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Promotor tenta provar contradições em depoimento de Nardoni

Rosanne D'Agostino<br> Do UOL Notícias<br> Em São Paulo

25/03/2010 14h42

O promotor Francisco Cembranelli tentou, em suas perguntas, provar contradições de Alexandre Nardoni em relação ao assassinato da filha, Isabella, que caiu da janela do 6º andar do edifício London, em março de 2008. Nardoni depõe como réu nesta quinta-feira (25), quarto dia de júri popular do caso. A madrasta da menina, Anna Carolina Jatobá, não assiste ao interrogatório. A sessão foi interrompida para almoço e retorna com as perguntas da defesa a Nardoni.

Nardoni chorou, negou o crime, disse que teve desentendimentos no edifício London, onde tudo aconteceu, e que chegou a receber uma proposta de acordo para assumir sozinho um homicídio culposo (quando não há intenção de matar), livrando a mulher, Anna Carolina Jatobá, das acusações.

Cembranelli perguntou a Nardoni se havia pertences de valor no apartamento. Nardoni disse que sim. Depois, afirmou que não se lembrava de ter voltado ao local após a morte para conferir se faltava alguma coisa. O promotor então questionou se Nardoni, quando viu a filha caída, notou se ela estava se mexendo. O réu disse que não. “O senhor não estava lá?”, retrucou o promotor. “Só vi que ela estava caída no chão”, respondeu Nardoni.

Em seguida, Cembranelli perguntou o por que de Nardoni não ter chamado uma ambulância imediatamente. Nardoni demorou para responder e chegou a dizer que se tratava de uma situação “embaraçosa”.

Sobre as afirmações de que ele teria sido maltratado por policiais, o promotor quis saber porque Nardoni não tinha dito nada sobre o abuso ao seu advogado. “Eu não me recordo, só me lembro que comentei com o meu pai.”

Durante os questionamentos da Promotoria, o advogado do réu, Roberto Podval, interrompia pedindo que Cembranelli apontasse em quais folhas do processo estava o assunto questionado. Os dois chegaram a discutir, e o juiz Maurício Fossen interferiu.

Por fim, Cembranelli perguntou se Nardoni traía Ana Oliveira com Jatobá, porque o primeiro encontro do casal aconteceu quando Isabella tinha 11 meses, antes da separação. “Não traí”, disse o réu.

Em seguida, perguntou se Nardoni, que não usava óculos, tinha problemas de visão: “Eu sempre usei óculos, o senhor não acompanha a minha vida”, retrucou o acusado. “Então, qual o seu problema de visão?", questionou o promotor. A resposta demorou: “Ah, é, eu não enxergo de longe”. O juiz então pediu o fim das perguntas irônicas. A sessão foi interrompida para almoço.

Marcas em camiseta
No interrogatório, Nardoni, afirmou que, na tentativa de achar a filha Isabella no dia do crime, entrou no apartamento, não viu mais a filha dormindo, foi imediatamente ao quarto dos irmãos quando viu a tela cortada. Com Pietro, outro filho do casal no colo, ficou de joelhos na cama e encostou o rosto na tela. “Não dava para passar a cabeça”, disse.

O depoimento contraria o que diz o laudo da perícia técnica. A perita Rosângela Monteiro, do IC (Instituto de Criminalística), afirmou ao júri popular que as marcas na camiseta de Nardoni são as de alguém que encostou na tela de proteção com um peso de 25 quilos pendente para o lado de fora da janela. Para ela, foi ele quem jogou Isabella.

Choro e família
Ainda no depoimento, Nardoni afirmou que a mãe de Ana Oliveira, Rosa Oliveira, não queria o nascimento da neta, Isabella. “Eu briguei para ela nascer, porque a avó materna queria que ela [Ana Oliveira] abortasse. A Ana mesma não aceitava essa imposição da própria mãe”, afirmou. Neste momento, o avô José Araújo de Oliveira, sorriu, reprovando o depoimento. Nardoni ainda disse que Isabella era sua “princesinha”. 

"Aquilo ali foi meu pior dia. Ali eu perdi tudo de mais valioso na minha vida. Ali eu perdi o chão. E ninguém estava acreditando no que estava acontecendo", disse Nardoni, que pediu ao juiz que pudesse falar diretamente aos jurados. O relato referia-se ao momento em que ele recebeu a notícia, já no hospital, de que a filha havia morrido.

Nardoni chorava, de frente ao juiz, quando pode ver sua mãe, Cida, no plenário. Ela levantou, bateu no peito aos prantos, e disse: "Meu filho". Então, saiu e não voltou mais.

Abuso da polícia e acordo
Nardoni disse ainda que, depois da queda e da morte de Isabella, foi obrigado a passar a madrugada de domingo até segunda de manhã na delegacia, onde ele e Jatobá foram separados em duas salas. “Não desejo nem para o pior inimigo isso que passei e que estou passando hoje.”

Segundo o réu, delegados jogaram objetos nele. “Aí começou a sessão de xingamentos. Eu só falava que estava ali para ajudar e que eles podiam até me bater, mas teriam que responder por isso. Aí a Renata [Pontes, que relatou o boletim de ocorrência] pediu para algemar. Eles [os policia] não estavam se conformando com aquilo”, disse.

Mais adiante, questionado pelo promotor Francisco Cembranelli se ele sabia o nome da professora e da pediatra de Isabella, Nardoni desconversou e começou a falar sobre o que teria acontecido em um interrogatório, que, segundo ele, contava inclusive com a presença do promotor.

"Eles mostraram a foto da minha filha no necrotério e houve uma proposta de acordo. Ele queria que eu assinasse um homicídio culposo e tirasse a minha esposa do processo. Eu disse que tava querendo descobrir a verdade. O doutor Calixto [Calil Filho, delegado] explicou qual era a diferença entre homicídio culposo e doloso”, afirmou.

O promotor questionou Nardoni se todos os que ele estava citando haviam participado daquela negociação e perguntou ao juiz o que tinha aquilo a ver com a pergunta que fora feita. “Eu só estou falando o que houve no interrogatório, no dia 18 de abril de 2008”, respondeu.



O que ainda deve acontecer
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são réus por homicídio triplamente qualificado e fraude processual (entenda as acusações). O julgamento teve início nesta segunda-feira (22), quando o casal se encontrou pela primeira vez desde maio de 2008, e deve durar até o final desta semana.

O casal é julgado por quatro mulheres e três homens, sorteados no primeiro dia de sessão. Destes, cinco nunca participaram de um júri.

Em seguida, foram tomados os depoimentos das testemunhas. Os réus são os últimos a serem ouvidos. Depois, ocorrem os debates, quando defesa e acusação apresentam seus argumentos. São duas horas e meia para cada (por se tratarem de dois réus), o que deve ocupar toda a sessão de sexta-feira (24). Se o Ministério Público pedir réplica, de duas horas, a defesa tem direito à tréplica, também de duas horas.

Ao final, o júri se reúne em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pelo juiz. Eles decidirão se o casal cometeu o crime, se pode ser considerado culpado pela atitude, e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. De posse do veredicto, se houver condenação, o juiz dosa a pena com base no Código Penal. Se houver absolvição, os Nardoni deixam o tribunal livres. A sentença deve sair ainda na noite de sexta.

Primeiros dias de julgamento
No primeiro dia do júri, prestou depoimento Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella. Ela chorou por pelo menos três vezes, provocou o choro de ambos os réus e relatou o amor de Alexandre pela filha e o ciúme que a madrasta teria da relação do marido com a menina e com sua ex-mulher.

O segundo dia de júri foi marcado pelas fotos do corpo de Isabella no IML (Instituto Médico Legal), que chocaram muitos dos presentes. Um dos peritos convocados disse que alguém tentou calar os gritos de Isabella, que morreu de asfixia, fruto de uma esganadura, e da queda do prédio. Pouco antes, ela teria sido atirada com força ao chão, segundo a perícia.

Já o terceiro dia de julgamento finalizou a fase das oitivas das testemunhas, com a desistência da defesa em ouvir os depoimentos que havia convocado. Pela acusação, a perita Rosângela Monteiro, do Instituto de Criminalística, afirmou que marcas na camiseta de Alexandre Nardoni são compatíveis com as de alguém que atirou Isabella pela janela do apartamento. Irônica, ela provocou a reação indignada do réu.

 


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