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Será que colocar até 20 litros de combustível funciona para evitar fraudes?

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/06/2018 04h00

Adulterações em postos de combustíveis não são novidade. De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), 28% dos 20 mil postos fiscalizados em 2017 receberam auto de infração por desrespeitarem alguma regra do setor.

Recentemente, uma corrente que circula pelo WhatsApp traz uma sugestão de como não cair em fraudes. Segundo a mensagem, donos de postos programam as bombas para começarem a colocar menos combustível depois que atingem a marca de 20 litros.

"A bomba passa no teste porque a fiscalização retira apenas, para o teste de medição, um galão (de 20 litros) e dessa maneira não consegue detectar a fraude", diz a corrente. "Por isso só se deve abastecer colocando 20 litros de cada vez, mesmo que seja no mesmo momento, no mesmo posto, mande abastecer de 20 em 20 litros."

FALSO: Golpe existe, mas colocar menos combustível não adianta

Infelizmente, a tática não serve para evitar fraudes. Segundo Raimundo Resende, diretor de metrologia legal do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), a corrente confunde ao trazer informações verdadeiras e falsas. Em entrevista ao UOL, ele explica que a fraude existe, mas a dica dada não dribla os testes.

"A mentira é que esta fraude não está amarrada à quantidade do litro", afirma Resende. "Nós fazemos, geralmente, duas medidas: de vazão máxima e vazão mínima, então não tem essa de [usar apenas] 20 litros."

Resende afirma que, embora não engane os testes, este tipo de golpe existe. Segundo ele, os sistemas de fraude que colocam menos combustível do que o marcado na bomba independem da quantidade pedida no posto.

"Temos 25 tipos de fraudes catalogadas hoje no Inmetro, essa [de mudar a marcação na bomba] é uma delas", afirma Resende, identificando uma fraude mostrada em reportagem do UOL. "Hoje, os mais mal-intencionados usam componentes eletrônicos, a criatividade é fantástica."

Nem sempre é fácil detectar os criminosos. "Para identificar esse tipo de fraude tem de ser um técnico com aparelhagem adequada", explica o diretor. "Hoje, 13 ou 14 dos 27 estados têm estes profissionais. São Paulo, por exemplo, tem um laboratório avançadíssimo para isso."

Dentre as medidas tomadas pelo Inmetro está o lançamento de um novo sistema criptografado de medição do volume de combustível que detecta outras tecnologias.

As bombas com este sistema deverão começar a ser trocadas a partir do ano que vem, a começar pelas mais velhas, datadas de 2003 e 2004. Segundo Resende, a previsão é que em 15 anos todas as bombas do país estejam com o novo mecanismo.

Procurada pela reportagem, a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes) declarou que "pressupõe que todos os empresários tenham uma boa conduta e trabalhem de acordo com a lei".

Como denunciar

O Inmetro sugere que o consumidor denuncie irregularidades em postos ao órgão ou suas filiações estaduais, como Ipem SP ou RJ. A lista de todas as unidades e telefones está no site do instituto: www.inmetro.gov.br/.

Entre os desvios, estão adulteração ou rompimento do lacre da bomba, suspeita de fraude na quantidade entregue ao cliente e mau funcionamento da bomba.

Também é possível denunciar para a ANP (Agência Nacional do Petróleo) pelo número 0800 970 0267.

Ao UOL, o órgão informou que verifica se a quantidade fornecida pela bomba é a mesma que está sendo registrada, mas "não tem autorização legal para abrir as bombas e fazer outro tipo de fiscalização".

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