É falso que navios do Irã levaram urânio do Brasil

É falso que navios iranianos que atracaram no Rio de Janeiro em 2023 vieram ao país buscar urânio. O Brasil é signatário de acordos de não proliferação de armas nucleares e, portanto, não comercializa urânio para fins militares.

A desinformação circula em meio à escalada do conflito entre Israel e Irã envolvendo a possibilidade de que o país persa tenha desenvolvido armas nucleares.

O pedido de checagem foi enviado ao UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049.

O que diz o post

É compartilhado vídeo com trecho da fala de Ted Cruz, senador americano do partido Republicano, em que ele diz que o presidente Lula é "um chavista antiamericano", que abraça o Partido Comunista Chinês, Vladimir Putin e o regime iraniano. Publicação é acompanhada do seguinte texto: "O navio iraniano veio buscar urânio para sua base nuclear. Que Deus tenha misericórdia do Brasil porque aos olhos do mundo agora o Brasil é um país perigoso".

Em outro vídeo, um homem afirma que "jornais americanos" teriam publicado que o Irã veio ao Brasil buscar urânio, mas não cita qual. Outras versões usam uma matéria da Veja de 2024 sobre o sumiço de cápsulas com urânio enriquecido da INB (Indústrias Nucleares do Brasil) para levantar suspeitas.

Por que é falso

Brasil não vende urânio para uso bélico. De acordo com a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), o país é signatário de acordos de não proliferação de armas nucleares e, portanto, não comercializa urânio para este fim. "É falso que o país tenha vendido urânio para o Irã, como tem sido repercutido nas peças de desinformação", diz a nota da secretaria (leia aqui).

Exploração do minério é monopólio exclusivo da União. A atividade nuclear é desenvolvida pela empresa pública Indústrias Nucleares do Brasil (INB), única autorizada a extrair e processar urânio (aqui). Uma lei de 2022, permitiu que a INB preste serviços para entidades nacionais e estrangeiras, públicas ou privadas, mas, ainda assim, o monopólio da atividade nuclear continua sendo da União.

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INB não tem comércio com o Irã. Segundo a Secom e a INB, a empresa pública não possui negócios com o Irã. "Só somos autorizados a produzir urânio para fins pacíficos (produção de energia elétrica, agricultura, medicina e preservação de obras de arte), o que é acompanhado de perto pelos órgãos de controle", afirma a empresa pública.

Venda de yellowcake para a Rússia. A INB afirma que, sobre comércio para o exterior, está previsto para o segundo semestre deste ano o envio de "yellowcake" (concentrado de urânio) para a Rússia. A matéria-prima é convertida em gás no país, e retorna ao Brasil para enriquecimento em Resende (RJ), onde é transformada em combustível para as usinas de Angra, no Rio (aqui).

Navios iranianos no Brasil em 2023. Dois navios de guerra iranianos atracaram no Rio em março de 2023. O episódio gerou controvérsias com os Estados Unidos, que havia pedido que o Brasil não aceitasse as embarcações na costa brasileira. Os navios carregavam mísseis e canhões.

Sem referência. Ao contrário do que alega o homem em um dos vídeos enganosos, não foi possível encontrar evidência de que jornais dos Estados Unidos tenham noticiado que os navios iranianos vieram ao Brasil em 2023 para buscar urânio (aqui). As agências internacionais de notícias Reuters e AP noticiaram que o Brasil tinha permitido que os navios atracassem, mas nenhuma menciona suposta busca do minério (aqui e aqui, em inglês).

Sumiço de urânio foi erro interno. Outras versões enganosas usam uma reportagem da revista de Veja de 2024 sobre o sumiço de urânio enriquecido da INB (aqui) para alimentar a desinformação. Em resposta ao UOL Confere, a INB disse que uma investigação do MPF (Ministério Público Federal) sobre o caso foi arquivada e que não houve crime. A investigação concluiu que se tratou de erro operacional interno. "Qualquer narrativa que sugira risco ou ilegalidade é falsa, irresponsável e totalmente desconectada da realidade dos fatos oficiais", afirma a estatal.

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Viralização. Um post no Facabook com o conteúdo desinformativo tinha até hoje mais de 1.600 compartilhamentos e 3.300 curtidas.

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