Imagens do museu particular de Edemar revoltam credores do Banco Santos
Até mesmo pequenos credores do Banco Santos observaram com indignação as imagens do interior da casa da qual o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira foi despejado no último dia 20. Divulgadas pelo UOL e pela Folha de S.Paulo nesta semana, as fotografias das inúmeras e bem cotadas obras de arte chamaram a atenção dos que esperam há anos para reaver quantias congeladas.
As fotos mostram que o dono do banco que deu calote em mais de dois mil credores vivia em uma espécie de museu, com esculturas caríssimas pelos jardins e até pelo heliporto do imóvel, localizado no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo. Edemar foi condenado acusado de aplicar o dinheiro obtido por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e desvio de recursos do banco na compra das obras de arte. O valor da dívida ultrapassa os R$ 2,7 bilhões.
Casa de ex-banqueiro parece museu
Para o engenheiro Alcir Castanho Sávio, parte daquele acervo também lhe pertence. “Dá uma indignação. Ele está há alguns anos enrolando essa pendência na Justiça. Ouvi dizer que ele prometeu voltar à casa. E não duvido. No Brasil, sempre há a possibilidade de recurso do recurso. A lei permite.”
Após 35 anos trabalhando como diretor do Grupo Votorantim, ele se aposentou por volta de 2002 e decidiu aplicar financeiramente a indenização que recebeu, como forma de garantir tranquilidade para o resto de sua vida.
Na ocasião, optou por investir quase meio milhão de reais no Banco Santos. “Meu dinheiro sumiu. Já faz mais de cinco anos que estou aguardando reaver a quantia. Até agora, consegui receber só 30% do total”, afirma ele, que contratou um advogado para brigar por seus direitos.
O engenheiro diz não ser especialista em arte, mas tem muito interesse em saber detalhes das obras expostas nas paredes do ex-banqueiro. “Não quero ver inventário, descobrir quantas são. Quero é saber quanto elas valem, para que a gente receba o que nos devem.”
De toda forma, Sávio se mostra pessimista com as avaliações que devem ser feitas para apontar as cifras do acervo. “Ele (Edemar) não fazia levantamento correto do que comprava. Ele distribuía os bens, entre as empresas, filhos e parentes. Uns dizem que as obras estão todas falsificadas. Outras que ele mandou boa parte para o exterior. A gente nunca sabe como isso vai terminar.”
"Escândalo"
O executivo aposentado Marco Antonio Filippi é outro credor do Banco Santos. Há alguns anos, ele resolveu ignorar a “má fama” do banco no mercado e resolveu investir cerca de R$ 47 mil. “Acabei provando, na pele, que era um mau negócio”, diz hoje.
Ele foi outro que, diante das imagens mostrando o poderio artístico de Edemar, sentiu-se passado para trás. “É um escândalo. Você percebe que um profissional que age de má fé, e dá um prejuízo em todo mundo, continua numa boa. Já se passaram vários anos, e ele segue morando com todos seus luxos”, critica.
Também cliente de um escritório de advocacia que tenta reaver seu dinheiro, ele acha que, de toda forma, o acervo de obras de arte é irrisório para arcar com todas as pendências do banco. “As dívidas são de bilhões. Lá, infelizmente, só estão milhões”, diz ele, que se denomina um “microcredor”.
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Observador fiel das notícias sobre a falência do Santos, ele diz não ter medo de que as obras acabem sendo doadas para um museu público. “Pelo o que eu estou lendo, não existe mais essa possibilidade. Mas seria uma tremenda injustiça. Se há gente que ainda precisa receber, elas [as obras] devem ser leiloadas, sem dúvida”, torce.
Sobre a possibilidade de receber integralmente a verba que depositou no banco, ele é descrente. “Isso não vai [acontecer]. Não tenho esperança. Valeu mais pela experiência. Agora penso melhor antes de aplicar meu dinheiro.”
Os credores do Banco Santos são formados por empresas e pessoas de todos os segmentos. Entre os que aparecem nas listas oficiais, por exemplo, estão a produtora de filmes O2 (R$ 36 mil), a grife Zoomp (R$ 1,1 mil), a agência de publicidade Loducca (R$ 792 mil) e a Editora Abril (R$ 92 mil).
Há ainda credores curiosos, como o Serasa (R$ 7,2 milhões), instituição que analisa crédito, e até o Partido dos Trabalhadores (PT), que tem crédito de R$ 28 mil com o Banco Santos.
Conjunto de "alta qualidade"
Mesmo quem não está esperando recurso algum, no entanto, prestou atenção nas imagens que foram reveladas pelo UOL e pela Folha de S. Paulo nesta semana. “Todo mundo que trabalha com arte viu (o álbum de fotos). Ele [Edemar] não me deve nada, mas tenho muito interesse em ver todas as coisas”, disse Aloisio Cravo, um dos mais respeitados leiloeiros de arte do país. “Somos curiosos.”
Com 21 anos de experiência vendendo quadros e arrematando ofertas, ele afirmou que observou um conjunto de alta qualidade. “Tem ali Amílcar de Castro, Brecheret [Victor]. Aquele sofá dos irmãos Campana é escultura para museu. A impressão é a de que ele tinha muito bom gosto. Não tem coisas frágeis. São obras importantes”, pondera.
Com seu conhecimento, ele afirma que o mercado nacional teria condições de absorver o acervo, uma das formas de tentar quitar os débitos do ex-banqueiro com os credores. “Sem dúvidas, há compradores no Brasil que poderiam adquirir as telas e esculturas. O caminho natural deveria mesmo ser um leilão público.”
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