Wálter Maierovitch

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Opinião

Trump é incógnita no cara a cara entre Putin e Zelensky na Turquia

O presidente Donald Trump mal chegou ao aeroporto Rei Khalid de Riad (Arábia Saudita) e já deixou a tripulação de sobreaviso, pois poderá interromper a agenda com os países árabes do Golfo e rumar para Istambul.

Numa jogada geopolítica e geoestratégica do presidente russo Vladimir Putin, acertado com o ditador turco Recep Tayyip Erdogan, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky foi convidado para uma reunião de busca de paz e consequente fim da guerra iniciada pela Rússia.

Preterido, jamais

Trump sentiu-se preterido, mas pressionou Zelensky a aceitar o cara a cara proposto.

O ucraniano colocou a condição de um cessar-fogo com 30 dias de duração, mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, adiantou-se e ressaltar a não interrupção dos ataques. Para deixar isso claro, a Rússia intensificou os ataques à Ucrânia e está preferindo os noturnos.

A lembrar. Putin e Zelensky encontraram-se apenas uma vez, em 2019. Foi após a eleição de Zelensky, em segundo turno, com 72,3% dos votos.

Com Putin e Zelensky em Istambul, ainda que sem cessar-fogo, o "excluído" Trump passou a alardear a sua presença. Lógico, quer assumir o protagonismo. Antes de embarcar para Riad, soltou a seguinte frase: "Estou pensando em ir a Istambul".

No campo do direito internacional, um acordo de paz sem coações colocará debaixo do tapete a grave violação decorrente da invasão da soberania ucraniana. Em outras palavras, os tribunais internacionais darão por prejudicadas as representações, e a prisão preventiva de Putin será levantada.

Os europeus, no momento, engolem o sapo de ficarem fora quando, para a União Europeia, a segurança e a soberania da Ucrânia são cruciais aos interesses de todo o Ocidente. Nas primeiras conversas, Trump foi direto a Putin e deixou Zelensky e as lideranças europeias de fora.

Com Trump presente na Turquia, advertem os especialistas, Putin poderá insistir no não ingresso da Ucrânia como Estado-membro da Aliança Atlântica. No particular, contará com o apoio de Trump.

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A porta ficará aberta, sem oposições de Putin e Trump, ao ingresso na União Europeia. E tem mais, o cara a cara não será de capitulação, ou seja, Putin também terá de ceder.

Corrupção, problema ucraniano

A diplomacia russa já informou Putin da dificuldade que a Ucrânia terá para ingressar na União Europeia. O obstáculo maior é a galopante corrupção: Zelensky ganhou a eleição com o discurso de combatê-la, mas, com a guerra, sua preocupação mudou.

No final de 2024, um levantamento feito pela Agência Nacional de Prevenção à Corrupção mostrou a posição dos ucranianos: para 90% deles, a corrupção avança e piora.

Ora, a União Europeia, para a recuperação da Ucrânia, teria de disponibilizar vários fundos de investimentos, tudo com a certeza de desvios e apropriações em um país afetado pela corrupção.

Outro problema diz respeito ao fato de a Ucrânia passar à frente de países no aguardo da aprovação, como o caso da Sérvia, que espera há 15 anos um sinal verde para o ingresso na União Europeia.

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America first

Numa análise fria, um cara a cara sem Trump não resultará no fim da guerra. Servirá, no entanto, para revelar as razões claras pelas quais o conflito não termina.

O cara a cara com o intruso Trump poderá resultar em propostas de acordos comerciais com promessa de fim da guerra. As terras raras ucranianas assanham Trump, enquanto Putin está interessado na expansão territorial e, fala-se entre os 007 da inteligência europeia, no desejo em ocupar um enclave na Moldávia.

Trump atira para todos os lados, como se diz no popular. Para isso, ele ergue a bandeira de líder da "America First" (em primeiro lugar, o interesse americano).

Até o momento, a agenda belicosa de Trump só se complica.

Trump tem na agenda internacional as seguintes e complicadas questões:

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  • 1 - tarifas, que ele suspendeu até julho próximo;
  • 2 - guerra Rússia x Ucrânia;
  • 3 - Otan e europeus;
  • 4 - Gaza, Hamas e Netanyahu, do qual está tomando distância, a ponto de negociar diretamente com o Hamas e lograr a libertação do soldado israelense com cidadania americana;
  • 5 - Síria, com apoio ao novo governo;
  • 6 - Irã e o problema nuclear, tendo conseguido negociar com os houthis do Yemên, financiados pelos aiatolás iranianos, o não ataque às embarcações americanas;
  • 7 - o conflito entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares;
  • 8 - apossamento da Groenlândia;
  • 9 - reaproximação com o Canadá, depois do sonho alucinante de esse Estado-Nação tornar-se o 51º estado americano.

Num pano rápido, o encontro de quinta-feira próxima, em Istambul, continua uma incógnita.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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