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Material que acusa Marina Silva de ter invadido fazenda é enganoso

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

24/08/2018 18h25

É enganosa uma imagem que circula no WhatsApp com um texto acusando a candidata à Presidência da República pela Rede, Marina Silva, de ter invadido uma fazenda no Acre em 1986 de maneira semelhante ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Na verdade, a foto mostra um “empate”, manifestação feita por seringueiros para tentar impedir o desmatamento na Fazenda Bordon, em Xapuri (AC).

A assessoria de Marina negou que a imagem esteja relacionada à invasão de terras ou ao MST. Segundo a nota da candidata, no “empate” os manifestantes se colocavam em frente às árvores para impedir sua derrubada. De acordo com a assessoria, o coordenador do movimento de seringueiros era o ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.

Em artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, o antropólogo Mauro de Almeida descreveu o empate liderado por Chico Mendes na fazenda Bordon. Segundo o acadêmico, o ambientalista coordenou “cerca de cem seringueiros, que caminharam durante três dias pelas coivaras enegrecidas e fumegantes de florestas recém-queimadas”. Entre os participantes do protesto estavam “um fotógrafo, dois agrônomos, um antropólogo e uma jovem professora sindicalizada, Marina Silva”.

Marina recordou o episódio em discurso feito no Senado, em 14 de novembro de 1996, quando ela representava o Acre na Casa. “Após andarmos seis horas a pé, chegamos onde os fazendeiros iriam derrubar ilegalmente 700 hectares de floresta. Enfrentamos os peões e a Polícia -- paga com o dinheiro público --, que estavam ali de prontidão para defender os interesses dos fazendeiros e percebemos que éramos impotentes para resolver um problema tão grande. Voltamos a pé e foi necessária uma engenharia enorme para permanecermos na luta”.

Em reportagem publicada em 2013 pelo portal “G1”, a zeladora Maria Elvana Pereira relembrou sua participação no mesmo ato, quando tinha 15 anos. Como nos relatos anteriores, ela indica que os seringueiros não permaneceram ou ocuparam a fazenda. “Foi todo mundo e quando chegou lá tava a peãozada derrubando tudo e o Chico Mendes de frente, para a gente falar com os chefes lá, e eu no meio toda animada. [...] Aí voltamos e em seguida o Chico Mendes fez um ato público e disse que estava sendo ameaçado de morte, que sabia que ia morrer e ele não queria que ninguém deixasse. Ele queria que continuasse a luta".

Outro elemento que reforça que a imagem não retrata uma ocupação do MST é o fato de o movimento não estar organizado no Acre. “Não realizamos, até então, nenhuma ocupação por lá. Ou seja, não temos um nível de organicidade construída, nem assentamentos ou acampamentos”, informou a assessoria do grupo, fundado oficialmente em 1984, no Paraná.

A foto com a informação falsa apareceu como altamente compartilhada, nos últimos dias, no Monitor de WhatsApp, ferramenta desenvolvida pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) para acompanhar conteúdos difundidos em grupos abertos.

Há uma outra versão do boato. A diferença deste é que o texto é mais assertivo. Ele indica, também falsamente, que a imagem retrata Marina Silva "liderando a quadrilha do MST" em uma invasão de fazenda e chama a presidenciável de “bandida”. O site e-farsas também já desmentiu a ligação do ato de Marina com o MST.

Agora o material foi verificado pelo jornal “O Estado de S.Paulo” e pela “Gazeta Online”, além do UOL, todos integrantes do projeto Comprova.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.