Ex-assessor de Moraes não disse que havia infiltrados de esquerda no 8/1
Ricardo Espina
Colaboração para o UOL
22/05/2025 18h02
Publicações nas redes sociais enganam ao compartilhar um vídeo no qual um homem, falsamente identificado como sendo um ex-assessor de Alexandre de Moraes, afirma que havia pessoas ligadas à esquerda infiltradas nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Quem aparece nas imagens e faz as insinuações sem apresentar provas é o jornalista bolsonarista Marcos José Pereira, conhecido como Marcos Vanucci, e não Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
O que diz o post
A publicação contém o seguinte texto: "Porque ninguém está compartilhando esse vídeo? Tagliaferro, ex-assessor de Moraes, denunciando a farsa do golpe".
Na sequência, um homem, identificado pela postagem como sendo o ex-assessor de Moraes, diz: "Eu tenho essas imagens gravadas, de pessoas com a camiseta do MST, boné do CPX, bandeira do MST. Eu vi. E essas pessoas entraram antes da grande massa, autorizada por alguma autoridade federal. Essa é a grande verdade. As pessoas já tinham iniciado a quebradeira quando a grande massa chegou". Ele ainda afirma que a suposta entrada desses infiltrados teria ocorrido por volta das 13h40.
Por que é falso
Homem que aparece em vídeo é jornalista bolsonarista. Uma busca reversa permitiu chegar ao conteúdo original e concluir que quem aparece no conteúdo enganoso é Marcos Vanucci. A fala do jornalista bolsonarista foi extraída de uma participação dele no podcast Bunker em 19 de abril (aqui e abaixo). Em momento algum da entrevista, na qual defende, sem exibir provas, que infiltrados de esquerda teriam invadido as sedes dos Três Poderes antes dos manifestantes bolsonaristas, ele é tratado como ex-assessor de Moraes.
Manifestantes romperam contenção policial às 14h43. De acordo com o relatório elaborado por Ricardo Cappelli, ex-interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, os manifestantes só romperam o cordão de proteção montado pela polícia militar às 14h43 (aqui). Não há qualquer indício de que a barreira tenha sido vazada antes desse horário, ao contrário do que insinua Vanucci.
Invasão começou por volta das 15h. Imagens das câmeras de segurança do Planalto, que foram cedidas à CPI do 8/1 e podem ser acessadas publicamente (aqui), mostram que o local começou a ser invadido aproximadamente às 15h, somente após a chegada de um grande grupo de manifestantes. Não há qualquer evidência de que outras pessoas vandalizaram o edifício antes desse horário, como alega Vanucci.
Jornalista participou de atos golpistas e ficou preso. Vanucci se tornou réu por participar dos ataques antidemocráticos (aqui). Em seus perfis nas redes sociais (aqui e aqui), nos quais se apresenta como "vítima do 8/1", ele defende a anistia aos condenados pelos atos golpistas, critica o governo Lula e manifesta seu apoio a Jair Bolsonaro. Em 2024, lançou-se como candidato a vereador na cidade de São Paulo pelo partido Mobilização Nacional (Mobiliza), mas não foi eleito (aqui).
Tagliaferro foi indiciado por vazamento. O ex-assessor de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de vazar dados sigilosos à imprensa para prejudicar investigações contra grupos de desinformação (aqui). Tagliaferro foi designado pelo ministro para chefiar a AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) e para integrar o núcleo de inteligência do TSE (aqui).
Publicações falsas sobre "infiltrados" no 8/1 são recorrentes. O UOL Confere realizou uma série de checagens desmentindo conteúdos enganosos que insinuavam a presença de pessoas ligadas à esquerda nos atos golpistas (aqui, aqui, aqui e aqui) ou uma "armação" de Lula com a anuência de militares (aqui e aqui). Tais postagens tentam reforçar o discurso de Bolsonaro, que questiona uma suposta falta de divulgação das imagens dos ataques antidemocráticos e os considera como "uma arapuca da esquerda" (aqui).
Viralização. Uma publicação no Facebook tem 2.400 curtidas e 3.000 compartilhamentos até hoje.
Este conteúdo também foi checado por Aos Fatos, Estadão e Lupa.
Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.
Siga também o canal do UOL Confere no WhatsApp. Lá você receberá diariamente as checagens feitas pela nossa equipe. Para começar a seguir, basta clicar aqui e ser redirecionado.