Trump endoidou de vez: enviados secretos à Ucrânia e ultimato ao Hamas
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Não faz muito tempo (e esta coluna mencionou), o presidente dos EUA, Donald Trump, enviou o seu assessor especial, Keith Kellogg, a Kiev. A tarefa era verificar a viabilidade de eleições presidenciais na Ucrânia na hipótese de um cessar-fogo da guerra contra a Rússia.
Segundo relatório de Kellog, não havia nenhuma condição para a realização de eleições presidenciais naquele país. E ele deu as razões: destruição das cidades; 6 milhões que fugiram da guerra para outros países, 3 milhões de desabrigados e ucranianos nas mãos das forças russas. Além disso, os que estão na linha de frente não poderiam se ausentar num cessar-fogo temporário.
A propósito, por força de lei marcial, o mandato presidencial de Volodymyr Zelensky está prorrogado por tempo indeterminado.
Missão secreta
Trump voltou à carga das eleições na Ucrânia depois do episódio no Salão Oval da Casa Branca, quando trombou com Zelensky.
A respeitada publicação estadunidense Político (nasceu em 2017 com o título The Politico) acabou de informar que Trump, secretamente, teria enviado a Kiev quatro membros de seu séquito para acertar, com opositores de Zelensky, o fim da lei marcial e eleições para a derrubada do presidente ucraniano.
O grupo secreto, composto por quatro trumpistas de carteirinha, teria mantido contato com Petro Poroshenko. Ele foi presidente de transição na Ucrânia após o impeachment do presidente teleguiado russo Viktor Yanukovitch, em 2014. O mandato presidencial de Poroshenko durou até 2019, quando Zelensky foi eleito.
Poroshenko não aceitou tramar contra Zelensky, que hoje goza de 44% de aprovação nas pesquisas. Aliás, a aprovação subiu depois da interrompida reunião no mencionado Salão Oval. Na última pesquisa, Poroshenko obteve 5,7% das intenções de voto.
Como revelou ainda o cotidiano Politico (que tem um site muito visitado), Yulia Tymoshenko, do partido opositor Batkinvschya, também foi procurada.
Na eleição de 2019, Yulia perdeu para Zelensky. Na pesquisa, ela aparece com 24% de preferência eleitoral. Mas também pulou fora. Alertou que o país está em guerra, sob lei marcial, não sendo oportuno tratar de promoção de eleições, algo incogitável para os ucranianos.
Outro contatado, que trombou com Zelensky quando era o chefe do estado-maior do Exército, foi o general Valerii Zaluzhnyi. Embora muito popular, ele tem vivência suficiente para não acreditar em Trump.
Nenhum dos opositores quer se colocar em panos de traidor da pátria. Mas Trump, por egolatria e narcisismo descontrolados, não pensa no óbvio. Quer porque quer, e pronto.
Como se percebe, Trump não gosta de ser contrariado.
Por ter sido contrariado por Zelensky, que acabou com o seu show midiático, Trump suspendeu a ajuda militar à Ucrânia.
Tem mais. A CIA, como anunciou o seu novo chefe, John Lee Ratcliffe, suspendeu o envio de informações de inteligência à Ucrânia. Os dados de espionagem por satélites garantiram operações militares que surpreenderam os comandantes russos e, à época, os mercenários da Wagner, contratados a peso de ouro por Putin. Em síntese: um duro golpe em Zelensky e nos ucranianos.
Sair ou morrer: eu advirto
Trump acabou de mandar um recado ao Hamas: "Deixem Gaza ou serão mortos".
A ameaça não parou aí. Trump avisou que esse era o último aviso para a saída do grupo. "Quem ficar, não estará em segurança, eu advirto", bradou Trump.
Pelo jeito, Trump quer a faixa geográfica de Gaza, até para a execução do seu delirante projeto de resort. A complicar-lhe a vida de "rei do planeta", porém, temos a promessa da Liga Árabe com o Egito, na última terça, de oferecer o necessário para a reconstrução do território.
Por outro lado, o premiê Benjamin Netanyahu já recebeu sinal verde de Trump para não prosseguir na segunda fase do acordo.
Nessa segunda fase, com a liberação dos reféns (59 ainda vivos) e dos corpos dos mortos, as forças israelenses abandonariam Gaza e 406 prisioneiros seriam libertados.
Bibi Netanyahu está numa encruzilhada. O Hamas não aceitou a prorrogação da primeira fase e quer o início da segunda, como combinado.
A direita radical, como informou o ministro das Finanças de Israel (que representa os colonos com assentamentos em terras palestinas da Cisjordânia), quer o prosseguimento da guerra. Nada de segunda fase do acordo. Os radicais ameaçam retirar o apoio a Netanyahu e, se isso acontecer, ele perderá a confiança e a maioria, e cairá como primeiro-ministro.
A lembrar: a Liga Árabe quer Gaza sem as forças de Israel. Não quer o Hamas no governo e pretende implementar um governo técnico, provisório.
Evidentemente, as famílias dos 59 reféns sobreviventes já organizam manifestações contra Netanyahu. Sabem que os reféns poderão ser executados se a guerra foi reiniciada.
Mas, para Trump, só vale a sua vontade. Ou seja: Hamas e palestinos fora de Gaza e apropriação da faixa pelos EUA. Além disso, fora Zelensky.
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