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Chuvas nos últimos dias acabam com quase todos os focos de incêndio em Roraima

Guilherme Balza <br> Do UOL Notícias

Em São Paulo

24/02/2010 13h42

As chuvas que atingiram Roraima nos últimos dias acabaram com quase todos os focos de incêndio que se formaram no Estado recentemente. Na quinta-feira (18), os satélites haviam identificado 332 focos. Hoje, são apenas dois focos em todo o Estado, segundo Paulo Sérgio Santos, comandante do Corpo de Bombeiros e coordenador estadual da operação Roraima Verde.

Focos de incêndio até 18/02

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Com a redução dos focos, os 35 bombeiros da Força Nacional de Segurança que embarcariam na sexta-feira (19) para Roraima para auxiliar no combate ao fogo permaneceram em Goiânia, de sobreaviso. Apesar de situação estar sob controle, as autoridades insistem para que os produtores não usem o fogo para "limpar" a terra - principal causa dos incêndios.

Diferente do que ocorre nas regiões Sul e Sudeste, que entre dezembro e março costumam ser atingidas por chuvas, em Roraima, cuja maior parte do território está no hemisfério norte, este período é caracterizado por longas estiagens. A época de chuvas só começa no final de abril e termina em meados de julho. Neste ano, praticamente não choveu em Roraima do final de dezembro até a segunda semana de fevereiro.

“A estiagem começa em meados de janeiro e atinge o auge em fevereiro. Levamos aos agricultores alternativas ao uso do fogo. Fizemos uma campanha para que os produtores só utilizassem a técnica das queimadas para limpar o solo na época de chuvas (a partir de abril), mas muitos colocaram fogo mesmo na época de seca”, afirma Elmo Monteiro, coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate os Incêndios Florestais (Prevfogo), órgão vinculado ao Ibama.

Incêndios anteriores
Nos últimos anos, Roraima teve dois grandes incêndios. O pior deles, ocorrido em 1998, devastou uma área equivalente a um quarto do Estado. Já em 2003, o fogo atingiu 10% de Roraima, inclusive causando estragos nas reservas indígenas Ianomâmi e São Marcos e em unidades de conservação.

O incêndio desse ano é o pior desde 2003. Todos os 15 municípios do Estado foram afetados pela ação do fogo nas últimas semanas: em cinco deles foi decretado estado de calamidade pública - Iracema, Mucajaí, Pacaraima, Alto Alegre e Amajarí; nos 10 restantes, os prefeitos decretaram situação de emergência por conta dos incêndios, que se acentuaram a partir do início de fevereiro.

A área mais afetada neste ano corresponde ao conjunto de municípios batizado de “Arco do Fogo”, formado por Cantá, Iracema, Mucajaí, Alto Alegre, Amajari e Pacaraima, região onde se concentra a maior parte dos assentamentos rurais. Todos fazem divisa territorial com a capital Boa Vista e estão numa área caracterizada pela floresta de transição entre a mata de cerrado (conhecido em Roraima como lavrado), que ocupa o leste e parte do nordeste do Estado, e a floresta Amazônica, típica das porções noroeste, oeste e sul de Roraima.

Para evitar que a destruição de 1998 e 2003 se repita em 2010, foi montado, no início deste mês, em Boa Vista, um centro integrado de combate aos incêndios, formado pelo Corpo de Bombeiros de Roraima, Defesa Civil Estadual, Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Instituto Chico Mendes, além de órgãos municipais.

Focos de incêndio até 18/02

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Integram o grupo 300 bombeiros de Roraima, 77 brigadistas do Instituto Chico Mendes (ligado ao MMA) e 25 brigadistas do Prevfogo. Ainda no combate aos incêndios estão sendo utilizados um avião do Corpo de Bombeiros do DF, dois helicópteros com reservatórios de água do Ibama e dois aviões-tanque do Instituto Chico Mendes. As equipem atuam também em bases avançadas, situadas nos pontos críticos, e no monitoramento aéreo diário para fiscalizar incendiários e localizar novos focos.

Ainda não houve uma contabilização da área destruída pelo fogo, mas a estimativa é que entre 50 mil e 100 mil hectares de terra já tenham sido atingidos pelo fogo. “Aproximadamente 90% da área queimada está em regiões que já sofreram a ação do homem, como em áreas de desmatamento. Os 10% restantes estão em áreas de floresta fechada”, estima o coronel do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Wanius de Amorim, que trabalha no gabinete do ministro Carlos Minc e coordena as ações de combate ao fogo em Roraima.

Não há registros de desabrigados ou desalojados por conta dos incêndios, tampouco de imóveis e benfeitorias destruídos. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros, o prejuízo maior foi causado na pecuária e na agricultura, sobretudo em razão da falta de água.