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MP investiga policiais e funerária envolvidos em esquema de "sequestro" de corpos

Aliny Gama

Do UOL Notícias, em Maceió

27/12/2011 06h01

O Ministério Público Estadual e a Polícia Civil de Pernambuco estão investigando um esquema irregular de remoção de corpos envolvendo policiais e uma funerária. A fraude ocorreria em Garanhuns (PE), a 235 km de Recife.

Segundo a investigação, policiais civis receberiam propina para que a funerária Areias recolhesse os corpos de vítimas de assassinatos e acidentes antes da chegada das autoridades ao local. Assim, eles “sequestravam” os corpos e cobravam valores exorbitantes às famílias pelo serviço prestado sem autorização.

As investigações apontam que os policiais cobrariam até R$ 1.000 para indicar o local onde estaria o corpo. O valor, por sua vez, era acrescido nas despesas funerárias pagas pelas famílias dos mortos.

Segundo o MP, para cobrir o valor da propina sem prejuízo, a funerária superfaturava os valores dos custos para traslado, caixão e sepultamento. O MP afirmou ainda que os valores dos serviços chegavam a custar o dobro do praticado pelo mercado.

“Toda vez que havia crime, a funerária seria acionada e recolheria o corpo, fazia todo o procedimento, independente de autorização da família. Segundo denúncias feitas aqui no MP, alguém estaria sendo beneficiado”, disse o promotor Itapoá Vasconcelos, ressaltando que as investigações iniciais apontaram que existiam policiais envolvidos no esquema.

“Remeti o inquérito à Polícia Civil e solicitei à Secretaria de Defesa Social que designe um delegado especial para investigar o caso, por conta da transferência do delegado regional [que foi para outro município dois dias após a instauração do inquérito]”, afirmou o promotor.

O esquema

Segundo as denúncias, a fraude começava com o recolhimento do corpo, que era levado para o Instituto Médico Legal de Caruaru (105 km de Garanhuns), pela Funerária e Velório Areias sem autorização da família. Garanhuns não possui IML e as necropsias são realizadas em Caruaru.

Segundo familiares de mortos, a funerária trasladava os corpos sem autorização e depois cobrava o dobro pela viagem. Como o serviço funerário já tinha sido iniciado pela funerária, os parentes ficavam sem alternativas e eram obrigados a pagar os valores superfaturados.

O MP informou que, além do superfaturamento no traslado, o preço do caixão e demais serviços funerários eram exorbitantes: o serviço custava cerca de R$ 3.000, enquanto outras casas funerárias cobravam pouco mais de R$ 1.000.

Uma das vítimas da fraude, que pediu para não ser identificada, contou ao UOL Notícias que, quando soube que o filho teria sido assassinado e chegou ao local o crime, o corpo já tinha sido recolhido pela funerária e levado para necropsia em Caruaru.

“Sem ninguém autorizar, a funerária recolheu o corpo. Quando me informei qual era a casa funerária, fui lá para resolver o enterro. Estava atordoado com o assassinato de meu menino. Lá me senti constrangido a não ter opção de pesquisar preço. Eu podia ter pagado apenas pela transferência do corpo para o IML, mas paguei pelo serviço funerário completo. A dor de perder um filho nos deixa sem cabeça para pensar. Depois eu soube que outras funerárias cobravam até quase metade do valor”, disse a vítima.

A reportagem entrou em contato com a funerária Areias, mas ninguém quis comentar as acusações.