Wálter Maierovitch

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Opinião

Soltura de jornalista italiana detida no Irã vira jogo de xadrez político

Três jogadores disputam num tabuleiro de xadrez jurídico-político moedas de troca: Irã, Itália e EUA.

A Itália precisa soltar o engenheiro Mohammad Abedini Najafabani, preso em flagrante por contrabando no aeroporto Malpensa de Milão, acusado pelos EUA, que quer sua extradição, por associação à organização terrorista Pasdaran (Guarda Revolucionária iraniana), violação das leis de exportação de armas (drones usados na Ucrânia) e suporte ao terrorismo.

Na outra ponta da mesa, os aiatolás iranianos mantém no desumano presídio de Evin a jornalista italiana Cecilia Sala. Blefa ao acusar a jornalista, por nota do ministério da Cultura e Guarda da causa islâmica, de violação às leis islâmicas, sem individualizar fatos e condutas típicas.

A brecha é proposital. Até um tapete persa sabe ser obrigatório, no direito internacional, a apresentação de acusação detalhada e calcada num mínimo de prova. Ao deixar a acusação aberta fica a brecha para a soltura imediata da jornalista por um juiz iraniano.

Entregue esse peão do xadrez iraniano, caberá à Itália expulsar Abedini do seu território, sem processo judicial. A expulsão é ato administrativo.

O terceiro jogador é o complicador. Quer a extradição sem concessão de prisão domiciliar durante a sua tramitação. Para piorar, os EUA lembram a Itália não haver esquecido a concessão de prisão domiciliar ao extraditando Athen Uss, um traficante russo de armas. Claro, Uss fugiu e não mais foi encontrado

Para a Itália convém a expulsão, mas a cooperação mantida na área tecnológica com os EUA irá para o espaço sideral.

Os aiatolás já ofereceram o peão, caminho para a soltura da jornalista. E o xeque mate é uma expressão persa com significado de "rendição do rei". A propósito, o Irã já ofereceu à embaixadora italiana uma relação curta de nomes de advogados de defesa admitidos a atuar em casos envolvendo estrangeiros.

Uma cortesia a mais dos aiatolás, a embaixadora italiana Paola Amadei pôde encaminhar à jornalista Sala um pacote com produtos de higiene pessoal, um panetone e uma máscara de dormir, pois as luzes da cela, sem janela, nunca se apagam.

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Pano rápido. Vamos torcer pela expulsão de Abedini e a soltura de Sala. Quanto aos EUA que fiquem a ver navios.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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