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Eduardo Bolsonaro se equivoca sobre agricultura e meio ambiente no Twitter

Arte UOL sobre fotografia de JOSHUA ROBERTS/Reuters
Imagem: Arte UOL sobre fotografia de JOSHUA ROBERTS/Reuters

Anita Grando Martins

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

06/06/2019 04h01

O deputado federal Eduardo Bolsonaro fez uma postagem em sua conta no Twitter com dados sobre agricultura e meio ambiente há cerca de 15 dias. O texto começa com a informação de que o Brasil produz alimentos para um número de pessoas cinco vezes maior que sua população, mesmo não utilizando nem 10% do território para agricultura. Depois, o político afirma que 61% do território do país possui "a mesma vegetação dos tempos de Adão e Eva, enquanto a Europa só mantém 1%".

A publicação cita o livro "Psicose Ambientalista", de 2012, escrito por Bertrand Maria José Pio Januário Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança, mais conhecido como Dom Bertrand. Trineto de Dom Pedro II, o príncipe vem defendendo a restauração da monarquia no Brasil e já afirmou que considera a homossexualidade um "defeito".

FALSO: Dados citados por Eduardo Bolsonaro são incorretos

Todos os dados citados pelo deputado federal em sua postagem estão errados. O primeiro erro é que o Brasil alimenta um número de pessoas cinco vezes maior que a sua população. "É ainda mais, na verdade. Fomos nós que fizemos esse cálculo e o país produz alimentos para 1,5 bilhão de pessoas por ano", afirma o engenheiro agrônomo e gerente do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Luís Fernando Guedes Pinto.

O segundo equívoco é que apenas 10% do território brasileiro é utilizado para agricultura, termo que engloba produção de vegetais e criação de animais.

O número mais atual e preciso é de 30%, de acordo com o Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), iniciativa composta por cerca de 20 ONGs, universidades e empresas de tecnologia, com assessoramento de profissionais de órgãos do governo, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O dado do MapBiomas foi calculado a partir de uma análise de 30 x 30 metros da área do Brasil feita na plataforma Google Earth Engine. O projeto construiu uma série histórica desde 1985.

Adão e Eva

O terceiro erro da postagem de Eduardo Bolsonaro é que 61% do país possui "a mesma vegetação dos tempos de Adão e Eva".

"O Brasil mantém 67% de florestas e vegetação nativa, mas isso não significa mata primária, ou seja, que nunca foi desmatada, desde os tempos da Colônia", diz o coordenador de comunicação do Observatório do Clima, Claudio Angelo - esse e outros dados estão em um vídeo da entidade que esclarece mitos sobre o tema.

O especialista destaca que já foram cortados cerca de 80% da Mata Atlântica, 50% do Cerrado e 20% da Amazônia.

A última informação incorreta é de que a Europa mantém apenas 1% de florestas. A porcentagem real, contabilizando apenas florestas, é de 38%, de acordo com o Centro de Estatísticas da União Europeia.

Considerando também pradarias e bosques, o número chega a 44,8%. Países escandinavos, como Finlândia (72%) e Suécia (69%), apresentam índices mais altos, até porque possuem fortes economias florestais (produção de madeira e celulose, entre outros produtos derivados desses ecossistemas).

Pelo Acordo de Paris, o Brasil deve acabar com o desmatamento ilegal e recuperar 12 milhões de hectares de florestas até 2030.

Guedes Pinto ressalta que esses objetivos estão alinhados às previsões de crescimento da produção agrícola do país. As projeções para o agronegócio até 2028 contidas no Outlook do Agronegócio Brasileiro, documento lançado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, indicam necessidade de aumento de 1,8 milhão de hectares de área cultivada. "O último censo do IBGE mostra que o Brasil tem 170 milhões de hectares de pastagens. Considerando que existem de 30 a 40 milhões de pastagens subutilizadas, vemos que não há a menor necessidade de desmatar para o agronegócio alcançar o que quer", observa Guedes Pinto.

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