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Post distorce dados para afirmar que colesterol baixo aumenta mortalidade

25.mai.2022 - É distorcida a afirmação de que para "pessoas acima de 50 anos, quanto menor o colesterol, maior o risco de morte" - Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook
25.mai.2022 - É distorcida a afirmação de que para "pessoas acima de 50 anos, quanto menor o colesterol, maior o risco de morte" Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

18/07/2022 18h42

É distorcida a afirmação de que para "pessoas acima de 50 anos, quanto menor o colesterol, maior o risco de morte", de uma publicação que circula desde 25 de maio no Facebook, mas que omite outros dados do estudo que baseou a postagem.

"Pessoas acima de 50 anos, quanto menor o colesterol, maior o risco de morte. Estudos mostraram que acima de 50 anos, a cada 1 mg/dL de queda no colesterol, há um aumento de 14% de mortalidade cardiovascular", diz a frase na imagem publicada.

A postagem ainda é acompanhada por uma longa legenda que busca ratificar que o aumento de colesterol no nível de sangue é benéfico para pessoas acima de 50 anos.

"Aí você pensa: Meu Deus, este novo estudo vai contra tudo que acreditávamos. Errado. Primeiro que este estudo não é novo, é de 1987, e sim a ciência já sabia disso muito antes desse estudo. Segundo, não só os antigos, mas também os estudos atuais, todos são unânimes: Baixar o colesterol aumenta a doença cardíaca! Sabe porque [sic] o seu médico não sabe disso? Porque ele não estuda a ciência, é alimentado constantemente por um propagandista da indústria farmacêutica, e acredita em tudo que ele fala. Se você jogar Colesterol e Doença Cardíaca em qualquer banco de dados de estudos científicos, não vai encontrar nenhuma comprovação nos estudos controlados e randomizados (que são o padrão ouro da ciência). Todos chegam a (sic) mesma conclusão: As diretrizes sobre o colesterol devem ser revistas", escreveu o internauta que publicou.

A informação é creditada ao artigo "Cholesterol and Mortality: 30 Years of Follow-up From the Framingham Study" (Colesterol e mortalidade: 30 anos de acompanhamento do estudo de Framingham, na tradução para português), publicado em 1987, por pesquisadores do Instituto Nacional do Coração, dos Estados Unidos.

A conclusão que circula nas redes sociais, contudo, é distorcida por omitir dados sobre a pesquisa, realizada com 1.959 homens e 2.415 mulheres, com idades entre 31 a 65 anos, nos anos de 1951 a 1955.

A publicação omite que o estudo avaliou o colesterol total, que inclui o LDL (colesterol ruim) e HDL (colesterol bom). Essa lacuna pode causar a falsa sensação de segurança ao leitor de que toda gordura pode ser benéfica ao organismo.

No estudo citado pela postagem, os pesquisadores também não afirmam que a cada 1 mg de queda de colesterol por decilitro de sangue, a mortalidade de pessoas acima de 50 anos aumenta em 14%.

O que os pesquisadores dizem é que o colesterol abaixo do recomendado (180mg/dl) era constatado em 14% dos homens que morreram por doenças cardiovasculares e em 20% nas mulheres.

Por outro lado, o estudo diz que "espera-se que pessoas cujos níveis de colesterol caíram 14 mg/dL durante 14 anos tenham uma taxa de mortalidade 11% maior nos 18 anos seguintes em comparação com as que possuem níveis de colesterol constantes ou com aumento durante o mesmo período".

Apesar disso, o estudo diz que não há um limite claro "na associação entre os níveis de colesterol total e a mortalidade geral e por doenças cardiovasculares quando são analisados níveis tão baixos quanto 180 mg/dL (abaixo do recomendado)".

Os pesquisadores concluem, portanto, que o ideal para pessoas acima de 50 anos é que os exames analisem não o colesterol total, mas as lipoproteínas de maneira isolada, sobretudo as do tipo B, ligadas ao colesterol ruim (LDL). A do tipo A é a considerada a boa (HDL).

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