Brasil não negociou Roraima com Venezuela; teoria é 'falsa e infundada'
É falso que o Brasil fez um acordo para "dar" o estado de Roraima a Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Trata-se de uma teoria conspiratória que não tem nenhuma base em fatos.
Procurada pelo UOL Confere, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República disse que o conteúdo é falso e infundado. Além disso, não há relato de qualquer negociação semelhante na imprensa profissional.
O que diz o post
A postagem traz um longo texto que, logo no começo, já traz as palavras: "Guerra" e "Brasil X Venezuela". Na sequência, diz que a briga entre Lula e Maduro é uma farsa e que, na verdade, o presidente da Venezuela está cobrando uma dívida. Segundo a publicação desinformativa, o embaixador Celso Amorim "garantiu o voto pra Venezuela entrar para o Briks", sendo pressionada pela França para não garantir o acesso.
"Porém a França apoia o Maduro em que ele "venha buscar aquilo que lhe foi prometido" aqui no Brasil. Pasmem: *"O TERRITÓTIO DE RORAIMA".* Por isso é certo que virá uma *GLO. CERTEZA!* (talvez só no estado de Roraima, talvez no país inteiro)", diz a publicação.
Na sequência, o texto diz que, antes de sofrer o impeachment, a então presidente Dilma Rousseff fez um acordo com Venezuela, Bolívia e Colômbia, que enviariam militares e armas para protegê-la de ser retirada do governo. "A Venezuela cobriu financeiramente esse acordo da Dilma com esses países (porque só fariam mediante pagamento). Em troca, seria dado ao Maduro o território de Roraima. Isso, a 7 anos atrás. Ela foi tirada do governo, ninguém defendeu ela mas... o Maduro tinha pago tudo", continua o texto desinformativo.
Bastante confuso, o texto diz ainda afirma que Maduro já teria acertado dar Roraima para o Irã "em troca de ajudarem ele a ficar no poder, e eles recebendo Roraima, colocariam misseis voltados pros Estados Unidos. Tomariam o territorio de Roraima pra ser base iraniana militar e assim, pressionar os EUA como na época da guerra fria, que a União Soviética queria fazer em Cuba". Agora, ainda segundo o texto desinformativo, Celso Amorim estaria tentando desfazer o "acordo".
A publicação diz ainda que "tentaram tirar os militares brasileiros da fronteira norte" para "deixar aberto pro Maduro invadir e tomar 'aquilo que lhe foi prometido'". Porém, o comandante do Exército, Tomaz Paiva, teria se recusado a retirar as tropas da área, descumprindo ordem direta de Lula. Segundo o post, o comandante do Exército queria chamar todos os militares da reserva, jovens dos últimos 5 anos de alistamento, mais os veteranos. Porém, Lula teria proibido fazer isso.
Por que é falso
Assessoria da Presidência diz que conteúdo é falso e infundado. "A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República repudia veementemente a disseminação de boatos falsos para fins políticos, com o intuito de desinformar a população", disse, em nota ao UOL Confere.
Celso Amorim se posicionou contra entrada da Venezuela no Brics. Em outubro deste ano, o bloco discutiu a criação de uma lista de países "parceiros" do Brics (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Havia cerca de 30 países candidatos a integrar essa categoria, entre os quais Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Cuba, Turquia, Nigéria, Marrocos e Argélia (aqui). Porém, antes da reunião, o assessor especial da Presidência da República e ex-chanceler, Celso Amorim, já se manifestou contra a entrada na lista do país governador por Nicolás Maduro (aqui).
Venezuela ficou de fora de lista de "países parceiros". O Brasil acabou vetando informalmente a entrada da Venezuela na relação de países parceiros (aqui). Porém, outros 13 países tiveram o pedido aceito (aqui, aqui e aqui). Após a negativa, Maduro disse em um programa transmitido pela emissora estatal que o Itamaraty sempre conspirou contra a Venezuela e que teria vínculo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos desde a época da ditadura brasil (aqui). Amorim considerou as acusações como "injustas" (aqui).
Não há evidência de "acordo" para ceder território à Venezuela. Uma busca simples em dois buscadores diferentes (aqui e aqui) não retornou nenhuma reportagem jornalística ou manifestação governamental sobre o assunto.
Roraima não é território, mas estado do Brasil. Roraima deixou de ser território e virou estado brasileiro com a Constituição de 1988. Porém, entre 1962 e 1988, era chamado de Território Federal de Roraima. E, entre 1943 (quando foi criado) e 1962, levava o nome de Território Federal do Rio Branco (aqui).
O UOL procurou órgãos e pessoas citadas na publicação desinformativa. A reportagem também entrou em contato com o Itamaraty, o Ministério da Defesa e a assessoria da ex-presidente Dilma. Este espaço será atualizado em caso de manifestação.
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