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Governo de Alagoas prepara hospital de campanha para amenizar caos na saúde

Carlos Madeiro<br/> Especial para o UOL Notícias<br/> Em Maceió (AL)

08/05/2009 14h21

A crise na saúde deve levar o governo alagoano a declarar estado de emergência nos próximos dias. O decreto já foi encomendado pelo Executivo. A medida viabilizaria a instalação de um hospital de campanha para amenizar a superlotação no Hospital Geral do Estado (HGE) - maior urgência e emergência pública do Estado e única a atender pacientes graves.

A necessidade de um hospital de campanha está sendo levantada por conta da greve dos médicos do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciada há 10 meses, e da Prefeitura de Maceió, que paralisaram as atividades esta semana. Com os atendimentos suspensos nos ambulatórios e postos de saúde da capital, o Estado alega que a população tem buscado atendimento no HGE, que já enfrentava superlotação antes da greve municipal.

O caos no HGE foi denunciado na última quarta-feira (6) pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) de Alagoas, que fez uma visita surpresa ao hospital e encontrou uma "situação de guerra". Com 260 leitos, o HGE estava com mais de 350 pacientes. Somente nos corredores, 44 pessoas estavam em macas improvisadas e até no chão, como revelam fotos feitas no momento da visita. "É uma situação de guerra. Vimos aqui um campo improvisado. A situação merece providências efetivas e duradouras", disse Emannuel Fortes, presidente do CRM, logo após a vistoria.

De acordo com o CRM, pacientes chegaram a ser encontrados ao lado de lixeiras. Ainda segundo os médicos que visitaram o HGE, além de corredores superlotados, as enfermarias com capacidade para seis abrigavam até 22 pessoas. "Pacientes da Ala Vermelha, que é porta de entrada para o atendimento de emergência, estão todos juntos, sem nenhum critério", denunciou o presidente do CRM.

Segundo o presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos de Alagoas), Wellington Galvão, um relatório da vistoria foi entregue ao Ministério Público. "Essa vistoria revela o quanto está complicado trabalhar lá dentro. Na visita encontramos pacientes em coma nos corredores. A situação em Alagoas é incontrolável. Precisamos de uma intervenção federal. Nem no Iraque a situação é tão crítica como aqui", assegurou.

Hospital de campanha
Nesta sexta-feira (7), a Sesau (Secretaria de Estado da Saúde) garantiu que já manteve contato com Exército e Corpo de Bombeiros, que estariam prontos para ajudar nos atendimentos caso a greve dos médicos perdure. "Existe um plano de contingência pronto, com o apoio de todos e já definido. Se a situação se agravar, a população pode ter certeza que vamos instalar esse hospital, inclusive com corpo clínico de Exército e Bombeiros, além de médicos nossos", afirmou o Superintendente da Atenção à Saúde da Sesau, Vanilo Soares.

Depois da repercussão da visita, o Estado fechou ontem (7) um convênio com hospitais da rede privada, garantindo 97 leitos complementares que vão custar R$ 450 mil por mês.

O secretário Herbert Motta garantiu que o Estado já deu início às transferências na quarta-feira, o que teria acabado com o cenário de pacientes no chão do HGE. Para ele, há interesses políticos em dar uma dimensão maior à crise da saúde. "Hoje não temos mais ninguém no chão. O que existe é muita gente querendo sensacionalizar o quadro. Isso quer dizer, colocar lixeiros perto dos pacientes para fotografá-los", acusou Motta, em referência às fotos divulgadas após a vistoria.

Nesta sexta-feira, a reportagem do UOL Notícias esteve no HGE para verificar a situação do local, mas não teve autorização para entrar. Na parte externa do hospital, parentes de pacientes voltaram a denunciar problemas de superlotação e falta de atendimento adequado. "Minha tia chegou no início da manhã, mas ainda não foi olhada por um médico", alegou Sandro Gonçalves, por volta do meio-dia, enquanto comia numa barraca em frente ao HGE. "Tem gente nos corredores, mas no chão não vi ninguém", informou.

Segundo ele, sua tia Mariana Gonçalves estava com uma suposta crise hipertensiva. Sandro disse ainda que a situação dela se agravou porque não conseguiu acompanhamento médico adequado nesta semana no posto de saúde em que faz tratamento. "Ela sempre é atendida perto de casa, mas soube que ela não conseguiu esses dias e justamente estava com muita dor de cabeça. Muitas vezes ela tem que comprar remédios para pressão alta porque falta no posto", disse.

Greve do município seria motivo do caos
Segundo a direção do HGE, a greve dos médicos do município, iniciada na última segunda-feira (4), é a responsável direta pelo caos dentro da unidade. Um comparativo divulgado pela Sesau revela que o número de atendimentos cresceu em torno de 20%.

"Na sexta-feira, foram atendidos 324 pacientes, enquanto na segunda-feira [primeiro dia da paralisação do município], esse número saltou para 409. Se os atendimentos clínicos fossem realizados nos postos e mini pronto-socorros, não viveríamos a superlotação. Somos uma unidade que não fecha a porta para nenhum paciente", afirma o gerente-geral do HGE, Antônio Alicio.

Segundo o secretário de Saúde de Maceió, Francisco Lins, o problema das urgências e emergências é exclusivo do Estado. Ele discorda do argumento de que a greve teria afetado os atendimentos do HGE. "O município presta serviços básicos de saúde e não tem nada a ver com a urgência e emergência. Essa obrigação é do Estado, e ele que tem que resolver o problema", informou.

SUS
Além da greve dos médicos do município, a população alagoana sofre com a greve dos médicos do SUS (Sistema Único de Saúde). Iniciada há 10 meses, a paralisação fez com que mais de 12 mil cirurgias deixassem de ser realizadas. Para conseguir atendimentos, mais de mil pessoas já recorreram à Justiça para garantir cirurgias.