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Promotor do caso Isabella é recebido como herói

Muito aplaudido após a condenação do casal Nardoni, o promotor Francisco Cembranelli fez um aceno com o sinal de positivo para os que o aguardavam no Fórum de Santana - Nelson Antoine/FotoArena/Agência O Globo
Muito aplaudido após a condenação do casal Nardoni, o promotor Francisco Cembranelli fez um aceno com o sinal de positivo para os que o aguardavam no Fórum de Santana Imagem: Nelson Antoine/FotoArena/Agência O Globo

Rosanne D'Agostino<br>Do UOL Notícias<br> Em São Paulo

27/03/2010 01h30

Muito aplaudido após uma sentença que condenou  o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá pela morte da menina Isabella Nardoni,  o promotor Francisco Cembranelli fez um aceno com o sinal de positivo para os que o aguardavam no Fórum de Santana aos gritos de “Cembranelli, Cembranelli”. “A confiança era total”, disse o promotor.

Segundo ele, o júri não é uma ciência exata: “certeza, certeza ninguém tem”. O promotor evitou cantar vitória após o julgamento e elogiou o advogado do casal, Roberto Podval, a quem chamou de profissional competente.

Durante a entrevista coletiva, Cembranelli ainda agradeceu “as pessoas que acompanharam e se emocionaram”. “Serei eternamente grato”, completou o promotor.

Cembranelli também disse que foi um júri difícil, principalmente, por ser um caso em que não havia testemunhas presenciais, e ressaltou mais uma vez o trabalho da perícia durante toda a investigação.

“Agora é cumprir a pena”, disse o promotor que considerou “adequada e compatível com o crime praticado”.

Reconhecimento
“O brilho da noite é do Dr. Cembranelli, e a defesa já recorreu”. Com estas palavras, registradas em uma nota oficial, a defesa resumiu sua posição após a decisão do Tribunal do Júri, que condenou Alexandre Nardoni a 31 anos, 1 mês e dez dias de prisão e Anna Carolina Jatobá a 26 anos e oito meses pelo assassinato de Isabella Nardoni, morta aos 5 anos de idade, ao ser atirada pela janela do 6º andar do apartamento onde vivia o pai e a madrasta.  A defesa anunciou que vai recorrer da decisão.

O advogado de defesa, Roberto Podval, não concedeu entrevista coletiva aos jornalistas, que se aglomeram na porta do Fórum de Santana, na zona norte de São Paulo.

A decisão foi tomada pelos jurados – quatro mulheres e três homens --, que entenderam que os réus cometeram homicídio triplamente qualificado, por usarem meio cruel (asfixia), dificultarem a defesa da vítima, que foi arremessada pela janela inconsciente, e alterarem o local do crime. O julgamento considerou agravante o fato de a menina ter menos de 14 anos de idade. Nardoni também foi condenado por cometer crime contra descendente. Os Nardoni vão cumprir a sentença em regime fechado.

O casal ficou algemado durante a leitura da sentença: Nardoni recebe a pena de forma impassível e Jatobá, chorou. Eles retornarão ao presídio de Tremembé, no interior paulista, onde já estavam havia quase dois anos. Esse período será abatido do tempo de condenação definido pelo juiz.

O veredicto foi comemorado com coro de pedidos por justiça pela multidão que acompanhou o resultado do julgamento do lado de fora do Fórum de Santana. Alguns manifestantes chegaram a soltar fogos de artifício.

O julgamento teve início nesta segunda-feira (22), quando o casal se encontrou pela primeira vez desde maio de 2008. Em seguida, foram tomados os depoimentos das testemunhas. Os réus foram os últimos a serem ouvidos. A última fase foi a dos debates, quando defesa e acusação apresentaram seus argumentos. 

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Último dia
A derradeira sessão do julgamento começou com os argumentos do promotor Francisco Cembranelli. Ele afirmou que o casal Nardoni estava no apartamento quando a menina Isabella foi atirada. Segundo ele, a perícia demonstra que "os Nardonis são mentirosos" e não conseguem contestar provas técnicas.

Também de acordo com o promotor, os depoimentos das testemunhas indicam que a madrasta tinha "rompantes e descontroles". Cembranelli ainda ironizou a versão da defesa de que uma terceira pessoa teria cometido o crime.

 

Mais tarde, o advogado de defesa do casal Nardoni, Roberto Podval, tentou plantar a dúvida nos jurados, usando o misterioso desaparecimento da britânica Madeleine McCann em 2007 para isentar os dois da culpa pela morte da menina Isabella.

Podval afirmou que, assim como os pais de Madeleine McCann, que foram acusados pelo sumiço da menina em Portugal, pai e madrasta de Isabella não podem ser condenados por um crime do qual se dizem inocentes.

Durante o tempo destinado à réplica da Promotoria, Cembranelli chamou Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá de mentirosos novamente e rebateu os pontos levantados pela defesa do casal, acusado de matar a menina Isabella Nardoni.

O promotor disse que os réus são "mentirosos" e utilizou seus últimos minutos de palavra para atacar a atitude no casal no dia do crime. Ele usou uma linha do tempo para provar que os Nardoni estavam no apartamento no momento exato da queda de Isabella. E listou, em cerca de meia hora, todas as contradições encontradas por ele desde a "noite trágica".

O advogado Roberto Podval defendeu a absolvição do casal Nardoni em sua tréplica. Podval voltou a dizer que faltam provas que incriminem Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá e destacou informações que acredita serem fundamentais para questionar a tese da acusação.

"Me causou estranheza. Com todo esse sangue encontrado no apartamento, Alexandre foi mostrado carregando Isabella, ela tinha sangue na mão. A pergunta que fiz para a perita [Rosângela Monteiro] foi: 'Encontraram algum sangue na roupa dele ou dela?'. E a resposta foi 'Não'. Não pingou nada. A roupa dele não tinha que ter alguma coisa, um pingo, uma gota de sangue? Ele não merece a dúvida da inocência?"

Podval citou também a falta de exame nas unhas do casal, o que, segundo ele, mostra que não há como dizer quem foi responsável pela esganadura de Isabella.



Os quatro primeiros dias de júri

No primeiro dia do júri, prestou depoimento Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella. Ela chorou por pelo menos três vezes, provocou o choro de ambos os réus e relatou o amor de Alexandre pela filha e o ciúme que a madrasta teria da relação do marido com a menina e com sua ex-mulher.

O segundo dia de júri foi marcado pelas fotos do corpo de Isabella no IML (Instituto Médico Legal), que chocaram muitos dos presentes. Um dos peritos convocados disse que alguém tentou calar os gritos de Isabella, que morreu de asfixia, fruto de uma esganadura, e da queda do prédio. Pouco antes, ela teria sido atirada com força ao chão, segundo a perícia.

Já o terceiro dia de julgamento finalizou a fase das oitivas das testemunhas, com a desistência da defesa em ouvir os depoimentos que havia convocado. Pela acusação, a perita Rosângela Monteiro, do Instituto de Criminalística, afirmou que marcas na camiseta de Alexandre Nardoni são compatíveis com as de alguém que atirou Isabella pela janela do apartamento. Irônica, ela provocou a reação indignada do réu.

No quarto dia, o mais tenso dia de júri, o casal prestou depoimento e se declarou inocente, chorou, disse que foi achacado pela polícia e questionou diversas provas periciais, inclusive a tela de proteção da janela de onde Isabella foi jogada. A defesa, contudo, admitiu que a chance de absolvição é pequena. Sem acareação, Ana Oliveira, mãe de Isabella, foi liberada após passar mal e ser examinada por um psiquiatra.
 




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