Político japonês que se desculpou por vacinas não faz parte do governo
Leonardo Rodrigues
Colaboração para o UOL, em São Paulo
18/06/2024 21h25
O discurso de um parlamentar japonês contra a política de vacinação adotada na pandemia de covid-19 não representa uma posição do governo do Japão.
O político faz parte da oposição local e fez as declarações durante uma manifestação contrária à imunização e à OMS (Organização Mundial da Saúde), não em um evento institucional. Ele não faz parte do governo desde 2010, quando deixou de ser ministro.
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O que diz o post
Uma publicação no Instagram mostra uma imagem de Kazuhiro Haraguchi numa tribuna sobreposta por um texto, que diz: "Líder japonês pede desculpas aos não vacinados: 'Vocês estavam certos, as vacinas estão matando milhões de nossos entes queridos'".
"Kazuhiro Haraguchi, ex-ministro japonês de Assuntos Internos, surpreendeu ao pedir desculpas públicas aos não vacinados, reconhecendo os impactos negativos das vacinas de mRNA contra a Cøvid. Haraguchi, que também sofreu efeitos adversos, criticou a proibição de medicamentos alternativos e a priorização de interesses econômicos sobre a saúde pública", completa a legenda do post.
Outra publicação, no Facebook, reproduz o texto sobreposto à imagem no Instagram e acrescenta: "Mundo cai na real e governos pedem desculpas. Não queremos saber de desculpas, pois não trarão de volta entes queridos mortos por políticos e oportunistas. Queremos justiça".
Por que é distorcido
Haraguchi não fala pelo governo. Os posts desinformativos mencionam que o parlamentar é "ex-ministro" para associá-lo ao governo japonês, mas o político não ocupa cargos na gestão desde 2010, quando deixou de ser Ministro das Comunicações e Assuntos Internos após cerca de um ano. Desde o período da pandemia, Haraguchi é filiado ao CDP ("Partido Democrático Constitucional", em tradução livre), que faz parte da oposição no Parlamento (aqui, em inglês).
Fala não ocorreu na tribuna, mas em protesto contra vacinação. A declaração do político não teve caráter institucional e foi feita no início de junho de 2024, durante uma manifestação contrária às políticas de imunização adotadas contra a covid-19 e às normas da OMS. No protesto, como registrou o Arab News Japan (aqui, em inglês), Haraguchi afirmou: "Vidas que foram perdidas não deveriam ter sido. Como um membro do Legislativo, peço desculpas a todos vocês".
Japão mantém programas de imunização contra covid-19. De acordo com a atualização mais recente, em abril de 2024, mais de 436 milhões de vacinas foram aplicadas na população local, que tem uma taxa de vacinação de 80,4% na primeira dose (aqui, em inglês). Em março de 2024, o Ministério da Saúde japonês anunciou que a aplicação deixaria de ser gratuita a partir de abril, mas reforçou que as mortes no país durante a pandemia não tiveram relação com elas (aqui, em inglês).
Vacinas não mataram "milhões de nossos entes queridos". As vacinas contra a covid-19 geram reações adversas, como cansaço, dor no local da aplicação e febre, mas a queda de mortalidade de pacientes hospitalizados com a doença foi significativa no Brasil desde o início da vacinação, cujos benefícios superam os riscos (aqui). No Japão, um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Kyoto mostrou que as vacinas foram responsáveis por uma redução de 97% da taxa de mortalidade pelo coronavírus em 2021 (aqui, em inglês).
Viralização: Um post desinformativo com o conteúdo no Instagram tinha 18,1 mil visualizações e cerca de 1.300 mil curtidas até esta terça-feira (18). Uma publicação no Facebook tinha 216 reações e 132 compartilhamentos na mesma data.
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