Prisão de PM é cortina de fumaça; política violenta de Tarcísio não mudará
Os romanos costumam afirmar que "o tempo passa e as pessoas mudam". Só não dizem que a mudança pode ser para pior.
O estado de São Paulo já teve, na Secretaria da Segurança Pública, Erasmo Dias, um violento coronel reformado do Exército que jogava de mão com a repressão política do DOI-Codi. À sua época, a ditadura militar nomeava o governador e dava licença para torturar e matar. A política de segurança do então governador Paulo Egídio foi violenta, com Erasmo Dias na execução.
Paulo Maluf veio na sequência e adotou, para a segurança pública, uma política que também consentia com a violência. Nas periferias, os cidadãos tinham medo de sair às ruas.
No governo Maluf, o primeiro secretário da Segurança, Octávio Gonzaga Júnior, era desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo.
No seu primeiro discurso, Otávio Gonzaga disse que o problema da segurança pública só seria resolvido armando-se a população.
Maluf, o da Rota na Rua, não foi responsabilizado e preso pela violência da sua polícia, mas por corrupção, com trânsito em julgado.
Com o governador Mário Covas tudo mudou. Na pasta da Secretaria da Segurança Pública Covas colocou, em 1995, o professor José Afonso da Silva, um humanista, constitucionalista respeitado.
José Afonso, certa vez, segredou-me: "quando o governador de São Paulo escolhe o secretário da Segurança, está indicando se a política de segurança pública será ou não violenta".
A propósito, o atual governador, Tarcísio de Freitas, deu o sinal verde para uma polícia violenta ao escolher um policial militar da Rota, Guilherme Derrite, para a Secretária de Segurança Pública.
Derrite estampa, no currículo, o registro de ter sido afastado do comando da Rota pelo excesso de mortes ocorridas: "excesso de letalidade" foi a expressão utilizada.
Sinal de Tarcísio
Nas polícias Militar e Civil, o sinal de Tarcísio foi entendido como abertura da temporada da violência e até como "licença para matar", aliás, como se percebeu em operações na Baixada Santista.
Mais ainda, o sinal de uma política pró-violência ficou induvidoso com a resistência do governador Tarcísio em obrigar o uso de câmeras corporais pelos policiais militares.
Com relação à violência da PM de São Paulo, o governador deixou de lado a legalidade e comporta-se como fautor da cumplicidade criminosa.
Medo
No domingo último, mais uma vez, a PM de Tarcísio mostrou a cara violenta, desumana.
O policial do policiamento ostensivo com motocicletas Luan Felipe Alves Pereira, de 29 anos, fez justiçamento de mão própria, fardado e com divisa da PM.
Depois de perseguir o motociclista Marcelo do Amaral, um jovem de 25 anos desarmado e assustado, arremessou-o do alto de uma ponte no bairro Cidade Ademar, zona sul paulistana.
Populares tentaram socorrer a vítima ferida, mas os policiais motorizados da polícia do governador Tarcísio impediram. Atenção: impediram a prestação de socorro.
Ao sair das águas do poluído córrego, um esgoto a céu aberto, Marcelo sangrava na cabeça e estava completamente atordoado.
O policial militar que atirou o jovem no riacho já esteve envolvido na morte de um motoqueiro em Diadema, no ano passado, como relatou o colunista do UOL Josmar Jozino. Disparou 12 tiros contra ele e depois alegou resistência e legítima defesa. Esqueceu do excesso dos 12 disparos.
Em entrevista, uma testemunha do desumano ato de o policial jogar um jovem do alto de uma ponte, num córrego-esgoto, disse: " A Polícia Militar era para ser a nossa segurança. Em vez disso, é o nosso medo".
A frase resume bem como é sentida a PM do governador Tarcísio, ou seja, a que não entrega tranquilidade social, mas medo.
Estatística
O governador não parece preocupado e responde com dados de redução de criminalidade. E aí confessa o seu despreparo em políticas de segurança pública.
O caminho, como diz trecho da clássica obra "Paura e Criminalità" ("Medo e Criminalidade"), está "em estabelecer um paralelismo entre a diminuição dos crimes e uma queda no sentimento de insegurança da população", que, como foi dito, tem medo da polícia de Tarcísio.
Pano rápido
A imposição da prisão preventiva do policial que arremessou a vítima da ponte de Cidade Ademar representa mera cortina de fumaça. Não há sinal nenhum de mudança na política de Tarcísio. Até o secretário da Segurança Pública será mantido.
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