'Uma desgraça': papa Francisco, um humanista, critica plano de Trump

Para quem não acredita que o espírito do macarthismo ainda está bem vivo, basta, para mudar de posição, atentar ao teor das incessantes críticas endereçadas ao papa Francisco, sempre visto pela direita católica como subversivo e um comunista a usurpar a cátedra de Pedro.
Num olhar isento, o argentino Jorge Mario Bergoglio é um humanista, pacifista e progressista de muita sensibilidade e sinceridade. "Sine cera", sem uso de cera a cobrir defeitos de esculturas, como se dizia diante das obras perfeitas de Michelangelo.
A sinceridade e a fala bem intencionada de Bergoglio pôde ser sentida, no domingo (19), pelos espectadores do programa italiano conduzido há anos pelo apresentador Fabio Fazio.
A entrevista aconteceu online, e o papa estava no escritório da sua residência, a casa Santa Marta. Antes de Bergoglio assumir a função de papa Francisco, esse lugar, nos jardins vaticanos, servia de hotel de trânsito para que os cardeais ficassem hospedados para votar na escolha do papa, quando a vaga estava vacante.
Advertência a Trump
Não faltou a pergunta sobre o carro-chefe do populismo trumpista: a prisão e expulsão dos imigrantes irregulares, a começar por aqueles com registro de antecedentes criminais. E ela foi respondida com a habitual coragem do papa Francisco.
Para Bergoglio, o neopresidente Trump perpetrará "uma desgraça" ao deportar os imigrantes.
"Não tem sentido. Eu o encontrei durante o exercício do seu primeiro mandato. Se for verdade o que está sendo dito [deportação de imigrantes irregulares], será uma desgraça."
"E desgraça porque irá fazer pagar os pobres desgraçados, aqueles que nada têm a ver com a situação de desiquilíbrio. Não está certo. Não se resolve a questão dessa forma." (reprodução de memória do colunista telespectador e de tradução livre)
Chefe espiritual da Igreja
A advertência não deve ser vista como provinda de um chefe de Estado, ou melhor, chefe do Vaticano. Ela precisa ser entendida como vinda de um chefe espiritual da Igreja Católica romana. De um reconhecido humanista que realiza surpreendentes revelações, a tirar o sono de conservadores, a fazer corar os reacionários apelidados de "papa-hóstias".
Por exemplo, Bergoglio já disse que os pecados sexuais não são os mais graves e que fica irritado, nas confissões, quando o penitente foca "nos pecados da carne".
Num pano rápido. Como sempre recordava a minha saudosa nonna italiana Margherira, e isso vale para o populismo de Trump: "Tra dire e fare c'è di mezzo il mare" (entre o dizer e o fazer, existe um oceano no meio).
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