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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na carta resposta de Bolsonaro só faltou a música Faccetta Nera

Colunista do UOL

30/07/2022 16h02Atualizada em 31/07/2022 15h05

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Bolsonaro e os integrantes da campanha eleitoral voltada à sua recondução à presidência da República estão assustados.

Eles temem os efeitos da Carta-manifesto em favor da democracia, como informou, e logo se confirmou , o jornalista e colunista do UOL, Tales Faria.

A reação do presidente Bolsonaro veio por uma brevíssima e imotivada publicação pelo Twitter. Bolsonaro escreveu: - "Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia".

Bolsonaro não explicou, ao se manifestar a favor da democracia, por que pratica, diuturnamente, atos antidemocráticos, de matriz fascista.

Só faltou à manifestação imotivada de Bolsonaro ter como fundo musical a " Faccetta Nera" , cantada por Carlo Buti que virou a música da predileção dos fascistas e a mais incentivada pelos canais de difusão radiofônica do fascismo.

A letra da música centra no personalismo. Na desnecessidade de justificar os atos de governo e o cerceamento à liberdade. De não importar o que se fará na guia do Estado nacional mas o que são os fascistas tidos como heróis da pátria e homens de valores morais Enfim, um culto a Mussolini: "Aspettta e spera che già l´ora si avvicina (Bolsonaro espera o 7 de setembro e Mussolini apostou na Marcha sobre Roma). Quando staremo vicino a te. Noi ti daremo un´altra legge e un altro Re. Noi marceremo insieme a te e sfileremo avanti al Duce" (como Mussolini, Bolsonaro se enxerga como único líder e tábua de salvação contra os progressistas e o comunismo que considera estar em marcha no Brasil).

Ao atacar as instituições, o sistema eleitoral e apontar para resultados fraudulentos nas apurações de escolhas de governantes e representantes do povo, além de descumprir a Constituição, e mostrar a embaixadores, em ato de lesa-pátria, o Brasil como uma republiqueta bananeira, está na cara não ser Bolsonaro um democrata. O seu próprio passado parlamentar sempre revelou não ser democrático e nem republicano.

Bolsonaro não sabe , — como ensinou o pranteado jurista e constitucionalista europeu Giovanni Sartore—, representar o termo democracia ( formado por demos-povo e kratos-poder) um regime e sistema político "no qual é o povo (cidadão) que comanda".

Volto à carta-manifesto que vem em bom momento. Em momento de ataque bolsonarista à democracia, ao estado de Direito e preparação a golpe de Estado, se perder as eleições. E é bom consignar, — como ensinam no mundo inteiro os livros de Direito —, ser a democracia um regime onde o cidadão, livremente, escolhe os seus representantes e governantes, com mandatos temporários.

A carta-manifesto, — com iniciais 300 assinaturas, — alcançou, em poucos dias, 300 mil adesões. Ontem, 29 de julho e décimo dia do lançamento, contava com 500 mil apoios.

A idéia da apartidária carta-manifesto dos ex-alunos da Faculdade do Largo de São Francisco (USP) foi encampada pelo seu diretor, professor Celso Campilongo. Será lida, no dia 11 de agosto próximo e pelo ministro Celso de Mello, quando será celebrada a instalação dos cursos jurídicos do Brasil.

A leitura será feita da célebre Tribuna Livre do Largo de São Francisco, defronte à Faculdade, que o saudoso professor Goffredo da Silva Telles definia como " a velha e sempre nova Academia".

Num pano-rápido. A carta, com firmes lições de civismo e democracia, servirá, também, para conter o golpismo projetado por Bolsonaro no próximo 7 de setembro, a desvirtuar a festa do bicentenário da nossa independência.