Wálter Maierovitch

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Opinião

Israel e Hamas: manipulações da opinião pública. Culpas e desculpas.

Ganhar o apelido de "poverello d'Assisi" decorreu, para Francisco de Assis, dos seus méritos histórico e sociais.

Documentos históricos incontestes demostram haver Francisco renunciado à fortuna, vivido a pobreza com coerência. Era voz firme em defesa dos pobres e dos últimos da sociedade peninsular e vaticana do Medioevo.

Às vezes, Francisco comunicava-se por meio da poesia simbólica, em versos aos pássaros que o rodeavam e no seu corpo físico pousavam sem medo.

A frase "é dando que se recebe" está viva. Francisco não tinha assessoria de imprensa e não foi fruto de propaganda religiosa, esta, como regra, fantasiosa e apologética.

A pureza franciscana não existe na propaganda de guerra, quer por parte do Hamas, quer de Israel.

Propaganda bilateral

A propaganda enganosa e as fake news, neste conflito em curso, ganharam repercussão internacional.

Como consequência, aumentou, além do partidarismo de conteúdo ideológico, o antissemitismo e a islã-fobia, Com efeito, existe o prejuízo aos migrantes islâmicos que cruzam o Mediterrâneo para alcançar a Europa ocidenteal, em embarcações precárias. A frisar, em fuga da fome, das epidemias, das guerras, da falta de trabalho e de futuro aos filhos.

Nesta semana passada, ocorreram atos violentos na Cisjordânia, com grilagens e maus tratos a camponeses palestinos. Violências incentivadas pelo governo de Benjamin Netanyahu e infiltrações terroristas por parte do Hamas: tratei disso nos meus dois últimos comentários.

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Os beligerantes, Hamas e Israel, partiram, ainda, para o diversionismo propagantístico. O tempo todo apresentam justificativas e exploram as desumanidades.

A meta, em toda propaganda de guerra é a distorção para se galgar o "status" de vítima, a justificar o injustificável, a matança.

Num resumo, o diversionismo a fim de outro fato grave virar foco e provocar o esquecimento da tragédia de passado próximo.

Um pouco de cinzas

Na Segunda Guerra, os tribunais de Nuremberg e de Tóquio tiveram por meta responsabilizar os consumados genocídios, crimes de guerra e contra a humanidade dos nazistas alemães e dos aliados japoneses.

A opinião pública mundial acompanhou os julgamentos e ficou tão focada nos julgamentos de modo a não cogitar na criação de tribunal a julgar a necessidade do uso das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. A propaganda dos vencedores da guerra valeu para colocar embaixo do tapete questões incômodas.

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Atenção. No momento, um diversionismo não original por parte da propaganda de Israel aponta os palestinos como corresponsáveis pelo terrorismo do Hamas. Volto à Segunda Guerra quando muita tinta foi gasta para emplacar a tese da responsabilidade de todo o povo alemão, sob argumento de apoio ao nazismo.

A propósito, o nazismo usava maciçamente a propaganda de guerra de molde fake, ou melhor, possuía até, Goebbels à frente, ministério de propaganda falsa.

Na propaganda pró Israel, no conflito com o Hamas, usou-se , na semana e para justificar a matança de civis inocentes palestinos, a estatística. Mais de 60% de palestinos julgam estar o Hamas no lado justo do combate.

Culpas e desculpas

Sempre nesta semana, a tragédia das crianças mortas passou a ser usada como propaganda voltada à obter grande repercussão. Até a primeira dama Janja caiu na armadilha do casal turco Tayyp Erdogan.

Janja só olhou para um lado, como desejava o presidente turco Erdogan. Colocou as crianças palestinas, olvidou as israelenses, as mortas e as feitas como reféns.

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Hamas e Israel utilizaram, na propaganda da semana, as redes sociais. Nelas, colocações pertinentes e pelos portadores da chamada "ira santa", da indignação justa, mas, também e infelizmente, presentes estiveram partidários ideológicos obnubilados.

No terrorismo do 7 de outubro passado, o Hamas, dos 242 reféns de momento, mantém dez crianças aprisionadas. Tem um bebê de 11 meses. E existe a menina, levada como refém, depois de presenciar os pais metralhados e mortos pelos membros do Hamas.

Importante. No ataque terrorista do Hamas, dentre os mortos, estão crianças e bebês, estes com as moleiras amassadas e alguns degolados, segundo o governo israelense.

No levantamento feito e anunciado pelo chamado ministério sanitário do governo mantido pelo Hamas na faixa de Gaza, cerca de 3 mil crianças restaram mortas. Isso em razão da defesa desproporcional realizada por Israel, ou melhor, do excesso de defesa por parte de Israel, a tornar ilegítimas as ações, consoante o Direito das Gentes.

Volto à propaganda de guerra difundida internacionalmente. De um lado, o Hamas a mencionar as 3 mil crianças mortas, mas sem libertar as crianças reféns, nem o bebê de 11 meses. De outro, a fúria de Israel, a bombardear e apresentar como justificativa ter avisado que iria bombardear pesadamente o norte da faixa de Gaza.

Em outras palavras, o aviso de Israel é usado como justificativa a fim de excluir a responsabilidade do governo de Israel. Aliás, justificativa ética inaceitável e sem proteção no Direito das Gentes, o denominado Direito Internacional Pùblico.

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Nesse cenário de ética reprovável e desumanidades, o Hamas não conseguiu obstar a total migração de palestinos para o sul da faixa de Gaza. Muitos não conseguiram migrar do norte ao sul de Gaza e morreram pelas bombas de Israel, mas, também, por terem sido impedidos de se deslocar pelo Hamas. Pior, foram colocados como escudos humanos. As mortes de civis inocentes têm grande valor na propaganda de guerra explorada pelo Hamas e por Israel.

Como réu confesso, Benjamin Netanyah, nesta semana, soltou, como publicano na Folha de S.Paulo, edição de sábado 18, a seguinte pérola da insensibilidade: "Outra coisa que posso dizer é que tentaremos concluir esse trabalho com o mínimo de vítimas civis".

O Direito das Gentes proíbe o terrorismo. Proíbe também ações defensivas a colocar em risco a população civil.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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