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Quinto camponês é morto no Pará na véspera da operação da Força Nacional de Segurança

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

14/06/2011 15h58

O camponês Obede Loyla Souza, 31, foi morto na última quinta-feira (9) no acampamento Esperança, em Pacajá (PA), segundo informações da Polícia Civil. É o sexto trabalhador rural morto na região Norte em menos de um mês, o quinto no sudeste paraense. O crime aconteceu um dia antes do início da operação “Defesa da Vida”, realizada pela Força Nacional de Segurança, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Ibama e Exército para conter a criminalidade na região.

Souza foi morto a bala a cerca de 800 metros de seu barraco, em uma área de mata fechada. Moradores do acampamento encontraram o corpo no sábado e avisaram a polícia. Uma equipe da Força Nacional conduziu o corpo para o Instituto Médico Legal (IML) de Belém para análise.

As investigações estão sendo feitas pela delegacia de Pacajás e pela divisão de homicídios de Belém. Uma equipe da Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) chegou hoje à região para auxiliar nas investigações.

A Polícia Civil e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que possui uma base na região, divergem sobre as hipóteses do crime. Segundo a polícia, moradores do acampamento relataram que a vítima tinha desavenças com outros trabalhadores rurais.

Já a CPT diz que vizinhos de Souza relataram que a vítima teve, entre janeiro e fevereiro, uma discussão séria com o principal representante dos madeireiros que atuam ilegalmente na área da fazenda ocupada pelos sem-terra. Segundo a Pastoral, os madeireiros removiam castanheiras, o que é proibido.

A entidade afirma ainda que os vizinhos disseram ter visto uma caminhonete preta, com quatro homens, entrando no acampamento no dia da morte do camponês. Ainda segundo a Pastoral, Francisco Evaristo, presidente do Assentamento Barrageira e tesoureiro da Casa Familiar Rural de Tucuruí, discutiu com o mesmo grupo de madeireiros e vem recebendo constantes ameaças de morte desde então.

Onda de mortes

Seis camponeses foram mortos desde o final de maio na região Norte, cinco deles no sudeste paraense. A última vítima antes de Souza foi Marcos Gomes da Silva, 33, natural do Maranhão, assassinado em Eldorado dos Carajás no dia 1º. As investigações apontaram que a morte não foi motivada por questões agrárias. Silva era foragido da Justiça e usava uma identidade falsa.

Três mortes ocorreram em Nova Ipixuna, também no sudeste paraense: o casal de castanheiros José Cláudio Ribeiro da Silva, 52, e Maria do Espírito Santo da Silva, 50, ativistas que denunciavam a ação ilegal de madeireiros, foi executado no último dia 24; cinco dias depois, foi encontrado o corpo de Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal.

No dia 27, a vítima foi Adelino Ramos, o Dinho, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO). Dinho foi um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara --ocorrido em agosto de 1995, no qual pelo menos 12 pessoas morreram nas mãos de pistoleiros e PMs-- e também denunciava a atuação de madeireiros.

Veja onde os camponeses foram mortos