É falso que Rubens Paiva era do PCB ou da VPR

Não é verdade que o ex-deputado federal Rubens Paiva, assassinado pela ditadura, tenha integrado o Partido Comunista Brasileiro (PCB) ou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupo de luta armada contra a ditadura.
Um texto que circula no Facebook usa a repercussão do filme "Ainda estou aqui" para divulgar informações falsas sobre a biografia do deputado.
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O que diz o post
Um texto se utiliza da repercussão do longa vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional para disseminar informações enganosas sobre a biografia do ex-deputado federal Paiva.
Segundo o texto desinformativo, Paiva seria vinculado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), lavava dinheiro para o partido e financiava ações da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Sem citar nenhuma fonte, o post descreve uma suposta briga entre Paiva e o líder da VPR, Carlos Lamarca, que o teria ameaçado de morte.
Por que é falso
Rubens Paiva foi filiado a outro partido. O deputado federal foi eleito por São Paulo em 1962 pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), mesmo partido do presidente deposto pela ditadura, João Goulart (aqui). Com o golpe de 64, Paiva teve o mandato cassado em abril do mesmo ano. Ao contrário do que diz o post enganoso, ele não era filiado ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro) —partido de oposição consentida à ditadura que foi criado em 1966 (aqui).
Ligação de Paiva com o PCB foi esporádica. De acordo com Jason Tércio, biógrafo do ex-deputado, a relação de Paiva com o PCB foi pontual. "Ele tinha uma relação indireta de colaboração esporádica. Nesse caso específico, ele ajudou uma pessoa a sair do Brasil com ajuda do PCB", explica o jornalista. A pessoa era Helena Bocayuva, filha do ex-deputado Luiz Fernando Bocayuva Cunha, de quem Rubens Paiva era amigo (aqui). Helena foi acusada pelos militares de ter ajudado no sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. A ação foi orquestrada por membros do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e da ALN (Ação Libertadora Nacional) (aqui).
Paiva não tinha ligação com a VPR nem com Lamarca. Segundo Jason Tércio, Paiva não tinha relação de proximidade com a Vanguarda Popular Revolucionária ou com o militante guerrilheiro Carlos Lamarca. "Tem documentos do DOI-CODI que cita isso, que diz que o Rubens era da VPR, mas não há absolutamente nenhum fato, nenhum depoimento de nenhuma pessoa que confirme isso", afirma. "É apenas um dos muitos chutes da repressão para confundir e desacreditar o Rubens", diz o biógrafo.
Como Rubens Paiva atuava? Depois de ter o mandato cassado, ele continuou trabalhando como engenheiro. "A militância política dele era essa: uma coisa que ele fazia nas horas vagas dentro das disponibilidades dele e muitas das vezes como um favor de amizade", afirma Tércio.
Por que Rubens Paiva foi preso? O deputado foi preso porque era o destinatário de cartas enviadas por asilados políticos no Chile (aqui). As cartas foram apreendidas com Cecília de Barros Correia Viveiros de Castro e Marilene de Lima Corona, que foram presas ao retornar de um voo no aeroporto Galeão, no Rio. Paiva foi torturado e morto na sede do DOI-CODI e seus restos mortais nunca foram encontrados.
Suposto autor nega autoria. O texto desinformativo compartilhado no Facebook exibe o nome de "Bráulio Flores" como suposto autor. No Instagram, o coronel do Corpo de Bombeiros de Goiás com o mesmo nome negou que ele seja o autor da mensagem enganosa (veja aqui). "Eu nunca escrevi um texto sobre o deputado Rubens Paiva", afirma o coronel em vídeo.
Este conteúdo também foi verificado por Estadão Verifica.
Viralização. No Facebook, um post com o texto desinformativo registrava mais de 800 compartilhamentos.
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