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Moradores de Maceió relatam medo de novos vazamentos após Braskem voltar a operar

Aliny Gama e Carlos Madeiro

Especial para UOL Notícias<br>Em Maceió

10/06/2011 15h23

Dezenove dias após o acidente que deixou 152 pessoas intoxicadas em Maceió (AL), a petroquímica Braskem reiniciou nesta quinta-feira (9), após autorização judicial, a produção na unidade Cloro-Soda.

Dez moradores ouvidos pelo UOL Notícias na manhã desta sexta-feira (10) afirmaram não ter sido informados sobre o reinício da produção da fábrica. Eles disseram também sentir muito medo de que outros vazamentos voltem a acontecer.

A Braskem registrou dois acidentes em menos de 48 horas. No primeiro deles, no dia 21 de maio, o rompimento de uma tubulação levou uma nuvem de gás tóxico que intoxicou ao menos 152 pessoas no bairro do Trapiche da Barra.

Dois dias depois, já com a produção paralisada, um novo rompimento de tubulação feriu cinco funcionários que montavam andaimes dentro da empresa. Dois deles ainda seguem internados em São Paulo, um em estado grave.

A empresa teve a produção paralisada por decisão da Justiça Federal do Trabalho, quando conseguiu decisão favorável, na última quarta-feira (08), para retornar os trabalhos. Por conta dos acidentes, o IMA (Instituto de Meio Ambiente de Alagoas) multou a Braskem em R$ 583 mil.

“Ninguém falou nada”

Dona de um mercadinho na praça Pingo D'Água, Deilza dos Santos, 35, afirmou que o medo ainda domina os moradores do bairro que frequentam diariamente o seu estabelecimento. “Moramos em uma bomba. O pessoal todo está com medo, mas não há o que fazer. Não vão tirar nunca a empresa daqui”, disse.

Sueli Mendes, 37, teve o filho de 1 ano e 8 meses intoxicado e internado por conta do vazamento do dia 21 de maio. “Quem trabalha lá diz sempre a gente que lá é tudo remendado. Claro que a gente fica assustado com isso e sabe que pode ocorrer outro acidente”, alegou.

Funcionário do IMA (Instituto do Meio Ambiente) e morador da comunidade atingida pelo gás tóxico, Edmilson Tavares, 47, afirmou que teme um novo acidente, embora reconheça que a empresa fez melhorias após os dois rompimentos de tubulação.

“Eles estão tomando providências, mas o que precisa é que eles treinem as pessoas daqui para que elas saibam o que fazer quando acontece uma coisa dessas. Na verdade, nunca vimos isso acontecer aqui.”

A adolescente Gerliane Mirela, 14, contou que no dia do vazamento de gás desmaiou e foi socorrida desacordada ao hospital. Ela afirmou que toda a família estava temerosa de a fábrica voltar a funcionar. “A gente não sabia que tinha voltado a produzir. Isso vai aumentar o medo com certeza.”

Os dois acidentes da Braskem são alvo de discussão política. Na Câmara de Vereadores de Maceió, uma comissão especial de inquérito foi criada e investiga a forma de produção da empresa.

Na Assembleia Legislativa, o assunto também foi debatido, e o deputado Dudu Albuquerque (PMN) solicitou ao Estado a transferência da fábrica do local onde ela está instalada, na zona sul da capital alagoana. O governo, porém, já descartou essa alternativa.

Detectores automáticos

O diretor de relações institucionais da Braskem, Milton Pradines Filho, explicou que a empresa implementou todas as normas solicitadas pelo SindiPetro e pelo Ministério Público do Trabalho.

Pradines disse que a empresa instalou alarmes e dispositivos adicionais de controle automáticos capazes de detectar falhas no processo de produção e parar a produção da planta industrial antes mesmo de ocorrer algum acidente.

“Antes precisávamos de três fatores para que fosse detectado algum problema. Agora, com a instalação desses novos detectores, com apenas um fator a planta já é automaticamente paralisada”, afirmou. A Braskem também capacitou uma equipe de funcionários para operar o novo sistema preventivo caso haja algum acidente.

Pradines informou que as atividades nos setores em que ocorreram os rompimentos de tubulação ainda não foram retomadas. “Estamos retornando a produção gradualmente. A área dos incidentes vai voltar a funcionar daqui a dois dias”.

Ele negou a denúncia da comunidade de que não foi avisada do reinício das atividades da Braskem. "Ontem [quinta-feira] reunimos um grupo de dez moradores dos bairros do Trapiche da Barra e do Pontal da Barra para mostrar o processo de funcionamento da nossa planta industrial e explicamos que estávamos retomando as atividades".

A Braskem informou que na próxima segunda-feira (13) iniciará cinco dias de atividades nas comunidades vizinhas para capacitar os moradores sobre as maneiras de enfrentar situações de risco de emergência.

O SindiPetro (Sindicato Unificado dos Trabalhadores Petroleiros, Petroquímicos, Químicos e Plásticos) em Alagoas aprovou as mudanças implementadas pela Braskem.

O responsável pela Secretaria de Negociações e Assuntos Pessoais Jurídicos do SindiPetro, Cristiano da Silva Rocha, confirmou que todas as exigências foram atendidas. Segundo ele, os trabalhadores estão desempenhando suas funções em um clima mais tranquilo.