou como condição, - a jogar de mão com Bolsonaro --, a autorização dos pais e a obrigatoriedade da prescrição médica.
Pela lei, os pais aderem ou não às campanhas de vacinação. E atenção: segundo a lei de proteção à criança e ao adolescente, os genitores poderão ser responsabilizados pelas suas negligências no cuidado dos filhos. Pelo Código Civil, o poder familiar, antes chamado pátrio poder, é exercido, igualmente, por ambos os genitores.
Bolsonaro, — com a sua conhecida boçalidade—, continua a fazer campanha contra a imunização das crianças. Ao expor a filha de 11 anos de idade, contou que não tomará a vacina. Queiroga, covardemente não reprovou a assertiva do presidente Bolsonao e nem pediu pra deixar o ministério.
Quanto à exigência da prescrição médica, trata-se de criar complicador, — desestímulo—, a evitar a imunização e, por consequência, penalizar as crianças. Em especial as crianças pobres, sem pediatras à disposição.
Existe no Supremo Tribunal Federal (STF) ação proposta por partido político e voltada a obter a suspensão da exigência da prescrição médica.
O ministro Ricardo Lewandowski, — antes de examinar o pedido de concessão de cautela liminar —, abriu prazo de cinco dias para o governo Bolsonaro apresentar justificativa.
Não precisa ser bacharel em Direito para concluir pela concessão da liminar. Basta o bom-senso.
Num pano rápido, o ministro alemão Lauterbach é preparado, competente e tem como norte a ciência. O ministro brasileiro, Queiroga, é servil. Para se manter no cargo faz até de conta que não se envergonha do negacionismo medievalesco de Bolsonaro
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