Arábia Saudita: delegados russos e americanos falam sobre paz na Ucrânia
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A reunião emergencial de ontem em Paris, com onze Estados europeus a participar em face dos riscos à segurança da Europa, não inibiu a agenda de hoje de Riad.
Sob os auspícios de Trump e Putin e hospitalidade do príncipe saudita Mohammed bin Salman (MbS), delegados norte-americanos e russos começaram a projetar o cessar fogo e o fim da guerra iniciada pela invasão russa à Ucrânia. Na verdade, preparam, à quatro mãos, um plano para impor, goela abaixa, à Ucrânia, a ignorar qualquer interesse defensivo da Europa. Ambos agem como se a Ucrânia não estivesse na Europa.
O príncipe saudita não topou entrar no embargo petrolífero à Rússia em represália à guerra iniciada. No particular, agradou a Putin. E MbS é amigo de Trump, que dedicou-lhe a primeira visita como presidente, quando do primeiro mandato de presidente dos EUA.
Enfim, os delegados de Trump e Putin sentiram-se em casa de prestigiado estado-membro da Opep. E a Arábia Saudita poderá, por ligação à Trump, fazer sombra ao Irã e assinar com Israel um acordo Abraâmico: uma invenção de Trump, no primeiro mandato.
Enquanto MbS sentia-se privilegiado, vários críticas alcançaram Emannuel Macron, o autor da ideia do encontro em Paris, no palácio do Eliseu, no dia seguinte ao término da frustrante Conferência de Munique.
Em Munique, EUA e Rússia, pelas vozes dos seus diplomatas, bateram o martelo na elaboração, pelas duas superpotências, de um impositivo plano de paz, sem participações da Ucrânia e da União Europeia.
O direito internacional público, o direito das gentes, foi pra lata de lixo. Numa guerra entre dois estados nacionais, um dos participantes, a Ucrânia, ficará sem opinar, apesar de afetada pelas consequências do pós-guerra, como perda de território, vedação de ingresso na Otan e fixação de indenização para pagar pelos gastos pretéritos do apoio dos EUA, na gestão Joe Bush, etc. Para Trump, indenização na casa dos 500 bilhões de dólares.
A premiê italiana Giorgia Meloni, da direita europeia aliada ao trumpismo (já o visitou antes da posse em Mar-a-Lago para resolver troca de prisioneiros, com um deles, iraniano, com pedido de extradição aos EUA), criticou Macron.
Para Meloni, a reunião, por cuidar de matéria da defesa da Europa, deveria ter sido convocada e organizada pela União Europeia (UE), com plena participação dos seus membros (Macron deixou fora a Hungria e países bálticos filoputinianos).
Na reunião de Macron, o chanceler germânico decepcionou, a lembrar ser a Alemanha, depois dos EUA, o segundo maior fornecedor de apoios à Ucrânia.
Na verdade, a Alemanha terá eleição no domingo próximo. O partido alemão de direita radical, o Afd, não irá ganhar, segundo as pesquisas. Mas, pela primeira vez, os radicais terão 20% de aumento de votos. E o Afd levantou a bandeira contra os apoios financeiro e bélico à Ucrânia.
De partida, Olaf Schultz, preferiu, ontem em Paris, o escapismo. Disse ser cedo para se discutir um projeto de paz ainda não conhecido para a Ucrânia. Entendeu pertinente, apenas, a Europa colocar à disposição, no caso de cessar-fogo, uma força de paz. Aliás, algo cogitado por Trump, a pretexto de não desejar ter despesas com soldados americanos em força de paz.
Enfim, a reunião de Macron, que internamente não goza de prestígio entre os franceses, não teve utilidade. Como colocaram os especialistas em geoestratégica e geopolítica, a Europa está dividida e os valores, - propostos para a segurança e com base numa participação financeira mais elevada, com aumento da contribuição baseada em porcentual do PIB de cada estado membro -, foram considerados insignificantes para garantir segurança defensiva, a inibir um projetado expansionismo soviético.
Por outro lado, Trump e Putin empenham-se, cada dia mais, em estabelecer um poder de mando no mundo. Esperam o momento para convidar os chineses. Enquanto isso, acertaram espoliar a Ucrânia e dar uma banana para os europeus.
Em bom momento, portanto, a leitura da recém lançada obra intitulada "A luta pela supremacia na Europa: 1848-1918", do historiador britânico A.J.P. Taylor. Por ela, em uma edição da Unesp, têm-se a perfeita dimensão do que foi e do que é a Europa, que continua o seu declínio e com os britânicos fora da UE.
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