Topo

Mãe de Eliza Samudio diz temer momento em que terá de "contar a verdade" ao neto

Rayder Bragon

Especial para o UOL Notícias<br>Em Belo Horizonte

04/06/2011 07h00

Um ano após o sumiço da filha, Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, disse em entrevista exclusiva à reportagem do UOL notícias temer a chegada de momento em que será forçada a “contar a verdade” ao neto, que seria fruto de relacionamento entre o goleiro Bruno Souza e Eliza. A criança, cuja concepção se tornou pivô de uma dos casos mais rumorosos de 2010, está crescendo e, segundo a avó, “as perguntas vão vir”.

“Eu tenho pedido a Deus que me dê sabedoria, me dê entendimento e que, na hora em que eu precisar contar sobre a mãe dele, eu consiga. O difícil vai ser contar a participação do pai dele nisso tudo. Porque uma hora ele vai querer saber a história toda. E nessa hora, não tem por que eu não contar a verdade”, disse.

Um processo de reconhecimento de paternidade em relação ao garoto corre na 1ª Vara de Família da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Esse pedido de reconhecimento feito por Eliza Samudio é a razão principal para o início de trama apontada pela Polícia Civil mineira, pelo Ministério Público e pela juíza que cuidou do caso para a suposta morte da garota, cujo mentor teria sido o atleta. Bruno e mais sete pessoas vão a júri popular, ainda sem data definida, acusados pelo sumiço da modelo. 

Sônia Moura reside em Anhanduí, cidade do Estado de Mato Grosso do Sul, e detém a guarda provisória da criança, que também é disputada na Justiça pelo pai de Eliza, Luiz Carlos Samudio.

“Com certeza eu vou ter que contar a ele (que o sumiço da mãe) teve a participação dele (Bruno). Ele pode não ter sujado as mãos, mas ele foi o mandante”, frisou. 

Sônia Moura adiantou que vai contar a história ao menino ‘aos poucos”. “Vai ser um passo após o outro, conforme vier a curiosidade dele sobre o assunto, eu vou me preparando para responder.”, disse.

A mãe de Eliza, no entanto, disse que está preparando o neto para “não carregar ódio no coração em relação ao Bruno”. “Eu não vou criá-lo de modo que ele odeie o pai. Isso depende de um acerto entre ele e o pai dele, no futuro”, afirmou.

Ela disse que formulou uma data para começar a preparar o neto. “A partir do ano que vem, vamos começar a dar a ele um acompanhamento psicológico”, ressaltou.

A mulher disse ainda “rezar” para que o atleta “se arrependa” e encontre “paz de espírito”.

Sônia Moura disse que a criança foi entregue a ela “assustada”, mas atualmente é “feliz e tem uma infância normal, cercada de muito amor”. Segundo acusação da polícia, após o desaparecimento de Eliza Samudio, o garoto, ainda bebê, teria sido entregue a Dayanne de Souza, ex-mulher do goleiro, para que ela desaparecesse com a criança.

Apesar da pouca idade, ela disse ter ficado espantada com a reação dele em um episódio. “Um dia, a minha sogra o levou para passear e perguntou a ele, onde está a mamãe? Ele apontou para o céu e mandou um beijo”, diz a avó. Ainda conforme ela, o garoto também beija o retrato de Eliza Samudio todos os dias.

Sentimento de dor

No dia em que o sumiço da filha completa um ano, a mãe disse estar sofrendo. “O meu sentimento é de muita dor”, disse a mulher em relação aos 12 meses do desaparecimento da modelo.

“A gente tem uma ideia de que, com o passar do tempo, a dor vai ser amenizada, mas isso é totalmente equivocado. A dor fica pior. Ainda mais com a aproximação do dia 10  (de junho, data na qual a polícia afirma que, em 2010, Eliza Samudio foi assassinada)”, revelou.

Segundo Sônia, a falta de um corpo para ser enterrado “dói e destrói por dentro. Isso machuca por demais”. “Não sei se um dia vou saber se ainda existe um corpo, mas ainda resta a mim um fio de esperança de que o corpo dela possa ser achado”, descreveu.

Segundo ela, o garoto faz um ano e quatro meses justamente no dia 10 de junho deste ano. Demonstrando ainda muita mágoa, a mulher ressalta coincidência de datas que, segundo ela, somente vão trazer lembranças tristes à família.

“Foi o presente que eles deram ao meu neto, quando ele estava completando 4 meses (em junho de 2010). O presente que eles deram foi tirar a vida da mãe dele. Não bastou a violência que praticaram contra ele, ainda no útero da mãe, fizeram isso com ele”, disse em referência aos réus que aguardam a definição da data do júri popular.

Ela disse fazer uso de medicamentos e tem acompanhamento psicológico para superar o trauma que lhe ocorreu por conta do caso.

“Eu espero que todos, mesmos os que foram soltos, paguem pelo crime. Todos tiveram, de alguma forma, participação no crime. Eu quero justiça. Tentaram difamar a minha filha de todos os modos, mas, acima de tudo, ela era um ser humano”, avaliou.

Atualmente, o jogador está preso na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Também estão detidos Luiz Henrique Romão, o Macarrão, braço-direito de Bruno; o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado pela polícia de ser o executor de Eliza; e Sérgio Rosa Sales, primo do jogador conhecido como Camelo.

Outro primo do arqueiro, menor de idade, cumpre medida socioeducativa em Minas Gerais por prazo indeterminado – a cada seis meses a sua situação é reavaliada pela Justiça. A pena poderá se estender por até 3 anos. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, esse é o tempo máximo previsto na lei.

Respondem ao processo em liberdade Dayanne de Souza, ex-mulher do goleiro, Fernanda Castro, ex-amante de Bruno; Elenílson Vítor da Silva, ex-administrador do sítio; e Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, amigo do atleta.