Surpresas são a marca dos conclaves na Capela Sistina

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Na Capela Sistina, desta vez, vai sobrar perclorato, potássio e enxofre.
As cédulas da votação para eleger o novo papa contêm esses produtos químicos que, queimados junto com elas, provocam a fumaça escura na chaminé da capela.
Pelas previsões dos vaticanistas, o nome do papa sairá logo, em poucos escrutínios, até porque Jorge Bergoglio nomeou grande parte dos 133 purpurados votantes. A tendência, portanto, será uma união de progressistas em torno de um nome ideal, saído em poucos escrutínios: pela previsão legal, serão dois por dia, um na manhã e outro após o almoço. A indesejável divisão entre os progressistas daria oportunidade a termos, no trono de são Pedro, um papa conservador dirigindo a Igreja e a Santa Sé (Estado do Vaticano).
As cédulas definidoras da eleição são encharcadas com clorato de potássio e resina de clorofórmio, químicos geradores, quando aquecidos, da fumaça branca. Esta anuncia, para os crentes reunidos na praça de São Pedro, a escolha do novo pontífice, sucessor do trono de são Pedro.
Encerra-se, dessa forma, o período que vai da sede vacante (extra omnes) ao "habemus papam", com o eleito, após ele aceitar a escolha e aparecer para o povo, da sacada da basílica, defronte a praça, com veste papal e o nome anunciado.
Pelos registros vaticanos, do ano de 1058 até hoje foram realizadas 111 eleições de papas.
No máximo, a escolha durou cinco dias. Pela Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis (1996), do papa João Paulo 2º, o período entre a sede vacante e o anúncio do novo papa ficou mais rápido.
O recém-falecido papa Francisco, por exemplo, foi escolhido em dois dias (12 e 13 de março de 2013) e após cinco escrutínios.
Dezenas de artesãos, todos com capacetes brancos, já terminaram os trabalhos de adaptação da Capela Sistina para o conclave, marcado para iniciar no dia 7 de maio. Os bombeiros revisores e as restauradoras, idem.
Divina Sistina
A Sistina foi afrescada pelo célebre Michelangelo Buonarroti quando ele tinha pouco mais de 30 anos de idade.
Além da história bíblica dos afrescos e da iconografia, sendo um dos destaques o nascimento de Adão, a Capela passou a ser o lugar, a partir de 9 de março de 1513, reservado às eleições dos papas.
Ela foi construída por Sisto 4º, da poderosa família lígure Della Rovere, cujo brasão era um carvalho, mostrando dureza e força.
O sobrinho de Sisto 4º, o papa Júlio 2º, foi quem contratou Michelangelo e com ele litigou durante os trabalhos que atrasaram, pela grandeza.
Júlio 2º até desistiu da ideia de construir uma "tumba monumental" no interior da basílica para os espólios de Pedro. Intrigas não faltaram com o então jovem pintor Rafael, cogitado como substituto de Michelangelo pelas mãos de Bramante, arquiteto e pintor influente —para apressar a obra, o papa atrasava os pagamentos, e Michelangelo chegou a um estado de total penúria, com muitas dívidas.
Atenção: o primeiro papa eleito na capela Sistina foi Giovanni de Médici, de 38 anos e segundo filho do poderoso florentino Lorenzo de Médici, que entrou para a história como "o Magnífico".
Giovanni adotou o nome de Leão 10º e foi um dos piores papas da história da Igreja, apontado pelo historiador Francesco Guicciardini como adepto de práticas sodômicas.
Surpresa
Na Sistina, sempre aconteceram surpresas. O papa Nicolau 1º, no seu breve pontificado (1059-1061), baixou uma decretal, só admitindo o voto pelos cardeais e bispos romanos.
Com o tempo, o colégio ampliou-se, e a Igreja conseguiu se livrar dos poderosos —em especial, da influência dos imperadores.
Amanhã, votarão os membros do Colégio dos Cardeais com menos de 80 anos e espalhados pelo mundo.
Como sabido, muitos entram na Sistina como favoritos e, passados os primeiros escrutínios, empacam no número de votos e são rifados.
As especulações são muito comuns. Para os vaticanistas, os jornalistas especializados em Vaticano, os progressistas serão, dentre os purpurados com voz forte, os responsáveis por pavimentar o caminho aberto pelo falecido papa Francisco.
Dentre as especulações, vozes por enquanto fracas, "flatus vocis" (o latim é a língua oficial do Vaticano), anunciam haver chegado o momento para a eleição de um papa africano.
Fala-se, também, num asiático, das Filipinas, como nome de peso forte. Já tivemos o polonês Wojtyla (João Paulo 2º), o alemão Ratzinger (Bento 16) e o ítalo-argentino Bergoglio quebrando preferências sobre clérigos italianos.
Poderemos, com efeito, ter surpresa. Afinal, a surpresa é marca da Sistina.
O papa Júlio 2º surpreendeu ao escolher, para remodelar a capela, um escultor consagrado pelas obras Pietà e David, e não por realizar afrescos.
Uma má surpresa será a escolha de um conservador, numa volta ao tempo de Ratzinger, que fechou a Igreja em rígida doutrina, de modo a afastar fiéis, além do escândalo com o banco do Vaticano (IOR), o Vatileaks e a pedofilia encoberta.
Um novo papa humanista e pacifista, como foi o falecido Bergoglio, ajudará muito nestes tempos bicudos. Tempo de guerras, de autocratas assassinos. E até de republicano amalucado, cabotino, com dificuldade em cumprir a Constituição americana, além de dar de ombros à garantia do devido processo legal, de modo a perseguir e deportar imigrantes, rotulados como criminosos e assassinos.
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