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Novo líder terá dificuldade para reorganizar Al Qaeda
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A organização terrorista Al Qaeda, para muitos, estava morta e enterrada. E o chamado Estado Islâmico tinha ocupado o espaço deixado. Ledo engano.
Para os 007 dos serviços de inteligência dos EUA e do resto do Ocidente, a morte de Osama bin Laden, assistida em transmissão direta pelo então presidente norte-americano Barack Obama, e a recente eliminação por um drone certeiro do seu sucessor, o médico egípcio Ayman Zawahiri, tinham sido a pá de cal.
A estratégia de comunicação da Al Qaeda, com mais de 900 sítios espalhados pelo mundo já estava fora do ar fazia anos. E, para os 007 norte-americanos, o chamado Estado Islâmico (Isis) havia ocupado o espaço deixado pela Al Qaeda, uma organização de matriz religiosa sunita.
Não foram só os ataques de 11 de setembro de 2001 às torres Gêmeas e ao Pentágono que causavam permanentes pesadelos aos agentes da inteligência. Era doloroso ter a Al Qaeda, num vídeo feito numa caverna, mostrando para o mundo as manifestações de júbilo de Bin Laden e Zawahiri. O vídeo foi exibido em 24 de setembro de 2001, ou seja, logo depois das tragédias de Nova York e Washington.
Hoje, em informação que coincide com a fornecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o porta-voz do Departamento de Estado americano anunciou que a Al Qaeda ainda está viva. Mais ainda, e com novo líder, cujo "nome de guerra" é Saif al-Adl, um egípcio cuja fotografia foi mostrada e que está vivendo no Irã, onde ficaria a nova sede da organização terrorista.
Para os que se dedicam aos estudos e pesquisas sobre a criminalidade organizada transnacional, como este colunista do UOL — e realizei hoje alguns telefonemas para recolher opiniões—, tem algo estranho na informação do mencionado Departamento de Estado.
Como sabe qualquer pessoa minimamente informada, xiitas e sauditas não se aproximam. Os alquaedistas são sunitas. Bin Laden era saudita e fanático sunita. Seu sucessor, Zawahiri, também era sunita ferrenho.
Para os 007 ocidentais, os chefes da força pásdárán (o exército de guarda da revolução islâmica) costumam acolher alquaedistas, mas os mantém sob estreita vigilância, sem liberdade de ação em território iraniano.
Para se ter ideia, a regra inventada por Bin Laden do "faça você mesmo a sua parte na jihad" admitia que ataques fossem preparados e executados, sem necessitar de aval da cúpula da Al Qaeda. Mas nenhuma comunicação com interpretação religiosa poderia ser realizada sem o "nihil obstat" do emir saudita Bin Laden e, depois, Zawahiri.
O denominado Estado Islâmico tem também orientação sunita. E o seu proclamado califa, o já eliminado Al Baghdadi não se aproximava dos xiitas iranianos.
No Afeganistão, hoje controlado pelos talibãs, o nome de Saif al-Adl, anunciado como novo líder da Al Qaeda, não é reconhecido. Para o grupo fundamentalista talibã, Zawahiri está vivo e é mentira americana a sua morte.
Sem o reconhecimento pelos talibãs, Saif al-Adl não pode ser considerado emir, ou seja, aquele legitimado a liderar a Al Qaeda.
Saif al-Adl sempre foi próximo de Bin Laden. Tem peso militar, adquirido em ações terroristas no Sudão, Somália e Iêmen. Seu nome de nascimento é Mohamed Zeidan.
Num pano rápido. Saif al-Adl, caso vire emir, terá dificuldade para reorganizar a Al Qaeda porque os EUA cuidaram de secar as suas fontes de financiamento.
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