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Frente fria prova que aquecimento global não existe?

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UOL Confere Imagem: Arte/UOL

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

20/07/2017 12h41

A chegada de uma onda de frio no país, que fez os termômetros atingirem a mínima de -8,8 ºC, em Bom Jardim da Serra (SC), levou muitos brasileiros a questionarem a existência do aquecimento global. O fenômeno seria um mito?

Como explica Francisco Aquino, climatologista da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a frente fria que atingiu o Brasil é um evento comum nos invernos e o aquecimento global não determina seu fim. No entanto, o que é anormal e está relacionado com o fenômeno ambiental, segundo ele, é termos temperaturas altas durante o fim do outono e o inverno.

"Junho foi mais quente do que o normal, tanto no Brasil como no mundo, com exceção do oeste da Rússia", aponta Aquino, que diz que o país registrou temperaturas de 1,5 ºC a 3 ºC acima do normal.

A expectativa é que esse aumento também se repita neste mês. "E não são eventos como a La Niña ou o El Niño que influenciam essa anomalia, mas sim o aquecimento global, que é mais do que real." 

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Mapa mostra que o mês de junho foi mais quente do que o normal em todo o mundo, com exceção do oeste da Rússia
Imagem: Fonte: Noaa

Por que parece que fez mais frio?

A estranheza em relação a esta frente fria, de acordo com o especialista, deve-se principalmente às mudanças abruptas de temperaturas. Como a média de temperatura está mais alta do que seria o esperado para o período, temos impactos maiores quando chega uma massa de ar polar como a dos últimos dias. 

A cidade de São Paulo, por exemplo, registrou uma queda de 17°C em apenas 24 horas. Na segunda-feira (17), os termômetros no Aeroporto de Congonhas, zona sul, marcavam 25°C às 16 horas. No mesmo horário na terça-feira, o registro era de apenas 8°C.

O fenômeno que atingiu o Brasil, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), é reflexo de uma "massa de ar polar" que veio da Argentina, do Chile e do Uruguai.

"Não há nenhuma novidade em relação a esse fenômeno, até porque ele é bem comum ao nosso inverno. Algo que não quer dizer que não exista o aquecimento global", relatou o instituto.

É importante lembrar que um recorde de frio em um dia no ano não diz muito sobre o clima. Já que as temperaturas globais não aumentam de forma linear e uniforme. São muitos fatores que interagem simultaneamente. Por exemplo, há o El Niño, um fenômeno climático que, nos últimos anos, causou frequentemente altas temperaturas. Além de causar inundações em certas partes do mundo e secas em outras, o El Niño acarreta também temperaturas recordes temporárias – como no ano de 1998.

No entanto, vemos um progressivo aumento das temperaturas médias ao longo dos anos. 

"Para algumas pessoas, o aumento da temperatura da Terra em 0,5 ºC e 1 ºC nos últimos 20 a 30 anos pode não significar muita coisa, mas é justamente ele que causa os fenômenos extremos como tornados", cita Aquino.

Frio_SP - Nelson Antonie/Estadão Conteúdo - Nelson Antonie/Estadão Conteúdo
Paulistas enfrentam forte frio pelas ruas da cidade de São Paulo
Imagem: Nelson Antonie/Estadão Conteúdo

2016 foi o ano mais quente da história

Considerando a média global das temperaturas nas superfícies terrestre e oceânica durante todo o ano, a Noaa (agência americana responsável por monitorar atmosfera e oceanos) descobriu que os dados de "2016 foram os mais altos desde que início dos registros, em 1880".

A média da temperatura da Terra ficou 0,94ºC acima da média do século 20. Desde o início dos anos 2000, o recorde de temperatura global anual foi quebrado cinco vezes (2005, 2010, 2014, 2015 e 2016), segundo a agência.

A principal razão para o aumento das temperaturas é a queima de combustíveis fósseis, como petróleo e gás, que emite dióxido de carbono, metano e outros poluentes conhecidos como gases de efeito estufa na atmosfera e aquece o planeta.

Os impactos crescentes da industrialização no equilíbrio natural da Terra se tornam cada vez mais evidentes nos registros.

Em todo o planeta, o calor levou a um maior derretimento nos polos. No Ártico, a extensão média anual de gelo marinho foi de aproximadamente 10,2 milhões de quilômetros quadrados, a menor já registrada, segundo a Noaa.

"Na Antártica, a extensão anual de gelo marinho de 2016 foi a segunda menor registrada, atrás de 1986, com 11,16 milhões de quilômetros quadrados", disse.

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