Em Salvador, Marcos Valério se recusa a prestar depoimento e é encaminhado a prisão
Preso na manhã desta quarta-feira (2) em Belo Horizonte, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, pivô do escândalo do mensalão, se recusou a prestar depoimento à Polícia Civil de Salvador. “Só falo em juízo”, disse. Valério desembarcou em Salvador às 16h20, acompanhado por outras três pessoas que também foram detidas: Ramon Hollerbach, Francisco Marcos Castilho Santos e Margareth Maria de Queiroz Freitas --ex-sócios das agências de publicidade de Valério.
Valério foi preso por suspeita de grilagem de terra na região oeste do Estado, durante uma operação deflagrada pela Polícia Civil da Bahia.
Poucos minutos depois de descer de um avião fretado no aeroporto internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, Marcos Valério foi encaminhado para o COE (Coordenadoria de Operações Especiais) da Polícia Civil, que fica no próprio terminal. O publicitário e os outros três presos não tiveram nenhum contato com os passageiros que estavam no aeroporto porque o COE fica em uma área isolada.
Indagado pelos delegados Edenir Macêdo e Carmen Dolores, o publicitário usou da mesma prerrogativa das outras vezes em que esteve preso. Após se recusar a falar, Marcos Valério foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) e, em seguida, para o prédio da Polinter, no centro de Salvador, onde ficará à disposição da Justiça.
Por causa da falta de estrutura e superlotação das delegacias, Marcos Valério não foi transferido para Barreiras, a maior cidade da região oeste, onde se concentra grande parte das investigações. O publicitário deverá ficar pelo menos o final de semana detido, já que o pedido de habeas corpus somente deverá ser impetrado por seu advogado na próxima segunda-feira (5). Margareth Freitas também se recusou a falar, de acordo com a Polícia Civil.
Prisão
A prisão de Marcos Valério fez parte de operação intitulada "Terra do Nunca", deflagrada nesta sexta-feira (2) pela Polícia Civil baiana. Ao todo, 23 mandados de prisão e busca e apreensão foram expedidos pela Justiça da Bahia e foram cumpridos também em outros Estados, além de Minas Gerais.
Valério é acusado de ter se beneficiado de esquema de falsificação de documentos públicos, criando matrículas falsas para grilar terras ou constituir documentos de imóveis inexistentes para servirem como garantia de dívidas de suas empresas.
A suposta fraude foi descoberta em 2005, de acordo com o MPE, que acusa advogados e oficiais de cartórios de registros de imóveis e de tabelionato de notas na falsificação de documentos públicos de participação no esquema.
“Seriam, de uma forma sintética, obtendo escrituras e matrículas de imóveis muitas vezes inexistentes para garantir empréstimos e execuções fiscais ou propriamente privadas”, disse o promotor Carlos André Milton Pereira. Segundo a polícia, os inquéritos que tramitam na Bahia apontam o envolvimento dos suspeitos em falsificação de documento público, falsidade ideológica, corrupção passiva e corrupção ativa.
“Os cartórios adulteravam os documentos, vendiam a escritura pública, criavam áreas fictícias ou mudavam localizações e tamanhos dos terrenos em São Desidério [cidade localizada a 869 km de Salvador]”, disse o delegado Carlos Ferro, responsável pelo caso.
O delegado informou ainda que Marcos Valério começou a ser investigado na Bahia no ano passado, depois que a Procuradoria da Fazenda Nacional de Minas Gerais solicitou informações sobre cinco propriedades relacionadas pelo publicitário como garantia de um recurso contra a execução de uma dívida de R$ 158 mil com a Receita Federal. “Fomos investigar e observamos que as fazendas apontadas por Marcos Valério, que somavam 17,1 mil hectares, só existiam no papel.”
Outro lado
O advogado de Marcos Valério afirmou ao UOL Notícias que a prisão do seu cliente é “ilegal”. “A prisão não foi nem abusiva. Ela foi ilegal. Não tenho a menor dúvida de que esta prisão foi desnecessária e ilegal. Essas pessoas têm endereço certo, podem ser intimadas a prestar declarações a qualquer hora que a Justiça desejar. Não havia nenhuma necessidade da prisão”, disse Marcelo Leonardo.
O advogado disse que está se inteirando ainda do processo, ao qual afirmou ter tido acesso apenas na tarde desta sexta-feira. “Nós estamos tendo acesso a ele agora. Ele é muito longo, porque envolve inúmeras pessoas. Não é apenas o grupo de Belo Horizonte. Tem lá na cidade (da Bahia) outras sérias acusações que não têm nada a ver diretamente com as pessoas aqui de Belo Horizonte”, afirmou.
Ainda segundo Leonardo, esse caso que envolve Valério será acompanhado por ele e por sua equipe. “Já tem até um advogado lá na comarca da Bahia", disse.
*Com informações de Rayder Bragon, em Belo Horizonte
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