Há uma mulher que sabe lidar com Trump e enquadrá-lo

Trump está irritado quanto aos comentários, mundo afora, atribuindo a ele a responsabilidade pela eleição, no Canadá, do premiê liberal Mark Carney.
Politicamente, fala-se que Trump ressuscitou o defunto Partido Liberal do Canadá, vencedor das últimas eleições gerais.
Depois da queda do primeiro-ministro Justin Trudeau, todos apostavam na vitória eleitoral da oposição, a ponto de ela formar maioria no Parlamento e começar a chefiar um novo governo.
Carney usou o discurso de Trump para o seu partido ganhar a eleição e formar maioria no Parlamento.
Diversas vezes, Trump repetiu que transformaria o Canadá, uma nação soberana, no 51º estado norte-americano, dada a absoluta dependência econômica canadense dos EUA.
Carney usou isso, colocou o partido em vantagem e levou a eleição.
Agora, sem saber o que fazer, Mark Carney baixou ontem em Washington para uma visita a Trump. Deixou o enfrentamento anunciado na campanha e partiu para a via diplomática.
Lembrando: Carney jogou na cara de Trump a frase sobre o Canadá "não estar à venda". A frase viralizou e despertou o nacionalismo nos canadenses.
Mas Carney, pós-eleição, não sabe o que fazer com Trump e as suas taxações absurdas.
Trump no golfo Pérsico
Atenção, também não sabem se devem confiar ou não em Trump os dirigentes dos chamados países do golfo Pérsico. O que fazer com ele continua sendo uma interrogação.
Por seu turno, Trump está de malas prontas para aterrissar na Arábia Saudita no dia 13 de maio.
Participará de um encontro comandado pelo príncipe saudita, Mohammad bin Salman, com os líderes de Emirados Árabes, Qatar, Oman, Kuwait e Bahrein.
Como todos sabem, Trump, que já manda no premiê israelense Benjamin Netanyahu e quer controlar a distribuição, por empresa norte-americana, da alimentação aos palestinos da faixa de Gaza, pretende fechar, com os representantes sunitas do golfo, um pacto contra o xiita Irã.
Numa teocracia dividida, o velho e doente Ali Khamenei é visto como empecilho para a paz no Oriente Médio e por apoiar o terrorismo. Sua meta é dominar a região.
O Irã municia os houthis do Iêmen. Os houthis infernizam a navegação dos petroleiros sauditas e os seus mísseis mostram, como aconteceu na semana passada, capacidade para atingir o principal aeroporto de Israel, com dribles nos dois sistemas de interceptações utilizados.
A mulher que sabe enquadrar Trump
Enquanto líderes de diversas nações soberanas têm dificuldades em tratar com e confiar no mercurial Trump, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, tira de letra, como se diz no popular.
Um exemplo deixa tudo claro. Dias atrás, Trump convocou a imprensa para criticar Sheinbaum, acusando-a de ser covarde —de ter medo dos cartéis mexicanos e de não aceitar a intervenção militar americana no México.
Diante da acusação, qualquer outro chefe de Estado sairia criticando com veemência a proposta de Trump. Para a presidente Sheinbaum, a resposta foi agradecer e dizer que não aceitaria nenhuma violação à soberania do México.
Mas não parou aí. Além de não se ofender com a provocação, disse que continuará a se comunicar normalmente com Trump: "A comunicação é muito boa. Por vezes, não estamos de acordo, mas isso fica sempre declarado nos telefonemas e existe respeito mútuo".
Sheinbaum não bate de frente com Trump. Ela soube avaliar bem o episódio com o presidente ucraniano Zelensky, logo no primeiro encontro na Casa Branca.
Na verdade, Sheinbaum sabe dizer não, sem golpear a vaidade de Trump.
Algo importante a considerar: a presidente tem mais de 80% de aprovação popular. Nenhum mexicano acha que ela tem medo dos cartéis mexicanos.
Sheinbaum tem ampla maioria no Parlamento e, quando a resposta a Trump tem de ser mais dura, o seu partido, de sigla Morena (Movimento Regeneração Nacional), sai na frente: "A soberania nacional não é negociável", constou da nota do partido.
Trump fala dos violentíssimos cartéis mexicanos de drogas, mas pretende, de dentro do México, segurar os desejosos de ingressar nos EUA. A questão do narcotráfico vem em segundo lugar, ou melhor, ela não seria prioritária para Trump, com tropas dentro do México. De fato, os americanos são os grandes consumidores da cocaína introduzida pelos cartéis mexicanos.
Mas até as múmias do magnífico Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México sabem o quanto foi ruinoso para o México entrar na "war on drugs" (guerra às drogas) do então presidente George W. Bush. O presidente mexicano da época, Felipe Calderón, arruinou-se politicamente.
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