Wálter Maierovitch

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Opinião

Zelensky dá última cartada e abraço de afogado em Macron

Zelensky, antes de ser eleito presidente da Ucrânia, era talentoso artista profissional do teatro e da televisão. Colocou todo o seu talento artístico perante o G7, manifestando-se sobre a guerra contra a Rússia que completou três anos no dia 24 de fevereiro.

De fato, Zelensky usou a sua experiência dos palcos para, por videoconferência, colocar a seguinte fala dramática, mirada no coração de Trump: "Presidente, nós desejamos verdadeiramente ouvir as suas palavras porque todo o nosso povo, cada família, gostaria de saber se poderemos contar com a sua ajuda".

Uma cartada emocional --talvez a última. Em outra ocasião, colocou até o cargo à disposição. Também as fortunas. Teme pela guerra e vê em Putin um novo Ivã, o terrível, o expansionista russo do século 16.

Zelensky, no fundo, já percebeu que perdeu a guerra. Isso a partir da união entre Trump e Putin, que marca um novo cenário geopolítico. Cenário, onde o direito internacional, o chamado direito das gentes, vale pouco.

O presidente Zelensky, que já contabiliza, entre mortos e feridos, mais de 1 milhão de ucranianos, não quer levar adiante uma resistência que será inglória, com mais vidas sacrificadas.

Mutilada e devastada

Para se ter ideia, 6 milhões de ucranianos refugiaram-se em diferentes países europeus. Internamente, 3 milhões de ucranianos estão sem casa. Cerca de 2 milhões vivem em territórios ocupados por tropas russas. Na linha de frente do combate, 1 milhão lutam sem esperanças.

Zelensky caiu na real quando ouviu Trump afirmar que a Rússia não invadiu a Ucrânia. Ou seja, Trump finge acreditar na motivação oficial dada por Putin para ingressar na Ucrânia: "Para proteger a população de língua russa da violência ucraniana e 'desnazistizar' as regiões".

Sobre o pretexto nazista, Putin se referia a um grupo que se uniu a outros filoeuropeistas, entre 2013 e 2014, em busca de maior integração com a Europa. Esses grupos promoveram a chamada "Revolução da Dignidade", ou Euromaidan.

Como contam os historiadores, tratou-se de amplo movimento que, por impeachment, tirou da presidência o teleguiado russo Viktor Yanukovitch, que passou a viver, pelos serviços prestados, sob proteção de Putin. Nas eleições que elegeram Zelensky com 43% dos votos, o partido da direita radical obteve 2% dos votos e os nazistas declarados somavam 15 mil. Para Putin, uma invasão a um estado seria justificada para combater 15 mil neonazistas.

Paz próxima

Para os politicólogos e especialistas em geoestratégia militar, Trump e Putin estão se acertando para dividir as terras raras ucranianas, com cerca de 20% delas na região do Dombass. A paz estaria próxima por mera divisão de butim de guerra.

Três dias antes da invasão da Ucrânia, no 21 de fevereiro de 2022, o presidente Putin baixou um ato reconhecendo como independentes a República Separatista Dombass e as separatistas Donetsk e Lugansk. Putin já garantiu, no apoio, parte das terras raras ucranianas.

Em razão disso, Trump já acenou que topa dividir com a Rússia as regiões de terras raras. Zelensky propõe ceder aos EUA, em troca de apoio militar, 50% das terras raras ucranianas. Putin, já está em posse de cerca de 20%.

Calma, China

Ontem, Putin ligou ao presidente chinês Xi Jinping para, certamente, dar satisfação sobre a união com Trump.

Putin, em nota à imprensa, disse que "a relação Rússia-China representa a força estabilizadora mais importante nas relações mundiais e não está sujeita à influência externa".

O chinês, pelo seu lado, foi enigmático sobre a conversa telefônica com Putin: "Existe a amizade verdadeira entre vizinhos, que têm afrontado a boa e a má sorte".

De quebra, Xi confirmou que estará na Praça Vermelha em maio para a comemoração dos 80 anos de vitória dos russos (soviéticos) contra o nazismo.

Conferência de Yalta e Macron

O presidente francês Emmanuel Macron procura, num desespero para apagar a imagem que já colou de uma "Europa desalmada", tentou, no calmo encontro com Trump, mostrar a preocupação com a segurança europeia. Isso na hipótese de continuar a admitir a legitimidade da Rússia sobre as áreas ucranianas conquistadas: cerca de 30% do território. Macron quer a Rússia fora e, se possível, a devolução da Crimeia, um presente dado pelo então presidente Nikita Kruschev à Ucrânia.

Macron estava no embalo pelas visitas feitas em 24 de fevereiro, terceiro aniversário da guerra, pelos líderes europeus a Zelensky, em Kiev. Mais ainda, estava no embalo da derrota da dupla EUA-Rússia perante a Assembleia Geral da ONU: aprovou-se resolução, sem força vinculante, pela integridade territorial da Ucrânia, invadida pela Rússia. O Brasil absteve-se de votar.

Embora tenha avaliado o encontro com Trump como excelente, Macron, que busca uma liderança europeia pois não a tem no próprio país, percebeu que Trump havia ressuscitado o acertado na Conferência de Yalta, também chamada de Conferência da Crimeia.

Em fevereiro de 1945, Roosevelt, Stalin e Churchill, dividiram a Europa, observando a esfera de influência dos Aliados.

Os soviéticos teriam o domínio sobre o "Leste Europeu" para se estabelecer nas regiões o regime comunista.

Trump, na aproximação com Putin, ressuscitou Yalta e quer passar para a Rússia parte do território ucraniano, com metade numa divisão das riquezas.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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