Carnaval midiático em Moscou: Putin venceu a Ucrânia
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A mídia russa de chapa-branca iniciou um verdadeiro carnaval. Não vai terminar na quarta-feira de cinzas e nem haverá o risco de Terceira Guerra Mundial, a que se referiu Trump.
A alegria carnavalesca decorreu das interpretações do acontecido na reunião de sexta-feira passada, entre os presidentes Donald Trump e Volodymir Zelensky, no célebre palácio Oval da Casa Branca.
Apenas a Novaya Gazeta, onde trabalhou a jornalista dissidente Anna Politkovskaya, assassinada pelos agentes secretos do governo Vladimir Putin, conteve a euforia: "Zelensky apenas perdeu a guerra. É possível".
A rede russa Rossiaya, - a mais potente e equiparável em força de penetração à Rede Globo -, considerou Zelensky, politicamente, como morto. Registrou ter Trump, pelas posições firmes e corretas, humilhado o ucraniano, que nem inglês "sabia falar direito".
Estamos no caminho certo
Dado o silêncio esperto de Putin, o destaque ficou para seu fantoche Dmitry Medvedev, que já fez até papel de presidente pela Constituição russa, ao tempo, impedir a reeleição de Putin.
Medvedev, advogado que caiu de paraquedas na política russa faz o triste papel de cão fiel de Putin, chamou Zelensky, pelas reações no encontro da Casa Branca, de "porco ingrato".
Seria ingrato por não ter reconhecido a ajuda americana, sem a qual seriam massacrados. Ingrato pelos US$ 500 bilhões emprestados, que, na verdade, não passaram de US$ 160 bilhões.
O discurso de Putin, na véspera da reunião no salão Oval, foi lembrado infinitas vezes. Que discurso foi este? Foi longo, mas só o final, recortado, restou difundido.
Atenção. Na mencionada quinta-feira, 27, véspera do encontro no salão Oval, o presidente Putin esteve numa conferência com os chefões que comandam a Fsb, o serviço secreto que sucedeu à poderosa e mundialmente conhecida KGB. No discurso, e referentemente à guerra, Putin disse, sem modéstia: "Os fatos estão a nos dar razão".
Golpe fantasiado de Dealmakin
Na Conferência sobre segurança europeia realizada em fevereiro passado em Munique, o secretário de estado Marco Rubio tentou, sem sucesso, coagir Zelensky a assinar um termo de acordo, com a cessão das chamadas terras raras ucranianas, mais reservas de gás e petróleo, em pagamento de US$ 500 bilhões, relativos a valores repassados pelos EUA para a Ucrânia enfrentar a guerra contra a Rússia.
Como não conseguiu o intento, Trump voltou à carga e à fatídica reunião no salão Oval foi agendada.
Zelinsky correu para aceitar a reunião na Casa Branca. Sem dificuldades, Zelensky percebeu pelo andar da carruagem que tudo seria feito entre Trump e Putin, em encontro já acertado, sem participações da Ucrânia e União Europeia.
Isso, aliás, ficou claro nos recentes encontros de Trump, na Casa Branca, com o presidente francês Macron e o premiê Keir Stamer, do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
Como já havia demonstrado anteriormente, ao anunciar a apropriação de Gaza, deportação de 2 milhões de palestinos, para a construção de um empreendimento imobiliário turístico, a Riviera-Cotê d´Azur do Oriente Médio, Trump deixou claro a sua linha atinente à sua política de relações exteriores.
Trump, no encontro da sexta-feira passada, proclamou a "Dealmakin". Como nome indica, ela substitui a diplomacia. Não pelas negociações, conciliações, mas pelos negócios, na verdade, "negociatas" e explorações.
Foi assim que Trump apresentou-se e disse a Zelensky: " sou um mediador". Acrescentou, na cara dura, o termo imparcial, como se não estivesse a jogar de mão com Putin.
Dealmakin para Trump significa fazer bons negócios, de preferência com a outra parte diante da "bacia das almas", com a guerra perdida. E a "comissão" pecuniária do mediador foi querer tomar parte substancial das riquezas ucranianas. A reserva de terras raras ucranianas está avaliada em US$ 11,5 trilhões.
Para Trump, que no encontro com Zelensky insultou o seu antecessor Joe Biden, a guerra de resistência ucraniana foi sem causa. Nada representou aos EUA e à Europa. Portanto, existe um empréstimo, uma conta a ser paga pela Ucrânia, sem poder abater nada.
Trump, o tempo todo e sem apresentar nenhum documento, sustentou que garantia a palavra de Putin de que respeitaria o cessar-fogo.
Zelensky, que não é idiota, exigiu garantias reais. Alertou, desde sempre, que o cessar-fogo só interessava para Putin realinhar, reabastecer e descansar as tropas.
Armadilha por baixo da mesa
No talk-show preparado por Trump e abortado por Zelensky, o presidente americano sairia como pacifista, vitorioso negociador.
Na verdade, Trump e Putin, que desde sexta-feira mergulhou num sepulcral e interesseiro silêncio, armaram uma armadilha para Zelensky, em prejuízo do soberano estado nacional ucraniano.
Primeiro. O cessar-fogo seria seguido de pressão para eleições, com Zelensky sendo derrotado em eleições certamente fraudadas: antes da reunião de sexta contava com 75% de aprovação.
A recordar. Putin tinha na presidência da Ucrânia o teleguiado Viktor Yanukovich. Ele sofreu impeachment. Era um entreguista da Ucrânia. Não quis assinar o chamado "Acordo de Livre Comércio entre Ucrânia e Europa". Putin não queria o acordo e determinou a não assinatura por Yanukovich.
Um governo provisório foi eleito em 2014 e, por eleição, em 2019, elegeu-se Zelensky para a presidência regular-constitucional.
Da armadilha, além da queda de Zelensky, teríamos as seguintes exigências de Putin:
(1) não devolver os territórios conquistados na guerra, cerca de 25% do território ucraniano;
(2) não ingresso da Ucrânia na OTAN;
(3) não manter a Ucrânia tropas armadas, com extinções do exército, marinha e aeronáuticas;
(4) não tropas de paz europeias em território ucraniano após o cessar fogo,
(5) cancelamento da doação da Criméia feita em 1954 pelo então presidente soviético Nikita Krusciov e sob o fundamento de prevalência das língua e costumes russos, não absorvidos pela população local,
(6) acordo de paz final costurado por Trump, com Zelensky fora e sem voz.
Na verdade, o golpe tramado por Trump fez água, embora a mídia russa, carnavalescamente, esteja anunciando: "o líder (Zelensky) acabou".
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