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Aquecimento global interfere no aumento dos furacões?

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Tai Nalon

Do Aos Fatos

09/09/2017 19h09

Sob a influência de Harvey, Irma e Katia, as redes sociais foram inundadas nesta semana de informações e curiosidades a respeito da relação entre o aquecimento global e o aumento da frequência de furacões no Atlântico Norte --e também de terremotos. 

A reportagem do "Aos Fatos", com auxílio de parceiros da IFCN (International Fact-Checking Network), como o Factcheck.org, checou as dúvidas mais comuns em relação ao impacto das mudanças climáticas nesse tipo de fenômeno natural. 

O aquecimento global contribui para o aumento da intensidade de furacões? E para o aumento de sua frequência? Furacões podem causar terremotos? Qual a interferência do aquecimento mundial nesses fenômenos?

É consenso que aquecimento global causa mais furacões? 

INSUSTENTÁVEL, PORÉM...: As mudanças climáticas não provocaram os furacões Harvey, Irma ou, no passado, o Katrina, mas podem ter tornado o potencial destrutivo desses eventos climáticos mais intenso.

A mais recente análise sobre a relação entre a incidência de furacões e as mudanças no clima do planeta aponta que "atividades humanas" contribuíram para o aumento na frequência de furacões no Atlântico Norte --justamente a região atingida por três furacões no início de setembro.

As informações constam de um artigo a ser publicado na CSSR (U.S. Global Change Research Program's Climate Science Special Report) assinado por cientistas da Fundação Nacional para a Ciência dos Estados Unidos, da NOAA (agência americana de administração oceânica e atmosférica) e da Nasa (agência espacial norte-americana).

"Virtualmente, todos os estudos identificaram uma influência humana quantificável, geralmente substancial [para o aumento das atividades de furacão]", diz a pesquisa. Os pesquisadores se dizem "extremamente confiantes" na relação entre o aumento na temperatura global, a frequência e a intensidade de fortes precipitações em diferentes regiões do planeta.

A intensidade desses fenômenos naturais tende aumentar com o aumento da temperatura global tanto na média quanto em seus extremos, de modo que as tempestades mais violentas deverão futuramente exceder recordes históricos

pesquisadores da NOAA e da NASA

Não há consenso, entretanto, se a quantidade de furacões e outros tipos de tempestades tem se alterado e se isso acontece em decorrência da atividade humana e do aquecimento global. No caso do Pacífico Norte, o estudo mostra ainda que as localidades onde ciclones tropicais atingem seu pico intensidade têm se alterado. Essa migração tem mudado substancialmente, aumentando o risco de exposição a desastres. 

Essa pesquisa ecoa os resultados de um dos estudos mais abrangentes sobre o tema: em 2013, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU publicou um documento confirmando que cientistas de diferentes países estavam "virtualmente convencidos" de que, desde a década de 1970, interferências humanas alteraram o clima no Atlântico Norte.

Os cientistas afirmam que análises feitas por satélite mostram que indicativos de aumento na intensidade de tempestades no Atlântico são robustos.

Séries históricas verificaram tendência de alta em características como dissipação de energia, frequência, duração e intensidade de ciclones tropicais nessa região do planeta. A constatação não vale necessariamente para outras regiões, no entanto.

O aquecimento global provoca mais terremotos, como o ocorrido no México?

INSUSTENTÁVEL: não é possível afirmar que o terremoto ocorrido no México nesta sexta-feira (8) tenha relação com os furacões verificados no Caribe e no Golfo do México nesta semana.

Porém, cientistas têm investigado uma possível relação entre atividades sismológicas e a ocorrência de eventos climáticos extremos. As descobertas ainda são incipientes.

Segundo a revista "Nature", um grupo de cientistas nos Estados Unidos tem observado desde 2009 a relação entre a ocorrência de furacões e pequenos terremotos na Ásia.

Ainda é cedo para dizer se é algo verificável em vários casos, mas o sismólogo Shimon Wdowinski, da Universidade de Miami, nos EUA, diz ter encontrado correlação entre fortes tempestades tropicais em Taiwan e grandes terremotos que ocorreram três anos depois.

Segundo ele, a erosão provocada depois de seguidas tempestades pode desencadear mudanças no equilíbrio das placas tectônicas. Há poucos estudos semelhantes que efetivamente comprovem essa investigação para outros eventos.

Um outro estudo publicado em 2011 pelo jornal "Earth and Planetary Science Letters", da Elsevier, mostra que as monções indianas podem de fato ter provocado movimentação das placas tectônicas da região.

Porém, não tem nada a ver com o aquecimento global: o estudo analisou dados de cerca de 10 milhões de anos.

O pesquisador Giampiero Iaffaldano, que comandou o trabalho, afirma que "mudanças climáticas de longo prazo, ou mudanças naturais no clima em milhões de anos, podem mudar o mecanismo de movimentação das placas tectônicas".

Isso é bem diferente de dizer que as temperaturas mais altas têm desencadeado uma série de terremotos pelo planeta.

 

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