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Moradores de Três Vendas, em Campos (RJ), reclamam de esquecimento e ruas ainda alagadas

Rodrigo Teixeira

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/01/2012 18h05

Cerca de 10 dias após o rompimento de um dique na localidade de Três Vendas, na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), no norte fluminense, que afetou cerca de 4.000 pessoas, a reportagem do UOL voltou a falar com moradores da região que relataram mal cheiro, falta d'água e perigo de doenças no bairro que ainda tem as ruas alagadas.

Para a moradora Adriana Carmo, o processo de esquecimento de Três Vendas pelas autoridades já começou, ela reclamou do mal cheiro e da incredulidade nas obras. “Agora que vocês [jornalistas] foram embora seremos esquecidos. Ninguém fala mais de chuva, foi uma luta para a Defesa Civil tirar os animais que estavam mortos, parece que estavam fazendo um favor, quero ver se vão consertar o dique. Hoje começaram a limpeza, deram detergente, água sanitária, mas só temos água para beber. Pedimos caminhão pipa para encher a caixa e nada até agora. Três Vendas está uma podrice só”, diz a moradora que afirma ainda ter um futuro “incerto” e quase sem esperanças de melhora.

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Clara Guimarães, comerciante, afirma que as coisas estão horríveis em Três Vendas. “As ruas daqui estão sujas,  falta água, ontem o caminhão pipa esteve aqui, e só encheu uma piscina que improvisamos para servir de caixa d’água até a metade. Minha água é de poço, não posso usar até as chuvas pararem. Tem lixo para todo lado. A prefeita [Rosinha Garotinho - PR-RJ] esteve aqui no primeiro dia e depois não apareceu mais”, comentou a moradora.

Clara diz que ainda não tomou as vacinas oferecidas pelo hospital de campanha e que para conseguir um remédio no posto que montaram é uma “dificuldade”. A moradora reclama ainda que recebeu apenas uma cesta básica e não tem previsão de quando irá receber outra. “Aqui tem gente desempregada, levam umas quentinhas para o povo que não tem fogão, mas sempre falta, outra preocupação é a escola, não falaram nada, se vão transferir as crianças e para onde”, reclama a comerciante.

 

Segundo o subsecretário de Defesa Civil de Campos, major Edson Pessanha, os moradores da localidade de Três vendas poderão voltar a suas casas a partir desta quarta-feira (18). A Defesa Civil municipal afirma que a região está assistida e que problemas pontuais podem ocorrer.  Sobre a vacinação, afirmou que quem desejar ser vacinado, pode procurar o hospital de campanha instalado no local. Pessanha afirma que materiais de higiene, água e alimentação são distribuídos de acordo com a necessidade de cada família, assim com os caminhões pipa, que com a limpeza das ruas, poderão alcançar toda a localidade.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, cerca 500 doses de vacinas foram disponibilizadas aos moradores do distrito de Três Vendas. De acordo com a secretaria, no hospital de campanha, há um médico, um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem de plantão diariamente. Três ambulâncias também permanecem no local.

Localização do dique rompido em Campos

  • Arte UOL

Sobre as aulas, a Secretaria de Educação informou que o calendário escolar será respeitado e, caso a escola da localidade não esteja em condições de receber os alunos, eles serão comunicados e realocados para unidades próximas.

Água começa a ser bombeada

De acordo com a Defesa Civil municipal, as águas do rio Muriaé que vazaram após o rompimento do dique não consegue retornar para o leito normal devido a localização da área alagada. “O nível de Três Vendas é mais baixo que o leito do rio, o que não escoou até agora, será bombeado para o Muriaé”, explica o major Edson Pessanha.

A Prefeitura de Campos começou o bombeamento na manhã desta segunda-feira (16). Cerca de cem homens estão trabalhando no local para realizar o trabalho de lavagem das ruas. “Faremos a retirada da lama, das carcaças de animais mortos e lixo”, disse Pessanha, o subsecretário afirma também que a população receberá kits de desinfecção, para a limpeza no interior de suas casas.

Entrada em casa só com autorização da Defesa Civil

A Prefeitura de Campos alertou os desabrigados e desalojados pelas cheias dos rios Paraíba do Sul e Muriaé a não retornarem às suas casas sem a autorização da Defesa Civil. O perigo de contaminação pelas águas é ainda maior neste período pós-cheia.

A assistência é prestada às famílias que estão em abrigos ou nas lajes, mas, neste domingo (15), em Três Vendas, várias famílias retornavam à localidade, querendo efetuar a limpeza das casas. “As pessoas não devem sair dos abrigos ou limpar as casas sem a devida orientação. Para eliminar, por exemplo, a urina do rato, que transmite a leptospirose, é preciso usar o produto adequado, caso contrário não se consegue esterilizar o local. Faremos o retorno assistido dessas famílias às suas casas”, afirmou o secretário de Defesa Civil, Henrique Oliveira.

Estado

Segundo a Defesa Civil do Estado do Rio, a situação das cidades mais atingidas pelas chuvas, como Cardoso Moreira, Campos dos Goytacazes e Sapucaia, já está voltando à normalidade. Entretanto, todos os municípios atingidos nas primeiras semanas do ano permanecem sendo monitorados para o caso de novos temporais. E a qualquer anormalidade, o Inea, órgão responsável pela previsão pluviométrica, dará o alerta.

Nas demais localidades, exceto Três Vendas, o nível da água deve baixar até o final desta semana, fazendo com que a situação volte à normalidade, já que não há previsão de chuva para os próximos dias. No noroeste fluminense, algumas cidades continuam com suas residências interditadas até que técnicos das defesas civis municipais concluam o trabalho de vistoria.

Em todo o Estado são 12.451 desabrigados e desalojados pelas chuvas, ainda há três pessoas desaparecidas. Ao todo, 24 pessoas morreram desde o início do período chuvoso.