Campanha que pede doações para menina Isabela é falsa e leva a golpe

É falso o vídeo de uma suposta campanha para arrecadar doações para o tratamento de uma menina chamada Isabela, que sofreria de uma rara doença de pele. Trata-se de um golpe.
A publicação compartilhada nas redes sociais foi feita por um perfil de uma ONG inexistente e utiliza um vídeo manipulado por ferramentas de inteligência artificial.
Os posts fraudulentos usam imagens verdadeiras de uma criança que realmente tem a doença e mora no Ceará. A mãe dela esclareceu que a única campanha existente para arrecadar doações para a filha é feita por um perfil verificado no Instagram.
O que diz o post
A postagem contém um vídeo de uma menina que se diz chamar Isabela. Ela conta que "a pele dói todos os dias" e que ela "nem mesmo pode abraçar" a mãe dela. A garota faz um apelo para que possa continuar o tratamento, que "é caro" e "a família não tem condições" de arcar com essas despesas. "Clique em saiba mais e faça uma doação", pede.
"A pequena Isabela sofre todos os dias com dores intensas causadas por uma doença rara na pele chamada Epidermólise Bolhosa, que forma bolhas e provoca a perda de até 80% da pele. Ela precisa de remédios para dor diariamente — sem eles, não consegue suportar o sofrimento", diz o comentário da publicação, reforçando o pedido por donativos.
Por que é falso
Golpistas usam caso real de criança doente. As publicações falsas utilizam imagens verdadeiras de uma garota realmente chamada Isabella e que sofre de epidermólise bolhosa para aplicar um golpe. Ao UOL Confere, Antonia Rafaela, mãe da menina, disse que já registrou boletim de ocorrência por um caso anterior semelhante e lamentou que a filha seja alvo de campanhas falsas: "Isso está tomando proporções grandes". Elas moram na cidade de Assaré (CE).
Página oficial concentra doações para Isabella. Antonia Rafaela esclareceu que as doações para sua filha só podem ser feitas em um perfil oficial no Instagram, que conta com selo de verificação da plataforma. Ela afirmou que não tem vaquinha ativa e, no momento, a campanha visa a compra de suplementação alimentar, já que o estado do Ceará voltou a lhe fornecer curativos. "Qualquer vídeo ou perfil fora da página é falso. Nosso único meio de doação é pela chave Pix", completou (aqui e abaixo).
Vídeo foi criado por IA. O UOL Confere submeteu o conteúdo compartilhado pelos posts enganosos à análise do Hive Moderation, programa especializado na identificação de adulterações digitais. A ferramenta apontou 83% de possibilidade de o áudio ter sido alterado com o auxílio de ferramentas de inteligência artificial (abaixo).

Órgão que publicou post falso não aparece em lista de ONGs. Em seu perfil nas redes sociais, o instituto responsável pela publicação da campanha diz ser uma ONG. Porém, o nome da entidade não consta no Mapa das Organizações da Sociedade Civil, que é gerido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) (aqui).
Comentários em perfil responsável por post alertam para golpe. A página que fez a publicação no Facebook contém mensagens de usuários alertando que a campanha, na verdade, é um golpe (abaixo).

Vaquinha virtual pretende arrecadar R$ 25 mil. Ao clicar no link indicado pela suposta campanha, o usuário é levado para a página de uma vaquinha virtual criada em 18 de maio. Na descrição, uma pessoa que se diz chamar Ana Paula se apresenta como mãe de Isabela. Ela conta que a criança tem nove anos e sofre com as constantes dores pelo corpo. "Só os curativos custam mais de R$ 2.000 por mês", diz, reforçando o pedido por donativos. A meta é de R$ 25 mil, com R$ 240 arrecadados com nove doadores. Há um botão com a frase "Quero ajudar" para que os interessados façam suas doações (abaixo).

Página responsável por publicação não comentou caso. O UOL Confere entrou em contato com o autor da suposta campanha, mas não obteve retorno. O texto será atualizado caso haja uma resposta.
Epidermólise bolhosa é doença genética e hereditária rara. Homens e mulheres, de todas as etnias e faixas etárias, podem ser acometidos pela doença. As crianças atingidas por ela se tornaram conhecidas como "crianças borboleta" por conta da fragilidade da pele. Estima-se que pelo menos 500 mil pessoas no mundo todo tenham a doença, que provoca a formação de bolhas mesmo com um atrito mínimo. No Brasil, foram diagnosticados 802 casos (aqui).
Posts usam campanhas falsas para ajudar crianças doentes para aplicar golpes. Outras publicações semelhantes tentam induzir as pessoas a fazer doações para crianças com doenças graves ou raras, mas na verdade são golpes. São os casos das postagens para arrecadar donativos para a menina Maria Eduarda (aqui) e o garoto Isaac (aqui), ambas desmentidas pelo UOL Confere.
Viralização. Uma postagem no Facebook tinha mais de 1,6 milhão de visualizações, 33 mil curtidas e 1.100 comentários até hoje.
Caí em um golpe. E agora?
Registre o boletim de ocorrência imediatamente. A recomendação é do delegado Carlos Afonso Gonçalves, da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de SP. No estado de São Paulo, o registro pode ser feito de forma virtual pelo site da Delegacia Eletrônica (aqui).
Faça uma reclamação contra a empresa no Procon. A orientação é da Secretaria Nacional do Consumidor. Veja quais são os canais e contatos para fazer a denúncia em cada estado do país aqui.
Entre em contato com o seu banco ou operadora do cartão de crédito para denunciar a fraude e tentar o estorno do valor.
Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.
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