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Rios Solimões e Amazonas têm maior seca da história

Barcos no leito seco do rio Negro, a 120 km de Manaus; VEJA MAIS FOTOS - Euzivaldo Queiroz/AFP
Barcos no leito seco do rio Negro, a 120 km de Manaus; VEJA MAIS FOTOS Imagem: Euzivaldo Queiroz/AFP

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

22/10/2010 17h53

Em razão da estiagem na região Amazônica, os rios Solimões e Amazonas registraram, nos últimos dias, os menores níveis desde que as medições começaram a ser feitas, segundo o boletim semanal do Serviço Geológico do Brasil em Manaus (CPRM), divulgado nesta sexta-feira (22). O rio Negro deve bater o recorde de vazante nesse domingo. A seca no Amazonas atinge pelo menos 62 mil famílias e obrigou 38 municípios a decretar situação de emergência.

Segundo a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), o rio Solimões alcançou o menor nível da história nos três principais pontos de medição: Tabatinga, na divisa com a Colômbia; Itapeua, ponto situado no centro do Estado, no curso médio do rio; e Careiro, a 24 km a leste de Manaus.

Em Itapeua e Careiro, os recordes foram alcançados na terça (19) e na quarta-feira (20), respectivamente, quando os níveis chegaram a 1,32 m e 1,68 m. O recorde anterior em Itapeua --onde as medições são feitas desde 1970-- foi de 2,30, em 1998, e, em Careiro --com medições desde 1970-- de 2,14 m, em 1997. Já em Tabatinga o menor nível foi observado no dia 11 de outubro, quando o nível chegou a -86 cm. O local mede o nível desde 1982.

No rio Amazonas --formado a partir do encontro dos rios Negro e Solimões--, o recorde foi quebrado também na quarta-feira (20) no principal ponto de medição, que fica em Parintins (a 315 km a leste de Manaus). O nível do rio chegou a -162 cm, superando em 10 cm a marca anterior, registrada em 1997. As medições são feitas em Parintins desde 1970.

Tanto no rio Solimões, quanto no Amazonas, o nível do rio continuará diminuindo nos próximos dias, de acordo com a previsão da CPRM.

O rio Negro também deve alcançar o menor nível até domingo (24). Nesta sexta, o rio mediu 13,80 m em Manaus, apenas 16 cm a mais do que o recorde histórico, registrado em 1963 (13,64 m). As medições são realizadas na capital amazonense desde 1903.

Segundo Daniel de Oliveira, gerente de hidrologia da CRPM, de ontem para hoje, o nível diminuiu 13 cm. Na primeira metade da semana, a redução ficou entre 16 cm e 20 cm entre um dia e outro.

 “O maior impacto da seca é na navegação. Há lugares em que as balsas não chegam, e os moradores ficam sem combustível para gerar luz. O preço dos alimentos sobe porque, com a seca, as embarcações precisam fazer mais curvas, o que eleva o tempo de viagem”, afirma Oliveira.

62 mil famílias atingidas

Dos 62 municípios do Amazonas, 38 (mais de 60% do total) decretaram situação de emergência em razão da estiagem que atinge o Estado. Cerca de 62 mil famílias estão isoladas ou tiveram suas atividades de subsistência prejudicadas por conta da seca, segundo dados da Defesa Civil Estadual.

Hoje, o Ministério da Integração Nacional autorizou o repasse de R$ 23 milhões para a adoção de medidas de socorro no Amazonas. Os recursos serão empregados na aquisição de cestas básicas, filtros purificadores, motobomba, equipamentos para fornecimento de água potável e barracas, além da locação de carros-pipa e caminhões.

A Força Aérea Brasileira e a Defesa Civil já distribuíram 600 toneladas de kits com cestas básicas, produtos de higiene e medicamentos para 38 mil famílias. A distribuição foi feita a partir de três pólos, localizados em Tabatinga, que fica no Alto Solimões, na divisa com a Colômbia; Tefé, no Médio Solimões, região central do Estado; e Cruzeiro do Sul, localizado no Acre, na divisa com o Amazonas.

Foram atendidas 10 mil famílias nos municípios de Tabatinga, Atalaia do Norte, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Iça e  Tonantins. Outras 12 mil famílias receberam ajuda em Tefé, Alvarães, Coari, Fonte Boa, Jutaí, Uarini e Juruá. Na região de Cruzeiro do Sul, foram atendidas 5.200 famílias nos municípios de Boca do Acre, Envira, Guajará, Ipixuna e Itamarati, todas na calha do rio Juruá.

A Defesa Civil e a Força Aérea já deram início à segunda fase de distribuição de ajuda humanitária. O foco agora serão 22 mil famílias que residem em 17 municípios às margens do curso Médio e Baixo Solimões, rio Madeira e no Baixo Amazonas, incluindo a região de Manaus.

Previsão climática

Segundo o meteorologista Gustavo Ribeiro, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a elevação do nível dos rios depende da quantidade de chuva nos próximos meses e não sofre influência das condições do tempo nos próximos dias. “A previsão do tempo nos próximos dias não interfere nos rios, por mais que chova muito. Para que modifique a situação, é preciso que chova nos próximos meses.”

O prognóstico do Sipam para os próximos meses indica que o volume de chuvas tende a aumentar do final de outubro até dezembro, sobretudo na faixa que vai do Noroeste da Amazônia, no Alto Rio Negro, até o Mato Grosso, passando pelas regiões mais afetadas pela seca atualmente.

“Terras caídas”

A estiagem favorece ainda o fenômeno das “terras caídas”, que provocam deslizamentos de terra nas margens dos rios. Foram registrados, nas últimas duas semanas, ao menos quatro deslizes em São Paulo de Olivença, Manaus Iranduba e Manacapuru.

Em Manacapuru, os bombeiros localizaram, na manhã de ontem, o corpo Beatriz da Silva Leite, 10, vítima do deslizamento, que ocorreu na madrugada da última terça. O corpo do bebê Anderson da Silva Leite, 1, irmão de Beatriz, já havia sido encontrado um dia antes. As equipes procuram ainda Silvana Leite, 5, irmã das outras crianças já localizadas. Cerca de 70 casas foram atingidas na comunidade de Terra Preta.

Os bombeiros também procuram Silvio Barbosa, 31, e Pedro Paulo da Silva, 63, que trabalhavam no Porto Chibatão, onde uma porção de terra deslizou na noite do último domingo e afundou 60 contêineres e 40 baús de carga. Ainda não há uma estimativa do prejuízo. No local, estava sendo feita uma obra de terraplanagem.

O geólogo Antonio Gilmar Honorato, do Serviço Geológico Nacional em Manaus, afirmou que há uma espécie de “caminho d’água” que passa embaixo da porção de terra que deslizou. “É possível que esse caminho d’água tenha causado uma ruptura, e o muro de contenção não tenha resistido à carga”, diz. De acordo com ele, não é possível dizer se havia alguma irregularidade na obra de terraplanagem.

Até o momento, a Defesa Civil não divulgou as causas do deslizamento e os impactos ambientais causados na região. A Polícia Civil iniciará uma perícia nos próximos dias. Também não há uma estimativa do prejuízo causado.

O porto Chibatão é o maior complexo portuário privado do Amazonas e está localizado à margem esquerda do rio Negro, com uma área de 217 mil metros quadrados. Os equipamentos que afundaram carregavam insumos para o comércio e polo industrial de Manaus. De acordo com os bombeiros, não houve derramamento de produtos químicos no rio.

Na terça-feira, um outro deslizamento atingiu o município de Iranduba (a 22 km de Manaus), que fica na margem direita do rio Negro. Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve vítimas e danos materiais. Há duas semanas, em São Paulo de Olivença, 25 casas foram totalmente destruídas e 39 ficaram danificadas por deslizamentos de terra provocados pelo baixo nível do rio Solimões.