Wálter Maierovitch

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Opinião

Bibi Netanyahu ataca de mãos dadas com Donald Trump

Segundo os canais oficias de Israel, os ataques realizados contra o Irã ontem, buscavam três objetivos: a destruição do programa atômico iraniano, as instalações militares de mísseis e os assassinatos, concretizados, de Hossein Salami e Ghomami Rashid. O primeiro era comandante dos Pasdaran, a Guarda Revolucionária criada pelo aiatolá Ruhollah Kkomeini. O segundo era o vice-chefe do estado-maior das forças iranianas, Gholami Rashid

Os assassinatos teriam sido realizados pelo Mossad, serviço de espionagem israelense que, em julho do ano passado, havia eliminado Ismail Haniyeh, então líder político do Hamas, que se encontrava em visita oficial.

Digitais de Trump

Fontes da inteligência europeia informaram sobre uma conversa telefônica, na última segunda-feira, e com duração aproximada da 40 minutos, entre o presidente Trump e o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu.

Neste mesmo dia, Netanyahu determinou ao Estado-Maior das forças militares a preparação, para quinta-feira (ontem), do início dos ataques ao Irã.

É evidente que uma desaprovação de Trump não encorajaria Netanyahu a correr o risco de levar o seu país a uma guerra regional. E o direito internacional, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, virou letra morta em termos de inibir conflitos bélicos.

Mais ainda: se não ocorrer uma guerra regional, o Irã não deixará de promover retaliações, com mais intensidade da que foi feita no ano passado e que tanto incomodou os israelenses.

E sobre as Cortes Internacionais de Justiça, o fato de nem Netanyahu nem Putin estarem presos mostra que as ordens judiciais não estão sendo levadas em conta.

Política interna conturbada não impediu ataque

O plano de ataque ao Irã foi mantido apesar da tempestade política da última quarta-feira em Israel, na véspera do bombardeio.

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Por apenas dois votos, o Parlamento do estado da estrela de David (Knesset) não promoveu a queda do gabinete de Netanyahu: os dois partidos ortodoxos da coalizão, com dificuldades para manter o privilégio de os estudiosos da religião não prestarem serviço militar, assustaram Bibi Netanyahu.

Bibi sabia bem que a maioria dos cidadãos israelenses, cujas famílias fornecem os seus filhos às tropas, querem o fim do tal benefício, considerado odioso e antipatriótico. Além de serem isentos do serviço militar, os religiosos recebem remuneração do Estado para estudarem os textos sagrados.

A oposição, anteontem, votou em peso contra Netanyahu. Os dois partidos religiosos não conseguiram unidade e dois de seus membros votaram a favor do governo. O premiê israelense sobreviveu politicamente por um triz.

Embora a tradição israelense ensine não se trocar o chefe de governo durante uma guerra, e há 19 meses Israel e Hamas estão em luta, com mais de 55 mil palestinos mortos (entre os quais civis inocentes, com crianças, idosos e mulheres incluídos)., Netanyahu, sem coalização de sustentação, quase assistiu ao fim da tradição.

Nesta semana, ainda, foram suspensas as negociações entre Washington e Teerã sobre o "acordo nuclear", fato que irritou Trump. A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) criticou Teerã e mencionou elevados riscos em face do poderio atônico em mãos da teocracia iraniana.

Como se percebe sem esforço, os ataques anunciados na conversa telefônica entre Netanyahu e Trump tiveram o apoio do presidente.

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Bibi balança, mas não cai

Netanyahu precisa se manter-se na cadeira de primeiro-ministro, porque, se deixar o cargo, terá de amargar um processo criminal recheado de provas de corrupção.

E também uma investigação sobre a sua responsabilidade com a política segurança e de inteligência. Essa política, como sabe até o Muro das Lamentações, criou, na opinião de muitos analistas, as condições para o Hamas promover os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023.

Bibi permitia os repasses financeiros feitos pelo Catar ao Hamas. Para o premiê, o financiamento ao povo palestino da faixa de Gaza mantinha pacífico o Hamas. As verbas, no entanto, foram desviadas e até uma sofisticada rede de túneis foi construída pela organização para ajudá-la na guerra contra Israel, fora a disponibilidade monetária para aquisição e estocagem de armas e munições.

Com o ataque ao Irã, um estado teocrático que sempre prometeu riscar Israel do mapa, e o apoio incondicional de Trump, o premiê Netanyahu continuará sobrevivendo às tempestades políticas internas.

Mais ainda, com o apoio de Trump, ele, como já frisou diversas vezes, poderá concluir o seu projeto de mudar o Oriente Médio: onde, para Netanyahu, não cabe o estado nacional palestino.

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O sonho de Bibi coincide com o de Trump e este promove grande esforço para convencer a Arábia Saudita a encampar a iniciativa, com um Irã bastante enfraquecido e com dissensos internos sobre a sucessão do chefe supremo Ali Kamenei, velho e doente.

É bom lembrar que o Irã xiita sentiu a perda de força dos seus dois principais tentáculos: Hamas e Hezbollah. Na Síria, caiu o ex-ditador Bashar al-Assad, aliado do Irã e da Rússia.

Houve ainda o enfraquecimento dos houthis, do Iemên, que, além de atacar esporadicamente Israel, prejudicam os países árabes do Golfo, todos sunitas e cientes da meta expansionista do Irã.

Nesse caldeirão, só uma coisa é certa, a paz está cada vez mais distante.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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