Post engana ao comparar inocentado de homicídio com pichadora do batom

É enganosa uma comparação feita por publicações nas redes sociais entre o caso de um homem absolvido da acusação de homicídio qualificado com o da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, ré pelos atos de 8 de Janeiro, que ficou conhecida por pichar uma estátua com batom.
A pessoa que aparece no vídeo foi absolvida pelo tribunal do júri, já o caso de Débora ainda está sendo analisado pelo Supremo.
O UOL Confere considera distorcido conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.
O que diz o post
Um vídeo que mostra a leitura de uma sentença de absolvição de um homem algemado com um uniforme vermelho escrito Depen é compartilhado com as seguintes legendas: "Débora com um batom escrever a frase dita por um "guardião da Justiça": "perdeu mané" e está presa há dois anos e pode pegar 14 anos de prisão. Enquanto bandidos matam são inocentados. Vivemos uma demôniocracia!" e "Débora não matou e os demônioscratas querem imputar 14 anos de prisão. Acusado de homicídio duplamente qualificado é absolvido no Tribunal do Júri".
Por que é distorcido
Caso de homicídio aconteceu em MG. Pelo uniforme vermelho foi possível identificar que se tratava de um preso do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (aqui). Uma busca reversa também levou ao conteúdo originalmente publicado na página do advogado Yuri Ventura, que defende o homem que aparece na gravação (aqui). Ao UOL Confere, ele disse que seu cliente foi absolvido por falta de provas.
Acusado foi julgado duas vezes. No vídeo, a juíza lê o nome de outra pessoa, mas o homem que aparece na gravação é Fabiano Luiz Nalesso de Araujo, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Ele foi preso acusado de homicídio duplamente qualificado pelo assassinato de Mailson Mendes Lacerda. O caso aconteceu em maio de 2021 e foi noticiado pela imprensa na época (leia aqui). Ele foi acusado de participar do homicídio, que teria sido cometido por ciúmes.
Testemunhos de "ouvi dizer". Fabiano foi submetido a dois julgamentos no tribunal do júri. No primeiro, ele foi condenado a 14 anos de prisão. A defesa recorreu. Ao julgar a apelação, o desembargador Henrique Ab-ackel Torres afirmou que nenhuma das testemunhas presenciou o crime. Ele anulou a decisão do júri e determinou um novo julgamento. "Conforme decidido diversas vezes pelo Superior Tribunal de Justiça, em um "Estado Democrático de Direito", ninguém poderia ser condenado com base exclusivamente em 'testemunha por ouvir dizer'", afirmou o magistrado.
No segundo júri, o acusado foi absolvido. O julgamento aconteceu no dia 24 de setembro de 2024. O TJ-MG esclareceu ainda que o nome que é lido na gravação, Davi da Silva Teixeira, não tem relação com o caso. Mas tramita na mesma comarca um processo de homicídio qualificado em que o réu tem este mesmo nome.
Cabeleireira presa no 8 de Janeiro não é acusada só por pichar estátua. Ela responde por abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada. No dia 28 de março, o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou que Débora Rodrigues Santos cumpra prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.
Julgamento de Débora está parado. Votaram pela condenação da cabeleireira a 14 anos de reclusão os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. O caso é analisado pela Primeira Turma do STF, composta por cinco ministros. Faltam ainda os votos de Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. O ministro Luiz Fux pediu vista e sinalizou que pretende rever a pena imposta a Débora.
Foto evidencia participação de Débora. Ao contrário do caso do homem absolvido por homicídio, em que não havia testemunha ocular do crime, a participação da cabeleireira na invasão à Praça dos Três Poderes pôde ser evidenciada por registros fotográficos feitos no dia, como a foto em que ela picha a estátua "A Justiça". Além da imagem, Débora também confessou a participação em depoimento.

Viralização. No Threads, um post com o conteúdo desinformativo registrava mais de 1.000 curtidas.
Conteúdo similar também foi verificado por Estadão Verifica.
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