Fake do Pix: Mais de 1.700 anúncios falsos foram criados para golpes

Criminosos se aproveitaram da circulação de fake news sobre uma falsa taxa sobre o Pix para aplicar golpes em usuários nas redes sociais.
O Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Netlab-UFRJ) identificou mais de 1.700 anúncios fraudulentos em 12 dias nas redes da Meta. A imagem do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi manipulada com Inteligência Artificial para atrair usuários para golpes financeiros em 31,7% desses anúncios.
O que aconteceu
Golpistas se passam por páginas do governo e instituições. Segundo o relatório do Netlab-UFRJ, a maioria dos anúncios fraudulentos prometia um suposto direito de saque de valores à população mediante o pagamento de uma taxa. Outros se passavam pelo serviço de Valores a Receber do Banco Central. As páginas usam logos de instituições do governo como a marca Gov.br, da Caixa Econômica Federal, da Receita Federal e do Banco Central.
Anúncios aumentaram depois da revogação da norma da Receita Federal. A partir do dia 15 de janeiro, o volume de anúncios fraudulentos cresceu 35,4% em relação aos seis dias anteriores, correspondendo a 57,5% de todo o material analisado. A coleta de dados abrange o período entre os dias 10 e 21 de janeiro.
Vídeos com imagem de Nikolas Ferreira se multiplicaram. Depois da revogação da norma da Receita Federal, os vídeos fraudulentos que usavam deepfake com a imagem do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) cresceram cerca de três vezes. Passaram de 129 anúncios nos seis dias anteriores para 432 no período seguinte.
Postagens mudaram abordagem com o passar dos dias. Antes do dia 15 de janeiro, os anúncios que usavam a imagem do deputado endossavam uma suposta medida do governo para que cidadãos pudessem resgatar dinheiro. Depois dessa data, as peças manipuladas passaram a explorar um discurso envolvendo a fake news de que o governo Lula pretendia taxar o Pix. Em um dos vídeos, a voz manipulada do deputado dizia que o governo estava escondendo da população a possibilidade de resgate de valores para que esses recursos fossem incorporados aos cofres públicos.
Deputado foi contra norma sobre fiscalização da Receita. No dia 14 de janeiro, Nikolas Ferreira publicou um vídeo dizendo que o governo ia tratar o pequeno comerciante como grande sonegador. Ele levantava dúvida sobre a intenção do governo de eventualmente tributar o Pix. O post teve mais de 170 milhões de visualizações no Instagram.
Vídeo viral pode ter atraído a imagem de Nikolas como "garoto-propaganda" dos golpes. Antes da crise do Pix, a imagem do deputado federal já era identificada em anúncios fraudulentos. Mas para a diretora do Netlab-UFRJ, Marie Santini, o aumento na veiculação desse tipo de anúncio neste período específico pode estar relacionado a duas coisas: a viralização do vídeo do deputado contra a norma da Receita Federal, e a desconfiança da população em relação ao Pix, o que foi levantando com a campanha de desinformação sobre o assunto.
Tem um pânico na sociedade, uma desconfiança em relação ao Pix, o que aumenta a busca por isso. E o vídeo dele viralizou muito, então, os criminosos passaram a usar a imagem dele, que estava muito popular, para aplicar os golpes. Marie Santini, diretora do Netlab-UFRJ
Ele virou o garoto-propaganda dos golpes. E a campanha que ele fez, fez o governo recuar em uma coisa que podia evitar golpes. Marie Santini
A desinformação sobre o Pix
Fake news dizia que o governo ia taxar o Pix. Uma norma da Receita Federal obrigava plataformas de pagamento, como bancos digitais, a informarem transações de pessoas físicas acima de R$ 5 mil. A resolução só ampliava um serviço de monitoramento que a Receita já fazia: para cartão de crédito e depósitos, por exemplo, o órgão já monitorava quando os valores excediam R$ 2 mil. O objetivo era combater fraudes e ocultação de dinheiro ilícito. A norma foi revoga em 15 de janeiro.
Transações com Pix diminuíram no começo do ano. Segundo o Banco Central, as transações registram uma queda de 15,3% nas primeiras duas semanas de janeiro em relação ao mesmo período de dezembro.
Como funcionam os golpes?
Promessa de dinheiro e pagamento de taxa. Os anúncios direcionam os usuários para sites suspeitos que solicitam dados pessoais, se passam por portais de notícias ou sites do governo, e cobram taxa para que o usuário tenha acesso a um suposto valor em dinheiro. O pagamento, em geral, é feito via Pix. Assim, os estelionatários embolsam o valor da taxa, e o usuário fica no prejuízo.
A maioria do conteúdo fraudulento foi manipulada por IA. Ao todo, 70,3% dos anúncios fraudulentos foram alterados com uso de Inteligência Artificial e usava imagens de figuras públicas e políticos como o presidente Lula (PT), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o vice-presidente Geraldo Alckmin, os deputados Nikolas Ferreira, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Fred Linhares (Republicanos-SP) e jornalistas e apresentadores como William Bonner, Luiza Tenente e Ratinho.
Deputado fez alerta contra golpes. Nesta quinta-feira (6), o parlamentar publicou um story no Instagram em que orientou seguidores a não acreditarem em vídeos com a sua imagem "que peça seu CPF a respeito de contas para serem liberadas do governo federal". No vídeo, ele diz que já tomou medidas judiciais, e chamou os golpes de "crime extremamente bem organizado". "Tem usado da minha imagem, da minha credibilidade para aplicar golpe", afirma.
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