É falsa campanha de arrecadação para cirurgia de menino Isaac; é golpe

Trata-se de um golpe uma suposta campanha de arrecadação de recursos para a cirurgia de um menino chamado Isaac, que teria sido diagnosticado com câncer no Brasil.
Os posts desinformativos usam imagens de uma criança que, na verdade, se chama Ripplen Niemann e mora nos Estados Unidos. As publicações golpistas levam até um site que contém um laudo médico falso. O Instituto do Câncer Dr. Arnaldo, citado nos posts, classificou a campanha como "golpe".
O pedido de checagem foi enviado ao UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049.
O que diz o post
Em um vídeo, uma mulher dá detalhes do que teria ocorrido com sua suposta família. Inicialmente ela conta que o marido morreu em um acidente de carro. Logo após, a mulher diz que descobriu que seu filho está com câncer e que precisa fazer uma cirurgia em, no máximo, dois meses.
No vídeo de três minutos a mulher começa dizendo: "Essa foto aí antes de tudo desabar, antes do Isaac perder o pai". Depois de narrar a morte do suposto marido, ela começa a falar do que seriam os sintomas do filho até o diagnóstico. "E quando o médico me chamou para conversar, meu coração já sabia, 'seu filho está com câncer' (...). Os médicos foram claros: essa cirurgia tem que acontecer em no máximo 2 meses, mas a fila do SUS 12 meses". No final, ela pede doações.
Em um dos perfis criados no Facebook, os usuários são levados a clicar em um link da falsa campanha. Nela, um texto detalha que a família seria de Campinas (SP) e que o pai do Isaac teria morrido em um acidente em outubro de 2024. Também é colocado que o Isaac estaria com neuroblastoma de alto risco (estágio 4).
O site criado para o golpe traz um suposto laudo médico do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo, assinado pela médica Patrícia Yumi Ladeira Tanaka.
O texto do site diz que o valor da cirurgia é de R$ 273.000, "já incluindo os custos com internações e remédios". No final da página são colocados os valores para doação. Há 12 opções, de R$ 30 a R$ 500. Ao clicar em uma delas, um código de PIX é gerado para pagamento. A transação é intermediada pela Cash Time Pay e, como dado do devedor, consta o nome Deborah Braga.
Por que é falso
Laudo médico é falso. Em nota ao UOL Confere, o Instituto do Câncer Dr. Arnaldo disse que não tem qualquer vínculo com "campanha falsa" de arrecadação de recursos. "O laudo médico apresentado nessa campanha é falso", disse o hospital
Médica não trabalha em hospital citado. O Instituto do Câncer Dr. Arnaldo acrescentou ainda que a médica Patrícia Yumi Ladeira Tanaka, que assina o falso laudo, "não faz parte do nosso quadro de funcionários" do hospital. O instituto também postou um alerta em suas redes sociais (aqui e abaixo)
Médica registrou ocorrência contra golpistas. A médica Patrícia Yumi Ladeira Tanaka negou ser autora do laudo e disse ao UOL Confere que está tendo problemas com atestados falsos usando seu registro profissional. "Já realizei um boletim na delegacia e no Cremerj [Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro] com relação a isso. Fui informada recentemente por próprios usuários da internet com relação a essa vaquinha e estou em andamento de um novo boletim de ocorrência, mas a internet acaba tomando proporções inacreditáveis. Já não sei mais o que fazer, infelizmente!", declarou.
Foto utilizada em vídeo é de família dos EUA. Uma busca reserva por uma das imagens utilizadas no golpe leva até uma reportagem de março de 2024 do canal norte-americano ABC 4, afiliado à rede ABC News (veja aqui). O menino que aparece nas imagens é Ripplen Niemann, que na época tinha 4 anos, e foi diagnosticado com neuroblastoma de risco elevado. Já a mãe é Jori Niemann. Ou seja, mãe e filho não se chamam Debora nem Isaac.
Outra imagem usada na falsa campanha é de menino Ripplen. No final da reportagem da ABC 4, é apresentado o link do Instagram do garoto norte-americano (aqui). A imagem de perfil é uma das utilizadas no golpe. Veja abaixo

Foto de acidente é de outubro de 2024, mas envolveu outro homem. No golpe, é mostrada fotos do suposto acidente de carro que teria matado o pai de Isaac. Uma outra busca reversa dessas imagens, leva até uma reportagem do g1 (aqui). A matéria é, de fato, de outubro de 2024 e o acidente ocorreu em Itapira, a 68 km de Campinas. Porém, o homem que morreu no acidente não é o mesmo que aparece na publicação desinformativa. É possível reparar que a vítima verdadeira, que se chamava Rodrigo Aparecido de Sousa Escoton, possuía tatuagens no pescoço e em um dos braços. Já o homem que aparece nas postagens golpistas não tem tatuagens. Além disso, Escoton só tinha filhas. Veja abaixo:

O UOL Confere tentou contato com o autor de uma das postagens, mas não obteve retorno.
Viralização. Uma postagem desinformativa no Facebook acumulava na manhã de hoje mais de 900 mil reproduções, 17 mil curtidas, 3.200 compartilhamentos e 1.500 comentários.
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