Topo

Acordo com sindicato para evitar tripulação sobrecarregada gerou atrasos na Gol

Homem dorme em aeroporto no Rio; fim das férias causou atrasos em voos da Gol - Fernando Quevedo / Agência O Globo
Homem dorme em aeroporto no Rio; fim das férias causou atrasos em voos da Gol Imagem: Fernando Quevedo / Agência O Globo

Fabiana Uchinaka<br> Do UOL Notícias<br> Em São Paulo

02/08/2010 14h19Atualizada em 02/08/2010 15h31

Os atrasos registrados em mais da metade dos voos da Gol nesta segunda-feira (2) não são reflexo de uma greve, mas de um acordo feito entre a companhia e o Sindicato Nacional dos Aeronautas para que os tripulantes não fiquem sobrecarregados e excedam o limite de horas de voos previsto por lei. A informação foi dada pelo presidente do sindicato, comandante Gelson Fochesato.

Cancelamento e atrasos de voos causam tumulto no aeroporto Galeão, no Rio

Centenas de passageiros protestam contra problemas nos voos da Gol desde o início da madrugada desta segunda-feira no aeroporto internacional Tom Jobim (Galeão), na Ilha do Governador, zona norte do Rio. Segundo a Infraero, as pessoas reclamam da falta de informação e da lentidão de atendimento da empresa no balcão de check-in.

A Infraero, que administra os aeroportos do país, informou que a Gol teve 335 voos domésticos atrasados e 77 cancelados entre 0h e 18h desta segunda-feira. Os atrasos representam quase 54% dos voos domésticos que estavam previstos para o horário. 

Em nota, a companhia disse que os voos da empresa vêm sofrendo cancelamentos e atrasos além do normal desde a sexta-feira por conta do intenso tráfego aéreo causado pelo fim das férias escolares e pelos remanejamentos de voos do Aeroporto de Congonhas, que fecha as 23h, para o Aeroporto de Guarulhos.

“A situação, desenvolvida num fim de semana de pico de movimento, com retorno de férias escolares, ocorreu num momento em que a empresa finalizava a implementação de um novo sistema de processamento das escalas dos pilotos e comissários”, completou a companhia. “Algumas tripulações atingiram o limite de horas de jornada de trabalho previsto na regulamentação da profissão e foram impossibilitadas de seguir viagem, gerando um efeito em cadeia”.

Fochesato confirma a mudança na escala. Segundo ele, depois de três reuniões com a categoria, a Gol concordou no dia 26 de julho em diminuir o número de voos para que uma escala menos sobrecarregada já começasse a valer a partir de agosto.

“Em julho, acontecem muitos voos extras. As companhias fretam aviões para agências de viagens, há voos de férias. E eles não levam em consideração a capacidade da tripulação. Em agosto, isso deve melhorar, mas o acordo é de que agora os voos extras só serão aceitos dentro da capacidade”, explicou.

Relembre: Em Brasília, passageiros aprovam novo juizado em aeroportos

O uso excessivo da tripulação, de acordo com ele, contraria as normas da aviação. “De fevereiro a julho, tivemos 800 denúncias de funcionários por excesso de jornada e falta de folga. Todas as companhias estão trabalhando fora do permitido. Os funcionários estão sobrecarregados, estressados e cansados”, disse.

De acordo com a Lei do Aeronauta (Lei 7.183/84), por questões de segurança operacional, um tripulante de avião a jato não pode exceder 85 horas de voo por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas por ano.

Fochesato afirmou ainda que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) é responsável por liberar os comissários formados para contratação, mas isso demora a acontecer.

“A Anac, em vez de fiscalizar e ouvir as demandas dos sindicatos, fica liberando voos e demorando na liberação de novos comissários. A aviação brasileira está crescento muito e isso é bom, porque a sociedade pode viajar mais e por menos. Mas a formação da tripulação não acompanha e os tripulantes estão no limite, sobrecarregados”, explicou.

Segundo o sindicato, até o momento, apenas a Gol aceitou negociar a reestruturação da escala. O próximo passo é negociar com a TAM. Tripulantes extras foram chamados para normalizar a situação.

A TAM também registrou atrasos e cancelamentos, mas em menor quantidade. Foram 44 atrasos e nove cancelamentos em voos domésticos. Avianca, Azul e Webjet tiveram juntas 37 atrasos e cinco cancelamentos. Ao todo, 454 voos domésticos e 23 voos internacionais sofreram atrasos e 103 foram cancelados no país.

A Anac informou que está acompanhando a normalização da situação e fiscalizando o cumprimento da lei do aeronauta.

Segundo a agência, caso o passageiro não seja atendido pela companhia aérea, ele pode registrar queixa pelo 0800 725 4445 ou pelo site: www.anac.gov.br/faleanac.