Comoção marca enterro de garoto morto por bala perdida no Rio
Emocionados, professores, vizinhos, amigos e parentes compareceram ao enterro de Wesley Guilber Rodrigues de Andrade, 11, neste sábado (17) no cemitério de Irajá, zona norte do Rio de janeiro.
O garoto foi atingido por uma bala perdida durante uma troca de tiros entre criminosos e policiais militares na manhã de sexta-feira (16) nas favelas de Costa Barros, zona norte. Além da criança, cinco homens morreram.
“Tudo foi embora com o Wesley, senhor. Abençoe! Leve esse anjo, senhor, para iluminar aquela escola. Ele era um filho para mim. Me perdoa pai e me perdoa mãe”, desabafou a diretora.
Pai de Wesley critica governador do RJ
“Essa diretora é admirada por todos na escola, por seu trabalho de profunda humanidade. Estamos ali por causa dela. A comunidade adora ela. Nunca pensei que fosse vivenciar isso”, comenta Ângela Batista, professora na escola a mais de 30 anos.
Ângela conta que as crianças de 4 e 5 anos de sua turma, ao ouvirem os tiros, correram para o corredor e se abaixaram no chão automaticamente.
“Os policiais estavam na janela, mandando tiro. Todo mundo correu e se abaixou. O menino da minha sala se machucou e pisaram muito nele”, relata uma estudante da escola de 10 anos.
Algumas testemunhas relataram que Wesley chegou a correr em direção ao corredor mesmo depois de ser baleado no peito, mas não resistiu.
Na queda, a perna ficou ferida, o que fez com que alguns confundissem o local onde recebeu o tiro. O garoto foi socorrido pela diretora, alguns professores e funcionários, e levado, em um carro particular, para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes.
“A ficha ainda não caiu”, comenta Felipe Ribeiro, professor do ensino fundamental. “Na hora que vi o menino ensanguentado, minha reação foi correr para chamar o corpo de bombeiros. Liguei quatro vezes, mas eles não chegaram”.
Aviso
Segundo a vizinha Rejane Célia, a mãe de Wesley, a faxineira Branca Rodrigues, estava trabalhando fora de casa no momento em que o filho foi baleado. Quem recebeu a notícia foi Isaurélia Rogrigues, tia do menino, que partiu imediatamente para o hospital.
Rejane, mãe de duas crianças que estudam no Ciep, ligou para o trabalho de Branca, para avisá-la que seu filho estava ferido no hospital.
“Quando ouvi os tiros, fui correndo para a escola, buscar meus filhos. Eles estavam apavorados, dizendo que não querem mais estudar nesse colégio. Não sei como vai ser agora. Se eu pudesse botar em outra escola, eu botava. Ali é o terror”, conta Rejane.
Professores e funcionários relataram que, há exatamente um ano, uma festa junina realizada na escola foi interrompida por um tiroteio, e que policiais atiravam para dentro do estabelecimento de ensino.
Um dossiê do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), entregue ao Ministério Público em 2006, já apontava a situação de risco de 200 escolas municipais e estaduais.
“Isso não foi um acidente, poderia ter sido evitado. A secretaria de segurança tem responsabilidade, porque deveria informar às escolas quando essas ações ocorrem, para que as aulas fossem suspensas. As secretarias municipais e estaduais de educação deveriam também promover ações de proteção, suspendendo as aulas quando ocorressem esses conflitos. Mas, a secretaria lava as mãos e acaba fazendo pressão velada para as escolas não fecharem”, alerta Vera Nepomuceno, coordenadora geral do Sepe, que estava presente no enterro.
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