Wálter Maierovitch

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Opinião

Trump e Musk: o grileiro de Gaza e os EUA como startup

No palácio Barberini, em Roma, está exposto um dos quadros mais badalados do célebre pintor Caravaggio, elaborado por volta de 1597 e a expressar o mito de Narciso.

O quadro, óleo sobre tela (112 x 92), leva o título de "Narciso allo specchio" (Narciso ao espelho). Representa o jovem caçador que se enamora da própria imagem refletiva.

A lembrança desse quadro veio-me em dois momentos distintos.

  • Quando o neopresidente Donald Trump anunciou a sua disposição de grilar a faixa geográfica de Gaza e bradou "Fora Palestinos".
  • Depois, quando difundiu-se pela internet a montagem da revista Time com Ellon Musk atrás da escrivaninha de presidente dos EUA.

Trump e Musk são dois narcisos, mercantilistas e mitômanos. O presidente Trump, detentor, pelas reviravoltas, de narcisismo patológico. Musk, um narcísico argentário.

Trump quer ser o centro das atenções e mistura ambição e ideologia, além de confundir o público com o privado. Gosta, na sua equipe, de sabujos e não de contestadores. Diz coisas contraditórias. Por exemplo, antes da posse, demonstrou desinteresse pelo Oriente Médio: "precisamos nos retirar e cortar todo o nosso empenho no Oriente Médio".

Sem comunicar à assessoria ao Pentágono, enviou um general à Ucrânia para verificar a possibilidade, em curto tempo no caso de eventual trégua, de uma eleição presidencial: o mandato do presidente Volodymyr Zelensky está prorrogada por força da impossibilidade de eleições livres, com o país em guerra.

O general, segundo noticiado pela imprensa norte-americana, concluiu pela impossibilidade, diante do quadro de destruição e da quantidade de ucranianos que fugiram a outros países.

Certamente, Trump já tem montado, sem ouvir ninguém, um plano para o encontro, ainda neste mês, com o presidente russo Vladimir Putin. O narcisismo está apaixonado pelo seu próprio querer.

Grilagem e startup

Nesta semana e já no exercício da presidência, com o premiê israelense Benjamim Netanyahu ao lado e a sorrir de felicidade, Trump externou o desejo em ter a faixa geográfica de Gaza nas suas mãos e arrematou: "os EUA trabalharão com as melhores equipes para aquilo que se tornará um dos lugares mais maravilhosas da Terra". Aí, falou da Riviera, do balneário da fortuna.

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Trump esqueceu do externado antes da posse: "Precisamos retirar todo o nosso apoio e empenho no Oriente Médio".

O republicano — pelo lado narcísico e de mitômano — não enxerga o refletido no direito internacional, pois, se vier a tentar ou executar o seu plano de grilagem, estará a cometer crime contra a humanidade.

Por sua vez, Musk montou, no governo Trump, uma assessoria composta apenas de pessoas muito jovens e sem experiência na política. Segundo ele, esses jovens deverão trabalhar 80 horas semanais. Uma busca de lugar ao sol, num sistema de emulação, como numa final olímpica de 100 metros rasos do atletismo.

Daí, partiu a ideia de cortar os auxílios financeiros proporcionados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, a USAID, criada pelo então presidente democrata John Kennedy.

Musk quer mudar a estrutura administrativa da Casa Branca, fazendo-a funcionar como uma espécie de startup estatal. Assim como a Trump não contam as regras do direito internacional, as convenções e os tratados, para Musk as pesquisas que interessam são apenas as que confirmam as suas ideais e delírios.

Musk reprovado

Nesta semana, uma pesquisa apontou que a maioria dos norte-americanos não querem grande influência de Musk no governo.

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O resultado é o seguinte: 26% não desejam que ele tenha muita influência; 43% entendem que deveria ter apenas um pouco de influência e 17% apontam para não possuir nenhuma influência.

Pano Rápido

Netanyahu e o novo ministro de Defesa do seu governo, Israel Katz, iniciaram na sexta (7) campanha para convencer os palestinos de Gaza, diante da intenção revelada por Trump, a desocuparem a faixa.

Qual a vantagem? Certamente que os palestinos deem asas à imaginação e não esqueçam as destruições nas suas casas.

A dupla Netanyahu e Katz terá de convencer 2 milhões de palestinos. Para onde deverão mudar, nada está sugerido. Por seu turno, Jordânia, onde já vivem 3 milhões de foragidos palestinos, e Egito já declararam que não aceitarão os palestinos, depois da sugestão de migração de Trump.

O sanguinário Netanyahu ainda não se atentou, sob o prisma moral e ético, para a reprovação do mundo árabe.

Netanyahu, quando anunciou o bombardeamento do norte de Gaza, recomendou o deslocamento dos palestinos do norte ao sul. À época, o direito internacional já condenava esse tipo de ação coercitiva do tipo: "saiam daí que vamos bombardear, destruir tudo".

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Agora, Netanyahu não está só no papel de divulgar dos desejos de Trump, a sua conduta de premiê, à luz do direito internacional, será, caso tentada ou consumada, a ação delinquencial de coautor no crime de "limpeza étnica", um delito contra a humanidade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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