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Mensagem falsa alimenta boato de que atentado contra Bolsonaro foi forjado

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/09/2018 19h17

O atentado sofrido pelo candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) em Juiz de Fora (MG), na última quinta-feira (6), causou comoção tanto entre seus apoiadores como entre opositores. Não demorou muito também para inspirar diversas teorias na internet.

Uma delas, que circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagem, afirma que a campanha de Bolsonaro teria articulado um esquema para forjar o ataque e se beneficiar disso eleitoralmente. 

"Fato comprovado: Jair Bolsonaro FORJOU o atentado contra si mesmo para ganhar o coração dos eleitores indecisos", diz a mensagem. "Os indivíduos envolvidos foram avisados, às 13h do dia 6 de setembro (um dia antes da independência do Brasil, para gerar mais comoção), em uma reunião envolvendo o general Villas Bôas (na única vez que o vice-presidenciável da legenda compareceu a uma reunião antes da campanha), o próprio Jair Bolsonaro, a sra. Janaína Paschoal, o sr. Tércio Arnaud Tomaz, assessor do parlamentar, e o sr. Gustavo Bebbiano, presidente do partido PSL, médicos e seguranças envolvidos na atuação."

De acordo com a mensagem, Bolsonaro teria passado por um treinamento de encenação em seu quarto de hotel em Minas. Além disso, o golpe teria envolvido médicos e seguranças, que teriam encoberto a farsa por dinheiro.

"A aceitação veio através do pagamento total dos prêmios, R$ 300 mil para cada um envolvido na atuação, mais um bônus de R$ 2.4 milhões para todos os seguranças, carregadores, médicos, fotógrafos, repórteres e outros integrantes da atuação, em um total de R$ 23 milhões através do caixa 2 do PSL obtido através da empresa JBS".

Caso o deputado ganhe a eleição, a mensagem diz que todos os envolvidos na suposta armação ganhariam regalias no novo governo.

FALSO: mensagem sobre atentado forjado não procede

A corrente não passa de mais uma teoria da conspiração que circula pela internet sobre o caso. O Hospital Albert Einstein confirmou que o pré-candidato está internado em sua unidade por causa de um ferimento causado por arma branca. Além disso, o texto falso identifica o general Eduardo Villas Bôas (comandante do Exército) como vice na chapa de Bolsonaro, posto que, na verdade, é ocupado pelo general da reserva Hamilton Mourão (PRTB).

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Bolsonaro chegou ao hospital na capital paulista na manhã da última sexta-feira (7), no dia seguinte ao atentado em MG, e está internado na unidade, localizada no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo, desde então.

O hospital confirma que o deputado teve um ferimento na região abdominal. De acordo com a equipe médica do Einstein, seu estado nesta segunda-feira (10) ainda é grave e ele deverá passar por novos procedimentos.

"O paciente tem uma colostomia, que foi feita em função de lesões graves do intestino grosso e delgado. Será necessária nova cirurgia de grande porte posteriormente, a fim de reconstruir o trânsito intestinal e retirar a bolsa de colostomia", afirma boletim do hospital.

Procurada pelo UOL, a assessoria de comunicação do deputado afirmou repudiar a circulação de notícias falsas a cerca do atentado. A reportagem também contatou a direção nacional do PSL, mas não teve resposta até o fechamento da matéria.

A Polícia Federal, que investiga o caso, também já descartou qualquer possibilidade do atentado ter sido forjado. A PF mantém como principal tese de investigação a de que o homem acusado de esfaquear Bolsonaro tenha agido sozinho. A motivação teria sido a sua discordância em relação a posicionamentos políticos do candidato.

"Se vocês soubessem, ficariam enojados" não é novidade

A corrente conspiratória dedicada ao atentado sofrido pelo deputado é mais uma de uma série de textos fictícios atribuídos a Gunther Schweitzer, que aparece desta vez como suposto diretor de jornalismo da agência de notícias Reuters.

Schweitzer, que já foi chamado de diretor de jornalismo da Rede Globo, entre outras alcunhas, também não trabalha na Reuters. Ele é, na verdade, um professor de educação física do interior de São Paulo, que se lançou recentemente candidato a deputado estadual.

Seu nome ficou famoso na internet há 20 anos, quando foi atribuído a ele uma corrente de e-mail que denunciava que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) teria vendido o título da Copa do Mundo de 1998 para a França, sede e finalista do Mundial. 

O texto tem o mesmo formado do atribuído ao Caso Bolsonaro, só mudam, claro, a situação e os nomes. Não há registro, por exemplo, de que o jornalista esportivo Jorge Kajuru, que aparece na corrente, tenha falado sobre o assunto.

Ao UOL, Schweitzer (o verdadeiro, não o suposto diretor da Reuters) negou que tenha escrito o texto. "Fake news, como sempre", afirma o professor. "Se eu fosse cobrar salário de todas as empresas que me intitularam, estava rico."

Candidato a deputado estadual em São Paulo pelo partido Avante, na chapa do governador Márcio França (PSB), Schweitzer diz que ainda não escolheu seu candidato à Presidência.

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.