Vídeo não prova armação de militares em 8/1; Planalto já tinha sido atacado

É falso que um vídeo compartilhado nas redes sociais prova uma suposta "armação" por parte de militares que teriam destruído o Palácio do Planalto antes dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A cena registrada aconteceu mais de uma hora após o início da invasão dos manifestantes ao prédio. Na ação, os agentes de segurança tentam bloquear o acesso ao local e colocam uma escrivaninha em frente a uma escada - e não vandalizam o móvel, como os posts enganosos dão a entender.
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O que diz o post
"Vejam isso", diz uma mensagem sobreposta a um vídeo que mostra militares mexendo em uma escrivaninha dentro do Palácio do Planalto. Um dos agentes retira as gavetas e os objetos que estão em cima do móvel e o leva para frente de uma escada, onde monta uma espécie de barreira com o auxílio de outras peças. Com os pés, ele tenta afastar alguns itens espalhados pelo chão.
Um homem, também com imagem sobreposta ao vídeo, diz: "E agora? O que que vão falar? Deem uma olhada nisso. Vazou novas imagens do 8 de janeiro. Agora tá explicado por que que as imagens não apareciam. Olha porque tanta resistência para divulgar as imagens. Centenas de patriotas desarmados presos, enquanto os únicos armados dentro do Planalto estavam fazendo isso".
Por que é falso
Imagens foram gravadas após início da invasão do Planalto. Para verificar o que aconteceu com exatidão, o UOL Confere consultou os registros das câmeras de segurança do Planalto, que foram cedidos à CPI do 8/1 e podem ser acessadas publicamente (aqui). Pelo próprio vídeo contido nas peças enganosas, identifica-se parcialmente o horário da ação: 16h. A invasão teve início por volta das 15h e só foi controlada no meio da noite (aqui).
Cena ocorreu no terceiro andar do Planalto. Ao todo, há 33 registros de câmeras de segurança diferentes. Por meio de uma busca reversa de imagens, é possível concluir que a cena ocorreu no mesmo local onde estava o relógio de D. João 6º, derrubado no chão por um manifestante. A peça ficava no terceiro andar, no corredor oeste (aqui).
Manifestante começou a vandalizar corredor às 15h33. As imagens mostram dois homens circulando pelo local às 15h30, mas eles apenas passam por ali. Às 15h33, surge outro homem; era Antônio Cláudio Alves Ferreira, que derruba o relógio de D.João 6º no chão (abaixo), empurra a escrivaninha e tenta quebrar a câmera de segurança com um extintor (aqui). O mecânico, de 32 anos, foi posteriormente condenado a 17 anos de prisão e começou a cumprir a pena em dezembro (aqui).

Bolsonaristas circulam livremente pelo local. Na sequência, há uma intensa movimentação pelo local, com novos atos de vandalismo. Em um deles, um manifestante abre as gavetas da escrivaninha e arremessa objetos no chão. Às 16h13, um homem de camiseta branca conversa com os invasores. É José Eduardo Natale de Paula Ferreira, major do Exército que ficou conhecido por dar água aos golpistas para "tentar acalmá-los" (aqui). O episódio levou à demissão do general Gonçalves Dias, então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) (aqui).
Agentes de segurança chegam apenas às 16h27. Os primeiros oficiais chegam ao corredor quase uma hora após a passagem do primeiro manifestante por ali. Policiais militares reforçam a segurança às 16h48. A cena utilizada pelas peças enganosas ocorre a partir das 16h56. As publicações desinformativas recortaram o enquadramento da imagem completa, de modo a omitir o relógio destruído anteriormente (abaixo).

Posts desinformativos tentam reforçar discurso de que 8/1 foi orquestrado pela esquerda. Conteúdos enganosos repetem o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que questiona uma suposta falta de divulgação das imagens do 8/1 e alega que os atos golpistas "foram programados pela esquerda" (aqui).
Viralização. Até hoje, uma publicação no Kwai tem 10.700 curtidas e 8.900 compartilhamentos.
Este conteúdo também foi checado pelo Estadão.
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