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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Não há indícios de que quadrilha presa na Bahia tenha relação com Haddad

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

24/10/2018 15h24

Ao contrário do que afirmam textos em sites políticos, não há evidências de que suspeitos de integrar uma quadrilha que tentava sacar um cheque de R$ 68 milhões no município de Poções, na Bahia, atuavam para beneficiar o presidenciável Fernando Haddad (PT). É falso que a Polícia Civil baiana tenha encontrado qualquer ligação entre o grupo e a campanha do petista. A investigação aponta para crimes de estelionato, sem relação com a campanha presidencial.

A desinformação circula em sites em formato de notícia: “Quadrilha detida sacando 68 milhões para Haddad”, diz o título de uma delas, publicada no site “Terça Livre”. O conteúdo também circulou no YouTube, no Facebook e no Twitter.

Para fazer a ligação direta entre o cheque milionário e Haddad o site se baseia em um pronunciamento feito, em vídeo, pelo vereador Davi Salomão, da cidade de Vitória da Conquista (BA). O parlamentar é do PRTB, partido do general Hamilton Mourão, vice do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

“Segundo informações, o dinheiro era pra ser investido na campanha de Haddad, 13, PT. Estão tentando abafar por lá, tentando dizer que era estelionato”, afirmou Salomão, no dia 19 de outubro, dois dias após os suspeitos serem presos. Na gravação, ele pede para que a Polícia Federal entre na investigação.

O projeto Comprova perguntou ao vereador quais dados ele tinha para fazer o vínculo entre o crime e a campanha de Haddad. O parlamentar respondeu que “alguém com legitimidade para tal” disse a ele que, em depoimento, um dos presos falou que o dinheiro era para a campanha de Haddad.

O Comprova, então, pediu detalhes sobre o caso à Secretaria Estadual de Segurança Pública da Bahia, órgão ao qual a Polícia Civil é subordinada. A pasta negou que a investigação tenha apontado para alguma espécie de crime eleitoral. A instituição trata o caso como “quadrilha de estelionatários”.

Em nota, destacou declaração do diretor do Depin (Departamento de Polícia do Interior), delegado Flávio Góis, que descarta “ligação da quadrilha com grupo político”, diferentemente do boato disseminado nas redes sociais. "Lamentável. Esse tipo de uso equivocado da informação ainda atrapalha a investigação", afirmou o delegado.

Questionado se apurava alguma ligação entre a tentativa de saque e grupos políticos, o Ministério Público Estadual da Bahia informou que “não localizou nenhum expediente nesse sentido”. Acionado pelo Comprova, o TRE-BA (Tribunal Regional Eleitoral da Bahia) disse que “até o momento não foi formalizada nenhuma denúncia sobre o assunto”. Explicou, ainda, que, caso receba alguma denúncia no futuro relacionada a algum presidenciável, ela deverá ser encaminhada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Veículos de imprensa da Bahia acompanharam a prisão dos suspeitos no último dia 17 e não mencionaram nenhuma relação com a campanha presidencial (como aqui e aqui). Onze pessoas foram presas quando tentavam sacar o cheque em uma agência do Banco do Brasil da cidade de Poções. A gerência desconfiou da movimentação e chamou a polícia.

O link do “Terça Livre” com as acusações do vereador contra Haddad foi impulsionado em perfis no Twitter, como o do cantor Roger, do Ultraje a Rigor. O cantor Netinho postou a imagem com a desinformação em seu perfil no Instagram. Ambos são apoiadores de Bolsonaro. O site “republicadecuritiba.net” também chegou a publicar a falsa informação, mas depois excluiu o material.

A peça de desinformação foi verificada pelo “Estadão”, pela “Gazeta Online” e pelo jornal “O Povo”, além do UOL, “SBT”. “Jornal do Commercio”, “Nexo”, rádio “GaúchaZH” e “Poder360”, todos integrantes do projeto Comprova.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.