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Relação entre vacina e morte de garota de 13 anos ainda é investigada

12.jan.2021 - Post traz alegação insustentável de que adolescente de 13 anos em Santa Catarina morreu por causa da vacina da Pfizer Imagem: Arte/UOL sobre reprodução/Facebook

Rayanne Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

12/01/2022 16h45Atualizada em 12/01/2022 16h56

É insustentável afirmar, até o momento, que a morte de uma adolescente de 13 anos em Araranguá (SC) foi causada pela vacina da Pfizer contra a covid-19, como dizem posts nas redes sociais. A Secretaria de Saúde de Santa Catarina informou ao UOL Confere que o óbito pode estar associado a outras causas e ainda está sendo investigado. Três infectologistas consultados pela reportagem disseram que é necessário fazer uma série de procedimentos para ser possível avaliar a eventual relação entre uma vacina e uma morte.

"O caso foi notificado pelo município como possível Evento Adverso Pós-Vacinação (EAPV), temporalmente associado a aplicação da vacina. No entanto, considerando que a notificação de qualquer EAPV deva ocorrer em um prazo de até 30 dias após o recebimento da vacina, é necessário avaliar com cautela essa informação, pois o óbito pode estar associado a outras causas e não necessariamente à vacina. Sendo assim, o caso está sendo investigado", disse a secretaria.

O presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez Brito, disse que muitas variáveis devem ser conferidas antes de afirmar que uma morte foi causada por uma vacina. Alguns exemplos são o histórico de saúde da pessoa; circunstâncias nas quais a morte ocorreu; descobertas eventualmente feitas na autópsia do corpo; exames laboratoriais; local de vacinação; lote do produto; profissional que aplicou; e efeitos adversos em outros jovens vacinados no mesmo dia e local.

O procedimento adotado em Santa Catarina para analisar as causas da morte da adolescente segue o padrão adotado no Brasil quando há suspeita de reação ligada à vacina, explicou a infectologista Raquel Stucchi, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

"É o estado que analisa toda a documentação. Se for necessário, pede mais exames. A análise [das amostras] é feita por profissionais com grande experiência em vacinas, que não tenham nenhum conflito de interesses em relação ao que aconteceu. Ou seja, que não tenham nenhum vínculo com o paciente que teve uma reação, com o hospital ou laboratório produtor da vacina", disse.

Com a documentação em mãos, o estado forma uma comissão para analisar tudo o que aconteceu com o paciente. O objetivo é concluir se a causa da complicação pode ser atribuída à vacina ou não.

Ao ser questionada se existe algum procedimento específico capaz de provar que uma morte ocorreu devido à vacina, Stucchi disse que para algumas situações, como doenças trombóticas relacionadas às vacinas Astrazeneca e Janssen, existem algumas categorias de exames de sangue que devem ser solicitados. Para vacinas de outras fabricantes, a avaliação deve ser feita com base na situação como um todo.

De acordo com a infectologista Fernanda Grassi, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na Bahia, é preciso observar mais casos para se determinar uma eventual relação de causalidade.

"Para atribuirmos uma possível ligação causal entre a vacina e um determinado efeito, isso só pode ocorrer com números coletivos. Com um caso, individualmente, é difícil fazer uma relação causal", afirmou.

Até o momento, segundo dados disponíveis no site da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), há nove notificações de suspeitas de mortes relacionadas à vacina da Pfizer, sendo uma delas na faixa entre 12 e 17 anos, de um jovem do sexo masculino. O imunizante da farmacêutica é o único indicado no Brasil para menores de 18 anos. De acordo com o site do Ministério da Saúde, cujos dados mais recentes são de domingo (9), adolescentes já receberam 19 milhões de doses da vacina.

Opositores de vacinação infantil compartilham caso

A alegação insustentável de que a vacina causou a morte da adolescente em Santa Catarina partiu de um post feito pela mãe dela no Facebook. O aviso sobre o caso partiu de dois leitores do UOL Confere que sugeriram a checagem pelo email uolconfere@uol.com.br. A publicação, que depois foi apagada, não trazia detalhes capazes de indicar que a morte está ligada ao imunizante. Outro post da mãe afirmando que a filha estava "morrendo por causa da vacina" da Pfizer continuava no ar hoje à tarde, com 22 mil compartilhamentos.

O caso ganhou repercussão nas redes, principalmente entre opositores da vacinação de crianças contra a covid, aprovada pela Anvisa em dezembro e incluída pelo Ministério da Saúde no plano nacional de vacinação na semana passada. A imunização do público entre 5 e 11 anos de idade deve começar na sexta (14), e será feita com uma versão da vacina da Pfizer adaptada para crianças (saiba mais sobre a vacina que será aplicada).

No dia 22 de dezembro, ao divulgar os pareceres completos de aprovação do uso do imunizante para este público, a Anvisa explicou que, "com base na totalidade das evidências científicas disponíveis, incluindo estudos de fase I, II e III, a Agência concluiu que a vacina Pfizer-BioNTech contra Covid-19, quando administrada no esquema de duas doses em crianças de 5 a 11 anos de idade, é segura e eficaz na prevenção da Covid-19 sintomática, na prevenção das doenças graves, potencialmente fatais, ou condições que podem ser causadas pelo Sars-CoV-2."

Checagens publicadas recentemente mostram que, após a autorização da Anvisa, a desinformação sobre a vacinação infantil contra a covid ganhou força. Hoje (12), o UOL Confere mostrou que um grupo de defensores públicos pediu ao governo que dissesse que a imunização de crianças usaria uma vacina "experimental", o que é mentira. Na sexta (7), o Projeto Comprova, do qual o UOL faz parte, esclareceu que a proteção oferecida pela vacina supera o risco de miocardite em crianças.

Esta checagem foi feita após uma sugestão enviada via email por um leitor do UOL Confere. Quer sugerir uma checagem? Escreva para uolconfere@uol.com.br.

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